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Diário de Bordo 37 – Mongólia 1

(12/04/2016 a 25/04/2016 e 27/05/2016 a 24/06/2016 )

 

Nômades do século 21.

Imaginar a existência de nômades em pleno século 21 parece algo fora do comum, mas existe um país no mundo onde isso ainda é real e intenso: Mongólia. A vida nômade surgiu com a necessidade dos criadores de terem que mover seus animais em busca de pastagens. E mesmo com o desenvolvimento do mundo moderno a Mongólia continuou um país nômade, não apenas pela necessidade, mas porque isso se tornou um estilo de vida para eles. Parte dos mongóis migraram para a cidade em busca de trabalho, mas muitos (cerca de 30% da população) preferiram o campo, sem abrir mão da liberdade e independência proporcionadas pelo nomadismo.

Para se ter uma vida nômade na Mongólia dois elementos são essenciais: uma ger e animais. A ger é a barraca típica mongol, que serve para abrigo e foi desenvolvida para fácil montagem, desmontagem e transporte. Os animais (vacas, iaques, ovelhas, cabras, camelos e cavalos) suprem as necessidades de alimento (carne e leite), combustível (esterco seco) e locomoção de uma família. Dentre todos os animais, o mais importante para eles é o cavalo. Um antigo provérbio mongol diz: “Um homem sem um cavalo é igual a um pássaro sem asas.” Pastores tocam seu rebanho no lombo de cavalos (em sua maioria meio selvagens), sobre uma cela pequena e aparentemente desconfortável. Os cavaleiros ainda usam roupas tradicionais e vimos muitos dormindo na grama ao lado do cavalo enquanto os animais pastavam. Pastores mais modernos tocam o seu rebanho montados em motos. Uma boa opção, já que motos não empacam, não empinam e não ficam doentes.

Algo incomum para nós sobre a Mongólia é que suas terras pertencem a todos. Não existe terra privada e por isso não existem cercas. Todos são livres para ir e vir onde quiserem, sendo que nunca (nos dois meses que viajamos por lá) fomos importunados por alguém nos dizendo que não podíamos estar, parar ou dormir em algum lugar. Isso permite os nômades de moverem seus acampamentos pelo país livremente, o que acontece de duas a quatro vezes por ano, dependendo da oferta de pastos. O movimento é cíclico e possui o propósito de deixar a grama se recuperar. Geralmente uma família vive sozinha, respeitando uma certa distância do seu vizinho, que num país vasto e de baixa densidade demográfica isso representa um jardim amplo. Mas pode acontecer de eles formarem entre famílias uma espécie de clã, quando montam juntas duas ou três gers. Cada família precisa de cerca de 300 animais para ser autossustentável, mas os mais ricos chegam a ter mais de 1000. No total a Mongólia possui aproximadamente 55 milhões de animais em seu território. As vezes os rebanhos de diferentes proprietários se misturam, mas os mongóis dizem reconhecerem os seus. Hoje em dia usam marcas (pintam os chifres, a lã, amarram fitas ou fazem marcas com ferro quente), mas antigamente era só no olho.

Viver num país tão vasto e remoto, fez com que a hospitalidade se tornasse uma necessidade. Cada ger pode servir de hotel, restaurante ou mercearia, possibilitando os mongóis de viajarem longas distancias sem ter que carregar muito peso em provisões. A hospitalidade penetrou tão fundo na cultura mongol que este povo recebe em suas casas pessoas completamente estranhas. Isso é um presente para nós viajantes, pois essas visitas facilitam nosso contato com a cultura local.

Chegamos a Mongólia

As portas da Mongólia se abriram para nós no dia 12 de abril de 2016. Vindos de um inverno rigoroso na Rússia, ela era a promessa de calor e de muita vida ao ar livre. Mas não foi bem assim, já que chegamos muito cedo. Os pastos ainda estavam secos; os animais estavam magros; haviam tempestades de vento, poeira e neve; e o frio ainda se fazia presente. Nosso plano inicial era viajarmos o leste da Mongólia e depois irmos de mochila para a China, mas quando vimos que na China os termômetros já marcavam temperaturas acima dos 25 graus, adiantamos nossa ida para lá e deixamos a Mongólia para desbravar mais tarde.

Da fronteira rumamos para a capital Ulaanbaatar, fazendo apenas um pequeno desvio para visitar o Monastério Budista de Amarbayagalant Khiid. Construído entre 1727 e 1737, este, que é um dos únicos monastérios que não fora destruído pelos manchúrios ou pela União Soviética que pregava o ateísmo, é um dos principais da Mongólia e sua arquitetura é muito expressiva. Foi dedicado ao monge Zanabazar, artista e arquiteto mongol considerado o Michelangelo da Ásia. Seu corpo mumificado foi transferido para este monastério em 1779. O lugar é lindo e de uma paz indescritível.

