ícone lista de índices Índice

Diário de Bordo 30 – Índia 1

Diário de Bordo

(03/02/2008 a 14/02/2208)

A descoberta de um novo mundo…

Era uma vez um mundo muito diferente do nosso, o qual possui uma paisagem encantadora, que se estende desde as altas montanhas do norte, daquelas que quase encostam no céu, até vastas planícies com enormes rios e onde faz muito calor. Neste mundo multidimensional existem muitos habitantes, tantos que a população ultrapassa os bilhões. Sua civilização é muito diversificada, além de muito antiga e foi lá que surgiram duas grandes religiões: o hinduísmo e o budismo. Infelizmente, grande parte da população vive abaixo da linha da pobreza e outros problemas enfrentados por lá são a burocracia pesada, altas taxas de juros, corrupção, sistema de cascas, poluição ambiental e uma idade média dos habitantes muito baixa. Apesar de tantos pontos negativos, esse mundo é repleto de vida e em todas as esquinas pode-se encontrar um banquete de sensações expresso nas cores, nos cheiros, nos sabores e nos figurões que circulam pelas suas cidades e vilas. A arte também está por toda a parte, assim como a religião e o criquete, esporte e orgulho mundial. O trânsito desse mundo é uma loucura e os piores trânsitos de nosso mundo nem se comparam com a quantidade de veículos e o movimento caótico causado pelas vacas, cabras, porcos, bicicletas e pessoas encontrados neste lugar tão diferente para nós. Dizem que viajar por esse lugar não é nada fácil e que ele possui a capacidade de inspirar e frustrar ao mesmo tempo.

E, se vocês acham que ele só existe em estorinhas, estão muito enganados… esse mundo existe sim, e seu nome é INDIA!

E pessoal, essa estorinha ai em cima não é brincadeira não. Ela é pura realidade, a qual estamos vivenciando nesta nova etapa da expedição. Viajar pela Índia está sendo completamente diferente das nossas viagens em outros países e constantemente nos deparamos com situações que mexem muito com a gente, algumas boas e outras ruins. Porém, podemos dizer que está sendo uma ótima experiência e estamos aprendendo muito por aqui.

Falando um pouco mais da realidade Indiana… a Índia é o segundo país mais populoso do mundo (depois da China), com mais de 1,1 bilhões de habitantes e o sétimo em área. O país foi a maior economia do mundo antigo, sofreu um grande declínio após o domínio britânico, mas está se recuperando e atualmente já é uma potência regional e é apontado como uma das futuras grandes potências do século XXI. Os indianos são os maiores produtores mundiais de filmes por ano e estão, cada vez mais, crescendo no mercado de tecnologias inteligentes e softwares. A pobreza é uma constante por aqui e 25% da população vive em condições sub-humanas, devido serem na sua maioria analfabetos e o país possuir uma alta taxa de crescimento populacional. Enquanto a Índia está de olho na tecnologia e nos métodos modernos de mundo ocidental, os ocidentais vêm para a cá em busca de sua cultura, de sabedoria e iluminação. E nós, apenas para vivenciar um pouco disso tudo…

Após 3 voos (Singapura – Bangkok, Bangkok – Mumbai e Mumbai – Chennai) chegamos em nosso primeiro destino na Índia. Foram 5 dias de espera na cidade porto para onde enviamos o Lobo e durante esse tempo ficamos em um hotelzinho meia boca, onde não nos deixavam dormir de tão alto que regulavam o volume da televisão. Marcamos ponto em um restaurante bem gostoso que achamos nos arredores do hotel, onde pudemos experimentar a comida indiana que é saborosíssima. Cada estado e região do país possui a sua comida típica e em Chennai pudemos degustar um prato chamado Masala Dosai, o qual é um crepe recheado com um molho de batata, cebola e curry e que vem acompanhado de diversos molhos de lamber os dedos. Todas as comidas vêm servidas sobre folhas de bananeiras e o mais difícil dessa comilança é colocar a comida na boca, pois os indianos comem com a mão direita, sem a ajuda de nenhum talher e o mais extraordinário é que eles não se lambuzam nem um pouco, totalmente ao contrário da gente. Em Chennai também é comum ter casas de chá e café, tipo um boteco de esquina, onde os homens se encontram para um bate-papo. O Roy, amante de um cafezinho, também marcou ponto por lá. O café deles é muito delicioso e o cafeteiro dá show de malabarismo. Para misturar tudo, ele joga o líquido de um recipiente, minúsculo, para outro, formando um cachoeira de café de quase um metro de altura.

Dia 08 de fevereiro, sexta-feira, conseguimos liberar o nosso carro e já pudemos rodar nossos primeiros quilômetros em solo indiano. No começo, mas só no começo mesmo, ficamos felizes com a qualidade das ruas, mas logo caímos na realidade do que é dirigir na Índia. Rodamos quilômetros e mais quilômetros e era difícil manter um média acima de 30km/h. O que explica essa média tão baixa, são os diversos obstáculos que temos que ultrapassar: estradas em péssimas condições e cheias de buracos; caminhões de dar com o pé (mesmo com um sistema de ferrovias mais desenvolvido, eles ainda possuem uma exorbitante quantidade de caminhões); pessoas e ciclistas andando no meio da rua; cabras, porcos, vacas e búfalos. Ninguém que está no meio da rua tem medo de ser atropelado, o que explica a idade média dos habitantes daqui ser de apenas 24,6 anos. Todos já estão tão acostumados com as buzinadas e com o tumulto, que quando nós precisamos buzinar e passar deles, ninguém mexe um fio de cabelo para nos deixar seguir adiante. O jeito é reduzir e esperar a boa vontade dos cidadãos. E mesmo um trânsito muito cansativo e estressante, o qual tira qualquer um do sério.

