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Diário de Bordo 49b – África do Sul 1

Diário de Bordo

(03/12/2008 a 18/01/2009)

Depois de todas essas férias…

… nada mais justo do que intensificar este diário de bordo com muitas fotos e relatos de nada menos de um mês e meio por entre as incríveis savanas da bela África do Sul. Mas desta vez nossa história ganhou força, com a vinda de nossos familiares que há quase dois anos não víamos, e que viajaram conosco durante boa parte do percurso.

Entramos na África do Sul vindo da Suazilândia, no dia 03/12/08, pelas montanhas que rodeiam Barberton e seguimos diretamente para Nelspruit, capital do estado Mpumalanga. Nelspruit não é grande (235.000 habitantes), mas pela estrutura em suas estradas, viadutos, shopping-centers, restaurantes, supermercados, etc… nos deu a impressão de termos vindo ao primeiro mundo onde tudo lembrava a Europa, Austrália e Nova Zelândia. Na verdade, comparamos toda essa ótima estrutura a Nelspruit somente por ter sido uma das primeiras cidades da África do Sul, pois quase todas as cidades daqui, transmitem essa boa impressão.

Por uma outra visão, assim que entramos no país, ficamos um pouco decepcionados, pois a segurança por aqui não se pareceu das melhores. Após 10 minutos de conversa com cada cidadão que encontrávamos, o tema virava a criminalidade que tem aumentado muito nos últimos anos. De acordo com um estudo das Nações Unidas (UN), a África do Sul ocupa o primeiro lugar em se tratando de assassínio com arma de fogo, homicídio involuntário, violação e agressão, ocupando também segundo lugar em homicídio e quarto em roubo. Sorte ou azar, tivemos nossa experiência, quando homens desarmados tentaram nos assaltar. Eles não tiveram sucesso e nós aprendemos a lição, passando a nos precaver ainda mais.

Mas não fica difícil de entender essa violência, que mais parece uma revolta ao passado, pois a história recente do país conta que entre os anos 1948 e 1994, toda a estrutura política, econômica e social era baseada no apartheid, onde legalmente, a minoria branca mantinha discriminação racial. Tudo era separado desde praias, banheiros, transportes públicos, escolas, inclusive bancos de praças, além de que casamentos ou relacionamentos entre duas raças era proibido. As últimas leis eram ainda mais severas, onde negros eram forçados a usarem seus documentos de identificação o tempo todo e eram proibidos a permanecerem nas cidades ou mesmo visitá-las, sem devida permissão.

Nesse meio tempo, alguns poucos asiáticos, de acordo com a constituição em 1983, passaram a ter alguns direitos limitados, mas a maioria que era negra ainda não tinha direito a nada. Somente em 1990, o sistema apartheid começou a ser desmantelado, ano que Nelson Mandela (líder do ANC – Congresso Nacional Africano), foi libertado dos 27 anos encarcerado e em abril de 1994, através das eleições multirraciais para o novo parlamento, Nelson Mandela se tornou o primeiro presidente negro da África do Sul. É interessante e gostoso de escutar de alguns africanos brancos, que Nelson Mandela fora um ídolo inclusive para eles.

Recente acontecimento (20/09/2008) no governo sul-africano foi o pedido de demissão do até então sucessor de Mandela, Thabo Mbeki, após pressões de seu próprio partido, sob acusação de interferência no poder judicial. Dois dias depois, Kgalema Motlanthe foi apontado para novo chefe de estado.

E quanto a nós, em meio a hospitalidade dos boêres (nominação dada aos fazendeiros brancos africanos), fizemos uma pequena viagem a uma parte do Drakensberg com seus penhascos, cachoeiras e campos a perder de vista. Além disso, a fartura de carne começou a aparecer, pois é braai pra cá e biltong pra lá. Braai é o nome dado ao ato de assar uma carninha, talvez nossa churrascada e biltong é uma carne seca, similar ao nosso charque, e é feito, além do boi, de avestruz, kudu e springbock, sendo os dois últimos, cervos comumente caçados por aqui. A combinação perfeita é: futebol, que no caso dos africanos é o rugbi, biltong e uma cervejinha!!!

Em Pretoria, capital administrativa da África do Sul, conseguimos dois vistos, do DRC (República Democrática do Congo) e da República do Congo, que apesar dos nomes idênticos, são países diferentes. E na tentativa de fazer o visto da Angola, que seria o mais difícil, naquela sexta-feira entraram de férias e somente voltariam a trabalhar no próximo ano, e aí nos demos conta, caramba, mais um ano se passou!!!

