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Diário de Bordo 32 – Coreia do Sul

(05/01/2016 a 16/01/2016)

Um país que não estava em nossos planos.

Durante a organização do despacho marítimo de nosso carro dos EUA para a Rússia, descobrimos que um dos principais portos de entrada (Pacífico) do continente asiático é o porto de Busan, na Coreia do Sul. Mesmo que despachássemos nosso carro diretamente para a Rússia, o container faria um transbordo neste porto coreano. Naquele momento até cogitamos a possibilidade do despacho ser para a Coreia do Sul e de lá pegarmos um ferry que parte semanalmente para Vladivostok, Rússia, porem essa ideia foi logo por água abaixo, pois carros brasileiros não são permitidos trafegar na Coreia do Sul devido ao Brasil não ter assinado certas convenções internacionais de trânsito em Genebra. Então tivemos que voltar para o plano inicial do carro ir direto para a Rússia. Mas toda essa especulação nos despertou um grande interesse na Coreia do Sul e se não poderíamos ir para lá com o carro, decidimos ir de mochila mesmo, no tempo em que o Lobo estaria viajando para a Rússia. E assim acabamos pisando num país que não estava em nossos planos iniciais.

Pousamos em Seul depois de 38 horas de viagem (8 horas de espera no aeroporto de Seattle, 13 horas de voo entre Seattle e Shanghai na China, 15 horas de espera na China e mais duas horas de voo entre Shanghai e Seul na Coreia do Sul). Do aeroporto pegamos um trem para o distrito Mapo-gu, um bairro universitário, que pela grande quantidade de albergues que possui, foi nossa morada durante os 10 dias na cidade.

Todos os dias partíamos de Mapo-gu para descobrir algo na capital coreana, que é a segunda maior área metropolitana do mundo (24 milhões de habitantes) e íamos para qualquer lugar com muita facilidade, graças ao sistema de metrô mais avançado do planeta. São mais de oito milhões de passageiros por dia circulando por debaixo da terra e isso faz com que o trânsito na superfície flua muito bem. Pelo menos nós não vimos congestionamentos. Não possuir um carro é normal para os coreanos, pois eles podem se locomover com eficiência em Seul, região metropolitana e por todo o país através do transporte público. Esse é um exemplo que deveria ser seguido por outros países. Imaginem o quanto colaboraríamos para a redução de poluentes?

A real é que a Coreia do Sul, oficialmente República da Coreia, é um dos países mais desenvolvidos do mundo em muitos aspectos. Dois exemplos que podemos citar são o Aeroporto Internacional Incheon, que foi ranqueado o melhor por nove anos consecutivos (de 2005 a 2013) e a conexão de internet, que é a mais rápida, com uma grande quantidade de usuários de banda larga. Não é para menos que no metrô os coreanos passam o tempo em seus celulares, teclando, jogando, cada um em seu mundinho.

Seul respira comércio. Lojas que estendem suas mercadorias para o meio da rua, mercados e grandes lojas de departamentos estimulam o consumo dos coreanos que já são consumidores natos. Arranha-céus, shoppings (o maior shopping subterrâneo do mundo!) e muita tecnologia. Lembram do Gangnam Style? Música do cantor coreano Psy que dominou as paradas do mundo? Gangnam é um dos distritos de Seul, considerado o centro econômico da capital e ali se encontram grandes companhias como Samsung (a maior empresa de tecnologia do mundo!), LG, Hyundai-Kia, dentre outras. Depois de anos de crise no país, o governo coreano usou a educação como chave para o desenvolvimento, que hoje conta com trabalhadores altamente qualificados. A impressão que tivemos é que os coreanos são muito criativos e de bom gosto. Transformam tudo, o mais simples que seja, em algo legal, interessante e inovador.

Tem-se registros de que a região do rio Han, onde localiza-se esta metrópole, é habitada desde 4000 a.C. Ela esteve em disputa entre os três reinados que governaram a atual Coreia e só se desenvolveu quando a Dinastia Joseon instalou sua capital no local. Esta dinastia que ficou no poder por centenas de anos deixou diversos marcos históricos e culturais na cidade e mesmo que muitos foram destruídos durante as invasões japonesas e chinesas, muita coisa foi preservada ou restaurada. A Dinastia Joseon construiu cinco grandes palácios em Seul e nós visitamos dois deles: o Palácio Gyeongbokgung, considerado o principal e o Palácio Deoksugung, que possui construções em estilo coreano e ocidental. Em ambos tivemos a sorte de chegar na hora da cerimônia de troca de guardas. Também visitamos a Vila Bukchon, onde pudemos apreciar as casas tradicionais coreanas (hanok), todas em madeira e com esquadrias e outros detalhes entalhados.

O centro de Seul possui uma mescla interessante de arquitetura tradicional e moderna. Dois novos edifícios se destacam na paisagem: o Dongdaemun Design Plaza & Park ou Museu do Design e a nova prefeitura de Seul. O primeiro foi projetado pela renomada arquiteta Zaha Hadid, possui uma forma ousada e foi revestido com 40.000 placas de alumínio, uma diferente da outra. Já o segundo, projetado pelo arquiteto coreano Yoo Kerl do escritório iArc, nos impressionou por sua enorme parede verde dentro do hall principal (a maior parede verde do mundo!) e pela grande área de interação destinada aos visitantes. Nunca vimos uma prefeitura tão aberta a seus cidadãos como essa. Outro ponto de destaque é o riacho Cheonggyecheon, que teve mais de dez quilômetros revitalizados e transformados em um parque linear no meio da cidade.