Na capital Ulaanbaatar, com bastante frio e neve, montamos nossa base na Oasis Guesthouse, local de parada de muitos overlanders que passam pela Mongólia. Como era baixa estação, éramos os únicos. Os dias que passamos por lá, aproveitamos para nos organizarmos pós-inverno: limpar o carro, lavar roupa, fazer manutenções (principalmente no sistema d’água da casa cujos problemas eram decorrentes das temperaturas baixas), tomar banho demorado de chuveiro, descansar das longas distâncias dirigidas e principalmente digerir as últimas experiências, que foram intensas. Nesse tempo também fizemos o visto chinês e um bom planejamento para aproveitar ao máximo aquele país. Deixamos o Lobo estacionado na pousada e partimos de trem para a China onde viajamos do dia 25 de abril ao dia 26 de maio de 2016.

Vejam aqui os diários da China 1 e China 2.

Nosso voo de volta da China chegou de madrugada no Aeroporto Internacional em Ulaanbaatar e que alegria foi reencontrarmos o Lobo intacto na pousada. Ao lado dele, algo raro de acontecer na Mongólia – havia mais um carro com placas brasileiras. Era o motorhome de Eduardo e Lu, amigos que conhecemos no Brasil quando nos fizeram uma visita em São Bento do Sul antes de partirem para sua viagem de volta ao mundo. Nosso reencontro na Mongólia não poderia resultar em outra coisa, a não ser muita conversa e cerveja. A cerveja regional vem num garrafão de 2,5 litros. Abriu, tem que tomar até o final.

Mas nessa segunda passagem por Ulaanbaatar ficamos poucos dias. Somente o tempo de fazermos o visto do Cazaquistão, enchermos nossa despensa e o tanque de combustível, para seguirmos viagem. Os amigos brasileiros foram nossos companheiros nas próximas duas semanas, enquanto desbravamos o leste da Mongólia.

E assim que caímos na estrada, um cavaleiro gigante se destacou no meio das estepes! Era nada mais nada menos que a maior estátua equestre do mundo e montada no cavalo estava a figura mais representativa deste país – Chinggis Khan, em português Gengis Khan.

No passado a Mongólia era formada apenas por esparsos agrupamentos de tribos rivais! Mas em 1162 nasceu um menino chamado Temujin, que mudou completamente o destino dessas tribos. Mesmo tendo crescido sob severas condições, se tornou o maior líder das estepes e fundou o Império Mongol em 1206, quando intitulou-se, aos 44 anos, o imperador Gengis Khan. Cansado do caos que acontecia nessas terras, passou a matar os líderes de cada clã e incorporou os sobreviventes ao seu grupo, estabelecendo paz entre as pessoas.

Dizem que em batalha ele não tinha piedade e exterminava todos que cruzassem o seu caminho, mas se a pessoa se rendesse, ele garantia a sua proteção, liberdade religiosa, baixos impostos e prosperidade nos negócios. Dessa forma atraiu muitos seguidores sem precisar lutar. Baseado no sucesso militar e nas boas leis estabelecidas, o Império Mongol expandiu muito, mesmo depois da morte do grande líder e seu domínio chegou a uma escala jamais atingida por outro povo em toda a história. Podemos dizer que os mongóis conquistaram praticamente meio mundo (33 milhões de quilômetros quadrados), se considerarmos o que era conhecido do mundo naquela época (não eram conhecidas as Américas). Seu território se estendia da Coréia até a Hungria e do Golfo de Omã e Vietnã até a Sibéria (22% do mundo de hoje), envolvendo um quarto da população do mundo da época. Os nômades das estepes eram temidos por todos.

A rota que nós seguimos é conhecida como a Rota de Gengis Khan, por passar por lugares que fizeram parte de sua vida, como onde nasceu, onde passou os 15 primeiros anos de vida, onde se escondeu por anos, onde está supostamente enterrado… onde tomou água, onde seus cavalos pastaram, rsrs. Porém, pelo império de Gengis Khan ter sido nômade, pouca coisa construída sobreviveu para comprovar a história. Passamos também por marcos da história geral da Mongólia e do mundo, como túmulos da Era do Bronze, monumentos do shamanismo (religião comum na Mongólia), ruínas de uma muralha do século 8, inscrições rupestres, etc. Quanto mais ao leste seguíamos, mais verde ficava a paisagem e menos movimenta a estrada. Deixamos a principal e dali em diante desaparecemos na vastidão das estepes.