Com mais uma semaninha na manga, antes que nossa família chegasse, viajamos até Commondale, colônia alemã de quinta geração composta somente por fazendeiros, os quais ainda falam o alemão como língua principal. Já estivemos por lá antes, só que com o Grupo Coral e Musical Edelweiss, que fez duas turnês e concertos pela África do sul nos anos 1995 e 2001. E devido a grande e antiga amizade mantida a base de cartas escritas a mão, Berno e Mandi inclusive farão parte de nossa viagem, só que na semana que vem, hehe, alguns parágrafos abaixo. Em Commondale, revimos vários outros amigos, pescamos, fomos juntos a igreja e inclusive cantamos em seu coral, até que no dia 24 de dezembro, rumamos a Johannesburg para que dia 25 cedinho, encontrássemos nossos pais, irmãos e cunhados no aeroporto.

25/12/08, dito e feito. Estavam lá, Leomar, Leones, Odenir, Arlette, Hans, Natascha, Cleiton e Daniela. Rolou aquela emoção, alguns choraram, outros riram, uns tiraram fotos e outros até esqueceram das fotos… e, agora a bordo de três carros, o Lobo + duas Grand Livinas alugadas, seguimos desbravando a África do Sul.

Nosso Natal, festejamos atrasados em Pretoria. Lá foi tempo de contar causos, rir, relembrar e até revelamos o amigo secreto… mas já noutro dia cedinho, partimos para a Reserva Natural Balule, onde passamos três dias fazendo safáris a bordo de dois Land Rovers preparados especialmente para tal. Num carro, foram nossos pais, acompanhados pelo Berno e Mandi que ali nos reencontraram e no outro, os irmãos, cunhados e nós. Os animais eram fichinha comparado as risadas que dávamos com nosso guia Cuzzy, que nos falava que ia procurar pistas dos leões no mato ao redor do carro, mas não se ligou que percebemos que quando saiu, estava com a camisa por fora da calça e quando voltou, estava por dentro… era de se partir de rir!

Dia 29/12, saímos do Balule bem cedo, pois o plano era de somente cruzar o Parque Nacional Kruger e deixá-lo pelo portão sul neste mesmo dia. Então, entramos na imensidão do Kruger, com seus 2 milhões de hectares e foi de cair de queixo da beleza que é ver esse parque em épocas de chuva. Aquele verde impressionante que quando visto do alto, parece não ter fim. Beleza que só pode ser maior quando os olhos se acostumam e lá ao longe, um, dois, três, dez ou mais elefantes começam a perder sua camuflagem e aparecer do nada. Simplesmente magnífico!!!

Quando já tínhamos ganho o dia e já se aproximava das 18:30hs, hora de deixar o parque, tivemos a notícia de que chuvas fortes ao sul inundaram o Rio do Crocodilo, fazendo-nos procurar outra saída. As horas passavam, as distâncias aumentavam, as pontes todas inundadas e a saída não foi possível. Parece que foi azar, pois tivemos que dirigir até as 11 horas da noite… mas foi exatamente após aquelas 18:30hs, quando todos os carros deveriam estar dentro dos cercados dos alojamentos ou fora do parque, que vivenciamos as melhores experiências: um elefante que corria sem perdão rumo ao lobo, e que com nosso aceno firme (tática que aprendemos com o engraçado Cuzzy) e olhos nos olhos, a menos de 5 metros, o animal baixou a guarda, mudou de curso e saiu cabisbaixo; “O” Pôr do Sol; o Lobo que quebrou novamente e que tivemos que sair da cabine para concertá-lo a deriva da Lei da Natureza; os cinco imponentes leões que encontramos a apenas 15km do lugar onde arrumamos o carro; as inúmeras hienas; mais girafas; elefantes; antílopes, etc… SEM DESCRIÇAO!!! Terminamos nossa jornada dormindo no principal camping do Kruger, generosamente cedido pela administração do próprio parque, devido ter sido uma situação sem controle, ou seja, as águas definitivamente nos impediram de sair do parque naquele dia, assim como para outras pessoas.

Outro dia cedo, quando fomos ao encontro do Berno e Mandi para seguirmos viagem, percebemos que algo não estava certo. Eles riam que não paravam mais e assim contaram sua aventura noturna, quando saíram para ir tomar banho nos chuveiros que ficavam a cerca de 150m de sua acomodação. Após o banho, não conseguiram mais voltar, pois se perderam em meio as outras centenas de acomodações idênticas e acabaram dormindo em um banco qualquer. Mas o legal foi ouvir suas histórias e ver que mesmo não tendo dormido, com seus mais de 70 anos, não perderam a moral, muito menos o humor.