Seul possui também uma grande concentração de restaurantes e cafés. Se dependesse de nossa gula, passaríamos o dia inteiro comendo e experimentando as diferentes comidas que passavam diante de nossos olhos. O problema era entender os cardápios. Muitas vezes escolhíamos pela foto, mas quando não haviam fotos, o jeito era apontar algo e esperar para ver o que vinha. Sempre uma surpresa! Ainda bem que os coreanos foram muito simpáticos e prestativos e nos ajudavam sempre, mesmo que não nos entendíamos na língua.

Enquanto estivemos neste país nossa dieta mudou completamente. Acabou-se o pão, a manteiga, a geléia, o queijo, frutas e outros itens que estávamos acostumados a comer e entrou o miojo, que aqui come-se até no café da manhã. Tínhamos uma culinária totalmente diferente para descobrir: saborosíssima e apimentada. Nossos pratos preferidos foram Bibimbap – arroz com vegetais, cogumelos e ovo servidos numa panela de barro e o Gimbap – similar a sashimi. Também gostamos do “churrasco coreano”, que você mesmo assa na mesa, numa espécie de gengis khan. Mas a sensação foi o Sannakji, polvo vivo!!! A dona do restaurante tirou o polvo do aquário, cortou seus tentáculos em pedaços e nos serviu com shoyo, pimenta e wasabi. O sabor era muito bom, mas pensar no pobre coitado do polvo dava uma dor na consciência… Era difícil pegar os pedaços de polvo com os palitos, pois suas ventosas grudavam no prato e não paravam de se mexer. Para evitar que elas grudassem em nossas bochechas ou garganta, tínhamos que mastigar o mais rápido possível, rsrsrs. Vejam um curto vídeo dessa experiência única.

A história da República da Coreia é turbulenta e envolve diversas guerras. Depois do Japão entrar em guerra com a China e Rússia (1910-1945), a Coreia passou a fazer parte do domínio japonês e no final da Segunda Guerra Mundial, quando o Japão rendeu-se a União Soviética e aos Estados Unidos, o primeiro ocupou o território norte da Coreia e o segundo o território sul. Em 1950 a parte norte coreana, apoiada pela União Soviética e China, invadiu o sul e deu início a uma guerra civil, chamada Guerra da Coreia (1950-1953), que resultou na divisão do território e surgiram, então, a Coreia do Sul (República da Coreia) e a Coreia do Norte (República Popular Democrática da Coreia). Nenhum tratado de paz foi firmado e, até hoje, os dois países continuam em guerra e estão separados por uma faixa neutra de aproximadamente 250km de extensão e 4km de largura chamada DMZ – Korean Desmilitarized Zone (Zona Desmilitarizada da Coreia), que, apesar do nome, é considerada a fronteira mais fortemente militarizada do mundo. O mais curioso sobre essa fronteira é que ela virou ponto turístico (nós não visitamos) e é possível, através de um tour, conhecer uma das vilas que se situa no local, a sala onde são feitas os encontros de tratado de paz (sem sucesso) e um dos quatro túneis descobertos pela Coréia do Sul que foram cavados pelo vizinho do norte na tentativa de invasão. Quando nós chegamos na Coreia do Sul, uma das notícias que estava em alta era que a Coreia do Norte estaria testando bombas nucleares. Perguntamos para os locais o que pensavam disso, “se tinham medo?” Eles nos responderam que não, que já estão tão acostumados com as ameaças da Coréia do Norte que não se abalam mais.

Seul é rodeada por montanhas e nossa última experiência foi uma caminhada de 13km na companhia do coreano Jaemin e do japonês Hiroto, amigos que fizemos em nosso albergue. Saímos pela manhã, com o termômetro marcando -9 graus Celsius, pegamos o metrô e fomos até o início da caminhada que acompanha a antiga muralha da cidade. Apenas alguns trechos dessa muralha são originais, pois grande parte foi reconstruída recentemente. Subimos e descemos dois morros (cada um com aproximadamente 370m de altitude) de onde tivemos uma vista completa de Seul. Em alguns lugares éramos proibidos fotografar, pois a trilha passa pelos fundos da residência do presidente coreano e esta residência não poderia aparecer em nenhuma foto. Incrível a quantidade de militares monitorando a região. Se aqui é assim, imagina no DMZ? Finalizamos o dia em dois restaurantes tradicionais que Jaemin frequenta nas proximidades de sua universidade, onde pudemos matar a sede com um copo de cerveja e provar deliciosos pratos e iguarias, como o refogado de pulmão de porco.

E quando nos demos conta, já era dia 16 de janeiro de 2016, dia de pegarmos o avião da Siberian 7 e em duas horas estaríamos pisando no tão esperado território russo.

 

PS 1 – Você sabia que os coreanos contam a idade diferentemente de nós? Sim e como funciona é muito curioso. Os coreanos, quando nascem, já possuem um ano de idade e a cada ano novo chinês (geralmente no dia 04 de fevereiro) celebram um novo ano de vida. Se uma criança nasce dia 05 de dezembro, por exemplo, só por ter nascido já possui um ano e em dois meses, dia 04 de fevereiro, já celebra o seu segundo ano de vida.

Veja outros posts sobre a Coreia do Sul:

 

Itinerário percorrido

itinerário percorrido Coreia do Sul

Fotos

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