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Diário de Bordo 51 – Namíbia 2

Diário de Bordo

(09/02/2009 a 05/03/2009)

A Namibia possui uma das menores densidades demográficas do mundo!!!

Chegamos então na esquina do vento, Windhoek, a pacata e aconchegante capital da Namíbia. Não tínhamos muito o que fazer por aqui, mas mesmo assim, em função daquele visto famoso para a Angola, acabamos ficando na cidade por mais de uma semana. Foram idas e vindas, umas com um restinho de esperança, outras totalmente frustradas… e no final, mesmo que com os angolanos podemos falar a mesma língua, recebemos mais um “não” em português.

Mas por outro lado, este tempo em que ficamos na capital foi muito legal. Fomos muito bem recebidos por Alex, Trudi (filha de nossos amigos sul-africanos Berno e Mandi), Jessica e Nikita. Além das belas noites em que cozinhávamos algo bem tradicional, fizemos um acampamento de fim de semana nas belas montanhas que rodeiam o Gamsberg Pass e isso com direito a chuva, daquelas que a Namíbia há anos não tinha mais visto. Chovia forte, muito forte, em quase todos os dias e a água, que dificilmente é absorvida pelo solo, fazia encher aqueles rios secos e sem pontes, dificultando em muito o deslocamento pelo país.

Naquele mesmo dia, quando voltávamos do acampamento, fomos surpreendidos por um caminhão boiadeiro bem carregado, que quando nos cedeu pista para passarmos, simplesmente atolou no que parecia uma areia movediça. Passamos horas tentando rebocá-lo, mas somente tivemos sucesso quando descarregamos todo o gado, ali mesmo na estrada.

Voltamos novamente a estrada na companhia dos sul-africanos Benard e Hilda e dos motoqueiros Claudio (Suíça) e Ruth (Áustria) e fomos sentido a Costa do Esqueleto, que compreende o deserto que costeia o Atlântico do centro para o norte do país. O lugar é assim chamado devido a grande quantidade de naufrágios (assim como esqueletos de baleias), alguns até bem recentes, como o que fotografamos em Swakopmund que ocorreu em 2004. O motivo dá-se as dificuldades de visibilidade causadas pela forte neblina.

Swakopmund, segunda maior cidade da Namíbia, é considerada por muitos uma cidade mais alemã do que a própria Alemanha. E é fácil de entender, pois o alemão aqui ainda é muito falado, além da arquitetura e das belas tortas que são facilmente encontradas nas melhores padarias. O turismo local vem crescendo e a cidade, devagar, está se tornando uma capital de esportes radicais, com surf, paraquedismo, aventuras off-road em motos ou quadriciclos, sand-board, etc. Mas também, não é pra menos, pois a poucos quilômetros dali localiza-se a Duna número 7, que com seus 383 metros de altura é conhecida como a maior duna do mundo. E lá, nada melhor que uma chapa de eucatex pra deitar o cabelo duna abaixo.

Um fato muito curioso que pudemos presenciar nesse deserto é a existência de massivas ossadas de cavalos, que aparecem e desaparecem devido a ação dos ventos sobre a areia. Apenas recentemente esse mistério foi desvendado, quando foi achado um telegrama datado de 15 de maio de 1916, enviado pelo Ministério da Defesa (Johannesburg) para a Casa do Parlamento (Pretória), que continha a informação de que 1.695 cavalos e 944 mulas, pertencentes a Força de Defesa Sul Africana, foram mortos em novembro de 1915 por estarem infectados por uma certa doença. O telegrama ainda conta que uma suposta medicina que remediaria essas mortes teria sido enviada via navio, da Cidade do Cabo para Swakopmund, mas que no meio do caminho, esse navio afundou e o remédio chegou 10 dias atrasado, quando já era tarde.

