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Diário de Bordo 13 – Equador

(04/12/2014 a 22/12/2014)

Bem-vindos a metade do mundo…

Por estar situado sobre a linha do equador, esta linha máxima imaginária da terra que divide o mundo em dois hemisférios, o país Equador também leva este nome. Na expressão latim “aequator diei et noctis”, equador se traduz como o igualador do dia e da noite.

É um dos menores países da América do Sul e um dos dois únicos que não fazem fronteira com o Brasil, além do Chile. Mas apesar de ser pequeno, é muito diversificado, tendo floresta amazônica, andes com picos de altitude maior que 6.000 metros, praias no Pacífico e as Ilhas Galápagos. Os equatorianos brincam que podem acordar nas terras baixas da Amazônia, dirigir montanha acima para almoçar sobre os andes e ao fim da tarde, jantar frutos do mar na costa do Pacífico.

Nós entramos no país próximo as praias, mas logo nos dirigimos as montanhas para conhecer Cuenca, a terceira maior cidade do país. Cuenca disputa com Quito (a capital) como a cidade colonial mais bonita do país. Seu nome completo é Santa Ana de los Ríos de Cuenca e não é pra menos a disputa acima citada – seu centro histórico muitíssimo bem preservado e repleto de casarios coloniais foi declarado como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Mas, como nem tudo é perfeito, uma de suas edificações mais importantes, a catedral, possui um grave defeito: ela era para ser mais alta do que é hoje, mas um erro de projeto estrutural impediu que as duas torres pudessem ser construídas.

Existem algumas curiosidades nessa região. Alguém já ouviu falar sobre os chapéus do Panamá? A verdade é que eles não são do Panamá, são do Equador. Por mais de um século os créditos deste chapéu famoso foram dados a um país que nunca os fabricou. O mal entendido teve início em 1800, quando os espanhóis, reconhecendo sua qualidade, começaram a exporta-lo via Panamá. E, durante o século 19, na construção do Canal do Panamá, os trabalhadores passaram a utiliza-lo, já que era leve e muito resistente! Sua comercialização via Panamá começou a fortificar-se e o nome “chapéu do panamá” foi solidificando-se. Sua popularidade explodiu em 1906, quando a imprensa mundial publicou uma foto do então presidente dos EUA, Theodore Roosevelt, utilizando o tal chapéu em uma visita ao Canal do Panamá.

A moda se estendeu tão fortemente que outros grandes nomes o utilizaram como Getúlio Vargas, Tom Jobim, Santos Dumont, Winston Churchill, Michael Jackson, Al Capone, além de estar presente nos filmes de Hollywood “E o Vento Levou” e “Casablanca”. No Rio de Janeiro, o chapéu é um dos símbolos da malandragem.

Originalmente eles eram feitos em Montecristi, costa do Equador, mas hoje são também produzidos em Sígsig e outras cidades da região. Nós estivemos em Sígsig, cidade pequena das redondezas de Cuenca, e ao caminhar pela cidade, nos deparávamos com frequência com mulheres tecendo os chapéus. Isso acontecia o dia todo, não importa se estavam caminhando ou paradas. Nos disse uma senhora tecelã que quando cuidam de seus animais, no campo, também aproveitam para tecer. O processo de fabricação completo deste chapéu passa por muitas mãos, desde a preparação da palha, chamada “toquilha”, até o acabamento final. Há chapéus que são feitos em um dia, mas há os que levam 6 meses, podendo custar, esses, mais de U$ 1.000,00. Quanto mais fina a palha, mais trabalho, mais flexível, mais leve, mais caro.

Com um chapéu do panamá, ou seja um chapéu Montecristi como lembrança, seguimos nossa viagem pelo Equador prevalecendo no altiplano, pois ele possui uma característica muito especial – há ali uma concentração inigualável de vulcões. Há vulcões ativos e inativos e o Chimborazo, com 6.267m de altitude, é a montanha mais alto do Equador. E vejam que interessante: pelo planeta terra não ser uma esfera perfeita, ser mais achatado nos pólos e ovalado na linha do equador, o ponto mais longe do centro da terra não é o cume do Everest, que é a mais alta montanha do mundo, e sim o do Chimborazo. Isso faz também com que seu cume seja o ponto da terra mais próximo ao sol.

Além do Chimborazo, nós tivemos a felicidade de ver os vulcões: Cotopaxi, o vulcão em atividade mais alto do mundo; o Tungurahua, em atividade e que dele, aproveita-se as águas termais na cidade de Baños; Ilinizas, que são dois vulcões gêmeos, o Sul e o Norte; El Altar, vulcão que possui 9 picos e é considerada a montanha mais bonita do Equador; Carihuairazo; Rumiñahui; Sincholagua; Cayambe; Imbabura, Cotacachi e o Fuya Fuya. Além deles, passamos ao lado de outros vulcões, que porém estavam encobertos, Pichincha, Corazón e Chiles. Sem sombra de dúvidas, como dizem os equatorianos, esse caminho que percorremos pelo altiplano é a Avenida dos Vulcões.

