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Outra fascinante viagem de carro pelo planeta

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Texto escrito pelo amigo e jornalista Sandro Gomes!

Em busca da Latitude 70°

Por Sandro Gomes

O que leva um casal a deixar o conforto do lar para sair em mais uma desconhecida e eletrizante volta ao mundo? Justamente isso, o desejo de ver o que há no fim da próxima curva, mais uma vez. Principalmente se o que vier depois da curva for o colorido sem igual da hipnótica Aurora Boreal, talvez o fenômeno mais belo da Terra. Vislumbrar esta miragem é um dos sonhos dos overlanders Roy Rudnick e Michelle Weiss, que já deram um rolezinho por 60 países e dia 17 de agosto partem para mais 900 dias de surpresas na segunda Expedição Mundo por Terra.

Quatro anos após o fim da primeira grande viagem, eles estão de malas prontas novamente. Desta vez de uma forma diferente. Se na primeira volta ao planeta eles encararam temperaturas tórridas de até 50 graus Celcius no deserto do Saara, onde conseguiram a proeza de encalhar duas vezes na areia escaldante sem ter ninguém, sequer um dromedário ou beduíno prá ajudar, agora os viajantes vão testar sua resistência ao frio, percorrendo lugares onde a temperatura cai abaixo dos 50 graus negativos.

Sim, não contentes com a geada e até uma nevezinha que atinge a cidade onde moram, São Bento do Sul, no topo da serra Dona Francisca, Norte catarinense, nos próximos 30 meses eles vão esmiuçar 50 países, a maioria desconhecidos, na maior parte do tempo margeando o Pólo Norte indo até a Latitude 70 graus, até alcançar a região de Oymyacon, chamada de Pólo do Frio. O lugar fica muito a frente da já congelada e inóspita Sibéria, exílio dos condenados da Rússia. O que teriam feito estes meninos para imputar pena tão severa a si próprios?

Só para se imaginar o lugarzinho por onde nossos intrépidos aventureiros irão viajar, eles precisam chegar nesta região no ápice do inverno, para encontrar os rios congelados e poder rodar sobre eles a bordo do velho Lobo, um off road 4×4 de marca inglesa Land Rover, que já não é mais o mesmo da primeira viagem. Justamente por conta das baixíssimas temperaturas, ele foi completamente reconstruído para conferir um mínimo de isolamento térmico aos ocupantes do veículo.

Apenas este processo rendeu um ano e meio de trabalho. Enquanto a Michelle elaborava roteiro, atenta aos detalhes de alfândega, o Roy passou a maior parte do tempo na Victória Motorhomes, em Araquari, pesquisando e desenvolvendo a nova carcaça do veículo, cuja composição é à base de fibra de vidro, resina e espuma de PVC, que resulta num material conhecido por “composite”, capaz de conferir estrutura altamente resistente e garantir que o frio fique do lado de fora por mais tempo. Mas não o tempo todo.

Pensando nisso, duvida-se que as janelinhas importadas da China (sim, eles vão passar a muralha), com mosquiteiro e black out sejam abertas no percurso. Os banhos quentes tendem a ser do lado de dentro, ao contrário do que acontecia no Paquistão, quando andava-se nu, molhado, para uma breve refrescância no deserto. A vantagem é que desta vez o espaço interno aumentou 50%: passou de quatro para “amplos” seis metros quadrados. Da até para ficar de pé num quadradinho. Imaginem o quão confortável será passar os próximos 900 dias assim, num frio de congelar até os pensamentos, sem ter para onde correr.

Se eles vão se deparar com a Aurora Boreal para compensar tamanho esforço físico, de suportar uma inversão térmica de 100 graus Celcius, isso ainda não é possível saber. Uma coisa é certa. Se ela aparecer, eles estarão preparados para filmá-la em toda a sua essência e plenitude, graças aos equipamentos que já dispõem e o para-motor patrocinado pela Sol Paragliders e EBPM. Literalmente, nesta expedição eles vão voar baixo. Enquanto um pilota o Lobo e vai desbravando gelo e neve, o outro filma tudo lá de cima. Aí é espetáculo em dobro.  Mundo por Terra e pelo Ar!

A primeira banda

Na primeira viagem, que começou em fevereiro de 2007 e prolongou-se até dezembro de 2009, Roy e Michelle acumularam números que poucos terão o privilégio de alcançar na vida inteira. Quiçá em duas ou em todas as reencarnações. Em 1.033 dias de viagem, foram 60 países em cinco continentes, 80 fronteiras, 259 pedágios e 186 visitinhas da polícia, um detalhe irrelevante para quem não tem nada a esconder, mas mesmo assim nem sempre agradável.

No total foram queimados 17 mil litros de diesel para percorrer 160 mil quilômetros a bordo do velho Lobo branco, um off road 4×4 adaptado com um Motorhome. Além do Lobo eles também viajaram de camelo, elefante e até tuk-tuks, um triciclo motorizado que é o rei na balbúrdia predominante no trânsito da Ásia. Depois de subir de nariz quebrado até 5.416 metros de altitude no Himalaia e ver uma menina voltando da escola a bordo de uma bacia numa cidade flutuante do Camboja, já era tempo de voltar.

Em São Bento do Sul, após uma calorosa recepção da família, com direito a pastel de palmito no Rio da Prata, chegou a hora de escrever tudo o que viram nesta fantástica aventura. Apesar das 50 mil fotografias, haja memória. Foram necessários 20 meses de imersão para relatar detalhes inimagináveis deste mundão velho de meu Deus. E hoje o livro “Mundo por Terra – Uma fascinante volta ao mundo de carro”, é um dos maiores sucessos entre os escritores catarinenses, com quase 9 mil livros vendidos. Parte dos recursos para custear a segunda viagem vem da venda do livro.

A despedida e o retorno

“Uma mulher no mundo”, capítulo especial foi escrito pela suavidade da Michelle Francine Weiss, sobre as impressões que absorveu de sua restrita convivência em países muçulmanos, em que as mulheres são proibidas de expressar sua opinião ou mostrar qualquer parte do corpo em público. Mas dentro de casa exibem uma sensualidade que se aproxima à brasileira. Coisas do mundo, captadas com sensibilidade por Michelle, que comemora aniversário dia 16 de agosto, véspera da partida. A festa será no sábado, 16, no Jimmi´s Pub, em São Bento do Sul, com direito a show de “Homem Banda e sua Mina”, leia-se Elvis Pauli e Cibelle Silva.

Quando retornarem da segunda viagem, aí por 2017, os overlanders Roy e Michelle prometem editar um vasto material com os vídeos e fotografias que produzirem. Palestras Brasil afora para incentivar as pessoas a realizarem os seus sonhos também podem acontecer. Porque por mais difícil que isto pareça, sempre valerá à pena. Mas até lá eles terão muito gelo e neve pela frente. Agora uma pergunta: não seria sábio pintar o Lobo de outra cor? Vai que vocês se perdem lá nos arredores do Pólo Norte, nessa tal de Latitude 70 graus. Fica a dica! Ótima viagem!

Fotos do fotógrafo Charles Guerra.

 

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