Swakopmund possui mais uma coisa que não poderíamos deixar de mencionar! Em uma galeria de cristais, está exposto o maior cristal do mundo, com 3 metros de largura, 3,5 metros de altura e nada menos que 14,1 toneladas. Além disso, outros cristais e pedras semi-preciosas são expostas, sendo todas achadas na região, muito rica neste aspecto.

Domingo foi dia de pescaria em Henties Bay. Enquanto nosso amigo Bernard tentava seu tubarão de 100kg, nós nos contentávamos com uns peixinhos que iriam pra panela a noite. Na verdade, desde que partiu pra sua viagem pela África, Bernard já planejava sua pescaria em Henties Bay, que é uma praia famosa entre profissionais da pesca esportiva do tubarão. E para pescá-lo, tudo se difere de uma pesca normal, a começar pela isca, que tem que ser grande e uma parte específica de algum outro tubarão pequeno. A sobra da isca, finca-se em uma estaca exatamente onde as ondas batem na areia, pois, cada vez que a onda bater ali, irá levar um gostinho de sangue… o que atrai os sanguinários. Mas pela isca ser muito pesada, primeiro lança-se ao mar o chumbo, o qual deverá fixar-se na areia, especialmente nos poços mais fundos que são reconhecidos pelo quebrar das ondas. Após o chumbo ancorado, a isca irá deslizar até o local por um sistema parecido a uma mola, a qual é fixada a linha. Quanto a beliscada, dizem os profissionais, não precisa se preocupar que você vai saber quando é hora de fisgar o peixe. Apesar de que não tivemos a oportunidade de fotografar um, tubarões enormes são tirados destas águas, mas lançados ao mar novamente, por se tratar de uma pesca esportiva.

Deixamos a costa e rumamos para Spitzkoppe, região montanhosa que não passa dos 1.800 metros de altitude, mas que é de um visual surreal, pois simplesmente brota da planície em incontáveis formas de uma coloração avermelhada sem igual. Por dois dias, acampamos, fizemos caminhadas, apreciamos pinturas rupestres, banhos em piscinas naturais, etc… mas o que tirou mesmo o fôlego foi o primeiro amanhecer, quando o sol parece que incendiou o granito vermelho e fez daquele momento algo impressionante. Infelizmente o espetáculo durou menos de 10 minutos, pois as nuvens já esconderam o sol novamente.

Daqui, nosso destino era sempre norte e nossa próxima parada estava planejada para o Brandberg, região montanhosa que hospeda o maior pico da Namíbia. Até que conseguimos cumprir o planejado, mas no caminho, um grande desvio… pois demos de cara com um rio totalmente intransponível com suas fortes águas que vinham embaladas das montanhas. Tomamos o desvio, por estradas secundárias e ali, nesses 150km extras, o céu praticamente despencou em água. Por sorte, encontramos uma parte daquele mesmo rio com uma boa base em concreto, o que nos deu a possibilidade de encarar a travessia.

No Brandberg, estávamos somente nós, Claudio, Ruth, Bernard, Hilda e mais alguns litros de cerveja, champanhe, vinho, etc… para celebrarmos nossos exatos 2 anos na estrada. Foi a festa que estávamos precisando mesmo, pra afogar as mágoas com as ótimas cervejas da Namibia. O difícil foi, no outro dia, caminhar naquele calor com tamanha ressaca, para contemplar as artes rupestres que datam de 2.000 a 5.000 anos atrás, e que tem a White Lady como principal pintura. Aliás, o Brandberg por si só, contém milhares de pinturas rupestres feitas pelos Bushmens.

Outro lugar de tamanha ou ainda mais importância para a história da Namibia está localizado em Twyfelfountein, nome dado pelo colonizador europeu D. Levin e que traduz “fonte duvidosa”, pois a água que ele conseguia utilizar da fonte, não era suficiente para sua demanda. Lá em Twyfelfountein, ao invés de pinturas, os desenhos são escavados na superfície da pedra e que mesmo expostos as intempéries da natureza, sobrevivem há mais de 6.000 anos.