As vacas e búfalos são animais sagrados para os hindus e significam fertilidade. Ambos possuem seus chifres muito diferenciados, muitas vezes pintados, com sinetas nas pontas, enormes e perfeitos, que até dá a impressão de seu crescimento e posição serem influenciados pelos donos.  Esses animais estão por todos os lados, pastando lixo, entrando nas vendinhas e moradias atrás de comida, deitados no meio da rua e quem disse que eles têm medo de carro? Eles continuam no meio da estrada e você é obrigado a parar e a desviar deles. Bater com um vaca pode ser perigoso e matar um delas pode ser pior ainda, pois teremos que acertar as contas com os hindus.

Para pedir alguma informação é outra sessão, primeiro que quando paramos nosso carro em algum lugar, por mais remoto que pareça ser, somos em questão de minutos rodeados por muitas pessoas que devoram nosso carro e a gente com seus olhares curiosos. Depois vem o pepino de entender a resposta deles, pois os indianos possuem uma característica muito marcante que é como eles chacoalham suas cabeças. Em vez de ser como nós fazemos normalmente, virando nossas faces para os lados, eles inclinam a cabeça para os lados e o mais engraçado é que este gesto nem sempre significava um não, podendo também significar sim, talvez ou não tenho idéia.

Seguimos viagem serpenteando pelo meio do tumulto até a cidade de Tirupati, a qual é famosa pelo Templo Venkareswara situado no alto das montanhas sagradas de Tirumala. Este local é um dos mais importantes centros de peregrinação hindu do país e recebe milhões de visitantes, nunca há menos de 5.000 peregrinos ao mesmo tempo e por dia ultrapassam 100.000 pessoas, acreditando-se ser o lugar de peregrinação mais visitado do mundo, ultrapassando o Vaticano, Jerusalém e Meca.

Depois de nossa peregrinação, mais stress no trânsito e mais buzinação em nossos ouvidos, pois aqui os motoristas escrevem na traseira de seus caminhões pedidos para quem está vindo atrás buzinar quando ultrapassar (Please, sound horn!!!). Entramos no clima e foi de queimar a ponta do dedo de tanto buzinar até a vila de Hampi. Lá, localizam-se as fascinantes ruínas de Vijayanagar, que são os resquícios do que foi um dia a capital de um dos maiores impérios hindus, fundado em 1336. Mais espetacular que as ruínas é o local onde elas estão inseridas, ou melhor, camufladas. A paisagem da região é caracterizada por montanhas formadas por pilhas de pedras gigantes e de todas as formas, sendo que a própria natureza parece uma ruína e tudo fica ainda mais bonito quando o pano de fundo é um colorido por-do-sol.

Em Hampi, havíamos parado em um estacionamento enorme que existe lá, no qual não só paramos, mas montamos acampamento. Durante a noite, quando fomos dormir, escutamos diversas vozes ao redor do carro e quando olhamos, vimos vários figurões agachados, fazendo numero dois e conversando. O pior é que a cena se repetiu diversas vezes DURANTE O DIA! Homens, mulheres e crianças, que não queriam pagar as míseras 5 rupias (0,25 reais) para usar o banheiro ali do lado, estavam por toda a parte fazendo um montinho ao lado do outro e o mais engraçado é que até para fazer xixi, os homens indianos ficam agachados. A fama de falta de higiene dos indianos é mundial e é sempre bom ter cuidado com a água e a comida, pois em apenas uma semana no país você já pode entrar em uma fria, que foi o que aconteceu com a Michelle. Por sorte tínhamos um banheiro ao nosso lado e de lá, ela não saiu mais. Diarréia das brabas e cama na certa por dois dias.

Depois de tanto sofrimento, stress e dor de barriga, decidimos ir em busca do paraíso e o encontramos. Ele se situa na Praia de Agonda, no estado de Goa. Nos não fomos os únicos em busca desse local e encontramos por lá, nada mais nada menos, que 10 carros estrangeiros, todos curtindo a tranquilidade do lugar. Nossos planos são de ficar uns 5 dias por aqui, mas já nos alertaram que partir é uma tarefa árdua e que todos sempre a adiam e acabam ficando 2 meses. Vamos ver o que vai ser de nós…

 

PS1 – Gostaríamos de convidar a todos para retornarem ao Diário de Bordo 29, pois acabamos de disponibilizar aquelas receitinhas de culinária tailandesa que prometemos. O Video sobre o Sudeste Asiático ainda não esta pronto, mas assim que o disponibilizarmos também, avisaremos!

 

Álbum: Índia 1

[flickr]set:72157627184919164[/flickr]

Compartilhe

Veja Também

Diário de Bordo

Diário de Bordo 1 – Planejamento 1

21 | dez | 2006
Diário de Bordo

Diário de Bordo 2 – Planejamento 2

21 | fev | 2007
Diário de Bordo

Diário de Bordo 3 – Festa de Despedida

28 | fev | 2007