Assim que saímos do Kruger, dirigimos ao sul por mais de 400km, margeando a Suazilândia até chegarmos novamente a Commondale, onde passamos o ano novo e mais 4 dias de dar saudades na companhia de toda a família Kholmeyer. Fizemos de tudo: braai com cerveja, cerveja com braai, passeios pelas lindas fazendas, mais animais, festas na casa de amigos, caçadas, apresentação em slides sobre nossa viagem, etc… até que chegou do dia 04/01/09, e tivemos que partir.

Mais um tanto de quilômetros e chegamos em Durban, terceira maior cidade do país que exibe uma linda praia protegida dos tubarões por uma malha de aço, estendida a alguns metros da areia. Lá, contemplamos um pouco da cultura Zulu e viramos criança no Mundo Marinho Ushaka com todos aqueles aquários de última geração, show de golfinhos e leões marinhos, piscinas e tobogãs.

E como diz o velho ditado, o que é bom dura pouco, então, dia 10/01/09, Odenir, Arlette, Hans e Natascha tiveram que partir, ficando conosco para mais 8 dias, Leomar, Leones, Cleiton e Daniela, com os quais viajamos até a Cidade do Cabo.

No caminho, passamos pelas lindas montanhas do Golden Gate, que costeiam Lesoto (país inserido dentro da África do Sul); avistamos mais de 200 elefantes juntos, dos menores até os mais impressivos no Parque Nacional Addo; rodamos parte da Rota dos Jardins, cruzando também a cidade Porto Elizabeth; avistamos o mar mais uma vez no Parque Nacional Tsitsikamma; conhecemos uma fazenda de avestruzes assim como tivemos a oportunidade de montaria nestas aves; saboreamos os vinhos da região de Stellenbosch, considerados como um dos melhores vinhos do mundo e enfim, chegamos na Cidade do Cabo. Nessa parte da viagem, as noites foram curtas e o cansaço tomou conta, mas o que vimos, valeu cada hora dirigida.

E pra finalizar nossa viagem, a Cidade do Cabo. Capital legislativa da África do Sul, habitada por mais de 3 milhões de pessoas, as quais moram ao redor da Table Mountain, uma montanha com mais de 1.000m de altura, situada a beira mar e cotada por sua flora única. E se não fosse só isso, a cidade é repleta de uma arquitetura colonial sem igual.

Gostaríamos de ter subido a Table Mountain, mas devido aos fortes ventos, que no topo chegavam a 45 nós, os bondinhos não estavam em funcionamento. Mesmo assim, a meio caminho do topo, pudemos apreciar uma bela vista da cidade. Seguimos ao sul na Península do Cabo, a qual nos levou ao Ponto do Cabo e ao Cabo da Boa Esperança, lugar que supostamente divide os oceanos Índico e Atlântico (há controvérsias nesta afirmação, onde existem afirmações que a divisão se situa frente ao Cabo das Agulhas). Foi aqui que tivemos o nosso segundo reencontro desse diário, agora com o Oceano Atlântico. Ali, logo ali do outro lado desse marzão está nosso destino final…

E no dia 18/01/09, nos despedimos do Leomar, Leones, Cleiton e Daniela com um aperto no peito. Passaremos mais alguns dias na Cidade do Cabo e em breve partiremos, agora rumando ao norte, pela costa oeste africana.

Esta etapa da viagem, com certeza, ficará marcada pra sempre. Dos biltongs com cerveja, das risadas, conversas pelo rádio, safáris, fotos em grupo, braai e principalmente da companhia, sentiremos saudades…

 

PS – Nosso carro, o Lobo da Estrada, passou a dar alguns probleminhas nos últimos tempos. Tudo aconteceu mais ou menos como quando ficamos doentes: a dor de barriga, que traz a dor no dente, aí vem a dor de cabeça, cansaço e assim por diante. No lobo, o problema começou com uma pedra que entrou na polia da bomba de água e partiu a correia. Correia trocada e já em seguida quebrou o alternador, e aí a bomba hidráulica da direção, novamente o alternador, bomba d’água do motor, e agora uns curtos no sistema elétrico. Esperamos que essas férias tenham feito bem pro Lobo também!!!

Álbum: África do Sul 1

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