A Mongólia é, definitivamente, o melhor lugar do mundo para se acampar livremente. Onde quer que esteja há boas oportunidades e foi assim o nosso primeiro acampamento na companhia de Eduardo e Lu. O campo era tão grande que deu para brincar de parapente, jogar la boule (tipo de bocha offroad) e até dar umas tacadas de golfe. Nada mal, hein? E com era primavera, as flores espalhavam-se pelos campos e a Michelle encontrou na Lu uma ótima companheira para fotografá-las. Os dias terminavam sempre com deliciosas jantas, ora preparadas por nós, ora pelos amigos ou em conjunto. Cerveja e vinho nunca faltavam. E a conversa ia longe, já que escurecia depois da dez horas da noite.

Próxima parada foi no lago Khangil Nuur. Chegamos bem na hora do espetáculo do final de tarde e compartilhamos aquele momento com os diversos pássaros que habitam o lago. Ali conhecemos um mongol que cuida da região e através dele compramos carne fresca dos locais. Eduardo foi na garupa de sua moto na casa do vizinho que possuía cabras. Compraram uma cabra por apenas 30.000 tugriks (que não chega a quinze dólares) e a trouxeram viva na garupa até a casa desse mongol, onde ele e sua esposa a mataram e limparam. Uma cabra inteira seria muita carne para armazenarmos em nossas geladeiras, então Eduardo voltou para o acampamento uma hora depois com apenas um lado da cabra e o outro (mais interiores) presenteamos a nosso amigo. Comida estava garantida para as próximas refeições. As costelas fizemos grelhadas, mas os melhores pratos saíram quando a preparamos ensopada com vegetais. De lamber os dedos.

Depois seguimos para Dadal, uma pequena vila que se situa próxima a confluência dos rios Onon e Balj, lugar onde Gengis Khan nasceu. O único marco que lembra o imperador é um monumento no norte da cidade que comemora os 800 anos de seu nascimento. Se não soubéssemos desse fato histórico, o local teria passado despercebido e Dadal seria apenas mais uma vila em nosso caminho.

Continuamos ao leste e entramos no estado Dornod dirigindo por estepes muito inóspitas. Para acharmos nosso caminho utilizávamos basicamente o GPS, mas em alguns lugares nem ele sabia por onde deveríamos seguir, então tínhamos que parar nas gers para pegarmos informações com os locais. E ao se aproximar de uma ger, deve-se gritar: “Nokhoi khor”, que quer dizer que está se chegando, mas ao pé da letra significa “segura o cachorro!” Os mongóis nos cumprimentavam e logo nos convidavam para entrar. Nós adorávamos visitar as gers. Dentro delas víamos o quão simples é a vida dessas pessoas. Sentávamos nas camas para tomar chá, comer iogurte, queijo e outras iguarias. Todas as gers que visitamos estavam muito organizadas, limpas e coloridas.

Na região leste da Mongólia, além da rota de Gengis Khan, havia mais um motivo que nos atraiu para lá. As suas estepes, que dizem ser as mais intocadas do mundo e que são a morada de mais de um milhão de gazelas-do-rabo-branco. Nosso sonho era encontra-las e fotografá-las da terra e do ar, com o uso de nosso paramotor. O biologista George Schaller, que visitou a região pela primeira vez em 1989 e viu um grupo de milhares de gazelas declarou que esse era um dos maiores espetáculos de vida animal no mundo e nós não discordamos. Foi uma experiência incrível que registramos nesse post (veja aqui).

Em Choibalsan, capital estadual mais ao leste da Mongólia, lembramos de um detalhe importante referente nossa estada no país. Brasileiros não necessitam de visto e podem ficar até 90 dias, mas quem pretende ficar mais de 30 dias precisa se registrar na imigração dentro dos cinco primeiros dias úteis e nós não o fizemos, pois nos esquecemos. Quando contatamos as autoridades eles nos deram duas opções: sair do país dentro dos 30 dias (o que significava que tínhamos menos de duas semanas para cruzar o país de leste a oeste) ou pagar uma multa de 100 dólares por pessoa. Não nos restou outra alternativa a não ser voltar para Ulaanbaatar e pagar a multa. Esse erro nos custou caro, mas pelo menos teríamos o tempo suficiente para explorar as infinitas atrações que ainda tínhamos pela frente.

A estrada principal que vai dali do leste até Ulaanbaatar é de chão batido, que em sua maior parte acompanha o rio Kherlen. Os pastos são verdes e fartos e os animais abundam. Era incrível ver aqueles vales pontilhados de animais. Nunca vimos tantos cavalos em nossas vidas e pudemos reparar que eles desenvolveram um comportamento muito interessante – se agrupam e deixam suas cabeças baixas ficando muito próximos uns dos outros. Imaginamos que seja para se protegerem do sol, fazendo sombra um para o outro ou para se protegerem das moscas. São tantas moscas que eles chacoalham as cabeças violentamente para cima e para baixo, afim de fazerem sua crina balançar sobre seus olhos para espanta-las.