Se 6.000 anos de idade já fica difícil para acreditar, imaginem então 250 milhões de anos atrás!!! Não foram nem 50km que tivemos que dirigir e já estávamos nas Florestas Petrificadas da Namíbia. Não tinha nenhuma árvore ainda de pé, hehehe, mas de verdade, pudemos até sentir com nossas próprias mãos, trocos dos mais variados, preservados pela ação da petrificação e que estão lá até hoje, com seus anéis de crescimento, nós e qualquer outra característica da madeira. Neste mesmo sítio arqueológico, tivemos também a oportunidade de conhecer a Welwitschia  Mirabilis, planta endêmica que pode viver entre 500 e 600 anos e cujo maior espécime mede 1,4  metros de altura e 4 metros de diâmetro. O mais velho exemplar foi datado de 2.000 anos de idade, quando ainda estava vivo. Pode???

Vamos deixar aqui um pensamento, que Dr. Giesecke colocou:

“The length of a human life is too short to truly enjoy the full extent of natural processes. The best we can do is stand there and wonder.” (A duração da vida humana é muito curta para realmente testemunhar o processo completo da natureza. O melhor que podemos fazer é olhar e nos maravilhar com essas belezas.)

Chegamos em Opuwo e aqui já é Kaokoland, inóspito noroeste da Namíbia que hospeda uma das tribos mais lindas e intocadas da África, os Himbas. E pra fugir de qualquer experiência turística, decidimos encarar estradas terciárias, que adentram nas matas onde ainda existe muito animal selvagem, especialmente o elefante do deserto, que se diferencia um pouco dos normais por possuir longas pernas e por ser mais agressivo. Rodamos quilômetros e mais quilômetros por lá, a velocidades abaixo de 20km/h, mas o que vimos e sentimos valeu cada unidade de energia utilizada. Visitamos lá no meio do nada duas vilas Himbas, onde fomos muito bem recebido por ambas.

Os Himbas são um grupo étnico de aproximadamente 20.000 a 50.000 pessoas, que vivem na região do Kunene, formalmente Kaokoland. Nômades, pastores de gado e cabras, são relativos de outra etnia chamada Herero, e que falam ambos a mesma língua. Os homens usam poucas roupas, mas as mulheres são famosas por cobrirem-se por uma mistura de gordura, ocre e ervas para protegerem-se do sol e que as dão uma coloração acentuadamente avermelhada. A mistura também simboliza a riqueza do solo vermelho e o sangue, que representa a vida. De uma forma encantadora, as mulheres também fazem tranças em seus cabelos e os cobrem com exagerada quantidade da mistura do ocre.

Apesar de os Himbas viverem em árduo clima desértico, eles manejam para manter suas tradições e estilo de vida. Membros relacionam-se em uma estrutura tribal baseada na descendência bilateral. Este sistema de descendência bilateral é somente encontrado em poucos grupos no oeste da África, Índia, Austrália e Polinésia e é considerado pelos antropologistas, vantajoso para grupos que vivem em ambientes extremos.

Encantados com as experiências no Kaokoland, aproveitamos ainda para subir até o extremo norte para apreciar primeiramente a Epupa Falls e posteriormente a Ruacana Falls, ambas situadas na divisa entre os países Namíbia e Angola. Sentados apreciando aquela magnitude, as vezes pensávamos: Angola, tão perto, tão longe, hehehe!!!

Não percam nosso próximo diário de bordo, o qual já possui, talvez uma das melhores vivências que tivemos em toda a África, em se falando da Vida Selvagem!!!

Special thanks goes to Supa Quick and Bridgestone from South Africa, for the supply of new Bridgestone tyres for our car.

Agradecimento especial para Supa Quick e Bridgestone da Africa do Sul, pelo fornecimento de novos pneus Bridgestone para nosso carro.

Álbum: Namíbia 2

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