O legal, nesta segunda visita ao Equador, foi que nossa experiência com vulcões não foi somente do chão. Nós voamos de parapente tendo a vista o Chimborazo, o Tungurahua e o Cotopaxi, além de alguns outros mais ao longe. O voo mais próximo a um deles foi em Baños, decolando dos Ojos del Vulcan, ou seja, o ponto de onde se monitora a atividade do Vulcão Turungahua que é um dos mais ativos do país. Aliás, em nossa primeira volta ao mundo, quando passamos por Baños, este vulcão estava em forte atividade, mas pelo azar do destino, não tivemos oportunidade de ver sua lava sendo expelida, pois nuvens o fechavam por completo.

Alegria de uns, tristeza de outros. Quando os vulcões entram em atividade, para o turista, que não possui uma casa em suas encostas e que pode contemplar a lava de quilômetros de distância, é uma coisa linda. Mas e para quem mora ali e que pode ter sua casa soterrada por cinzas? Isso é uma constante no Equador, tanto que muitas cidades, a exemplo de Latacunga, tem muito bem treinado um plano de evacuação de emergência. Aliás, todos os moradores da cidade devem o treinar de 3 em 3 meses.

Baños é uma cidade muito atraente e turística. Além do maior atrativo que é o vulcão e as águas termais que dele proveem, há muito turismo-aventura como rafting, ciclismo, canyoning, etc… e esta cidade situa-se, de certa forma, próxima a Amazônia e o caminho que une as montanhas com a floresta é repleto das maiores quedas d’água do país. Um lugar simplesmente privilegiado. A Michelle que diz que tudo que é grande no Equador, é do diabo. Assim é a queda Pailón del Diablo, que se traduz Caldeirão do Diabo. Uma queda d’água lindíssima, muito alta e muito forte. Sua piscina parece um caldeirão mesmo. Pudemos contempla-la tanto de baixo como de cima.

As águas termais de Baños, para se ter uma ideia, intercalávamos entre uma piscina com 46 graus e uma de 10 graus, o que causava uma sensação de formigamento em nossa pele sinalizando que o processo de circulação e oxigenação estava a todo vapor. Muita gente vem se banhar ali, pois diz-se que essa prática tem poderes medicinais.

Baños também nos deu a oportunidade que queríamos ter tido desde o Peru. Experimentar o Cuy, uma espécie de porquinho da índia que é muito comum nos países Peru, Equador e Colômbia. O provamos assado, com arroz e molho de seu próprio fígado. Bom, ver esse bichinho vivo, todo pequenino e fofinho, faz-se difícil imaginar servido em um prato em sua frente. Mas esse é um de nossos dilemas de viagem, experimentar e experimentar. Se o povo local come, também queremos comer. Putz, como vai ser na China??? De experiência culinária não foi só isso. As vezes, por nem sempre entender as explicações dos garçons referente ao menu, temos que arriscar algum prato sem conhecer e isso pode facilmente resultar em bucho de cabra ou sopa de peixe e muitíssima cebola, com acompanhamento de pipoca.

Falando em povo local, esse também é um dos pontos fortes do país. Para encontra-los nós já viramos experts! Procuramos ir aos mercados semanais, aqueles do cotidiano, e ali sim vemos como a vida é, com o colorido das vestimentas das mulheres, ao passo que os homens, em alguns lugares, vão vestidos todo de branco. Imagine num mercado de animais, onde se vende e se compra bois, porcos, cuyes, galinhas, patos e outros, vestido de branco? É muito engraçado de se ver, pois depois da feira, os que compraram algum animal, caminham pela rua com o dito na coleira. Isto acontece principalmente com os porcos. Vimos um senhor enfiar um porquinho debaixo de seu poncho para que parasse de gritar!

Caminhadas por entre lindos lagos também fizeram parte de nossos dias no Equador. Há uma lagoa, chamada Quilotoa, que se situa a 600m abaixo da crista de um vulcão inativo e outra, que se situa exatamente a frente do vulcão Cotacachi. Esta segunda, se chama Laguna Cuicocha.

E para encerrar com chave de ouro este país que fortemente indicamos para uma visita aos que leem este diário, no Reserva Nacional El Angel, já próximos a fronteira com a Colômbia, nós tivemos a oportunidade de dirigir literalmente por entre bilhões de uma espécie de planta que se prolifera nos páramos dos andes, as espeletias ou frailejones, plantas de tronco grosso que podem chegar a 7 metros de altura, de flores amarelas e folhas suculentas aveludadas. Devido as drásticas condições climáticas de onde vivem, com frio, alta irradiação de UV e escassez de água, elas cumprem a função de absorver água da neblina e conserva-la. No dia que passamos por lá fazia muito frio e nitidamente, quando tocávamos nas folhas da planta, percebíamos que conservava calor. Além disso, possuem grandes propriedades medicinais.

É dessa forma que vamos seguindo em frente, cada vez mais ao norte. Agora que já ultrapassamos a linha do equador, cada quilômetro nos leva mais perto de nosso primeiro objetivo dos 70º de latitude norte, o qual vamos atingir no Alasca na metade do próximo ano.

Nos vemos na Colômbia! Até lá…

Itinerário percorrido

Itinerário Equador

Fotos

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