Quando chegamos na capital, fomos para o Oasis Guesthouse pela terceira vez. Não estávamos felizes em voltar para lá, pois além de ser uma cidade grande, o trânsito é caótico e os mongóis são péssimos motoristas. Eles realmente nasceram para andar a cavalo.

Burocracias resolvidas, nos despedimos de Eduardo e Lu e seguimos felizes da vida, desta vez para o sul. Ao contrário do leste, quanto mais ao sul dirigíamos, menos verde ficava a paisagem e ela ia sendo dominada pelas areias do Deserto de Gobi. Para muitos, um lugar vazio, desolado e de pouco interesse, mas para os mais aventureiros, uma grande atração.

A primeira parada foi para visitar as formações rochosas de granito Baga Garzyn Chulu. Ali, conhecemos a francesa Emilie, seu motorista Muugii e a guia Nyam, que faziam um tour pela Mongólia numa Defender 110 e se aproximaram de nós interessados pelo Lobo. Ficaram tão empolgados com nossa história que nos convidaram para acamparmos juntos. A Nyam preparou um prato típico mongol para a janta e terminamos a noite em volta da fogueira com boa conversa, muita cerveja e vodca. Podemos dizer que essa noite foi GOY, que na língua local significa “muito legal”.

Próximo destino foi Tsagaan Suvraga, uma formação natural esculpida em forma de erosão. Branco, vermelho, rosa, roxo eram as cores que coloriam a formação que um dia já esteve embaixo do mar. Hoje esse fato é comprovado pelos diversos fósseis marinhos. E falando em fósseis, no Deserto de Gobi há fósseis de dinossauros. Foram achados ali alguns dos mais importantes do mundo, de dinossauros que habitaram a Terra há 70 e 80 milhões de anos atrás.

Dalangzadgad foi o ponto mais ao sul que chegamos e de lá passamos a acompanhar as montanhas Saikhan Nuruu rumo ao oeste. Os vales profundos e estreitos por entre as montanhas permitem que o gelo acumulado do inverno permaneça congelado todo o verão, pois de tão estreitos, não há espaço para o sol entrar. Presenciamos esse fenômeno interessante caminhando no vale Yolym Am, onde tivemos a sorte de ver dois ibex pastando nos paredões das montanhas. A propósito, essas montanhas, mesmo situando-se no deserto, são habitat de um dos animais mais difíceis de se ver na terra, o Leopardo das Neves. Se é importante registrar, nós não o vimos, hehe.

Quanto mais ao oeste dirigíamos, piores ficavam as estradas. Mas este detalhe foi compensado quando chegamos no início das dunas de Khongoryn Els. Um espetáculo da natureza, sobre o qual escrevemos um POST exclusivo (veja aqui).

Foram quase 80km tendo as dunas ao nosso lado esquerdo, até que caímos na parte árida do Deserto de Gobi e ali sim pudemos sentir o quão desafiador ele pode ser. A estrada foi difícil e traiçoeira. Num certo momento, quando cruzávamos uma parte de pequenas dunas e arbustos perdemos a trilha, tanto o rastro dela quanto a estrada do GPS. Usamos então a intuição para sairmos daquele labirinto, seguindo o leito seco de um rio até cairmos na planície aberta. O Deserto de Gobi é a região mais árida da Mongólia. O intenso calor e a escassez de água faz a vida humana impossível por lá e por isso não havia nenhuma alma viva para perguntarmos o caminho. É uma sensação muito estranha não saber para onde ir num deserto. Novamente pela intuição, rumamos ao oeste onde sabíamos que haveria uma estrada. Dirigir assim é uma questão de erro ou acerto, pois escolhe-se uma direção e reza-se para não aparecerem acidentes geográficos intransponíveis para nosso carro. Após um bom tempo no meio do nada, ufa, achamos um rastro e o seguimos mesmo que ele foi para o sul, quando nosso objetivo era o norte. Ao chegar na estrada que procurávamos, descobrimos que aquela trilha que nos levou ao sul havia desviado um enorme cânion a nossa direita.

A estrada continuou péssima e lenta, cruzando diversos leitos de rios secos, provavelmente água que escorre das montanhas que rodeiam a região. Vimos muitas gazelas, mas dessa vez as gazelas-de-rabo-preto, que diferentemente das gazelas-de-rabo-branco, vivem em pequenos grupos ou sozinhas e corriam e saltavam incansavelmente quando nos viam.

No caminho certo agora, nosso destino era o norte novamente. De longe avistamos a montanha Ikh Bogd Uul (3.957m de altitude) e pudemos usa-la como referencia para onde seguir, mas a continuação desta viagem ficará para o próximo diário. Até lá!

 

Veja outros posts sobre esse trajeto:

Itinerário percorrido

Itinerário Mongólia 1

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