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Diário de Bordo 66 – Brasil: Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro 1

Diário de Bordo

(21/11/2009 a 09/12/2009)

Bahia, a terra da alegria!

Descendo a costa nordestina, nosso próximo destino foi a Bahia. Este é o estado brasileiro com maior influência da cultura africana, seja na religião, culinária, música e no modo de vida. Da miscigenação entre o índio nativo, com o português colonizador e com o negro escravizado, resultou uma cultura muito diversificada e um dos povos mais alegres e festivos do país. Foi nessa terra que nasceu o carnaval (posteriormente levado para o Rio de Janeiro com os negros migrantes em busca de melhores condições de vida) e também foi lá que inventou-se o Trio Elétrico com o ditado: “Atrás dele só não vai quem já morreu!”

No norte da Bahia, borda com Sergipe, pudemos visitar um pedacinho do paraíso, que já foi até cenário da famosa novela Tieta do Agreste do autor baiano Jorge Amado. Estamos falando de Mangue Seco (o nome verdadeiro é Santa Cruz da Bela Vista), pequena vila de pescadores que devido às dificuldades de acesso, ainda permanece bastante intocada. Enquanto a maioria dos turistas chega de balsa, nós dirigimos cerca de 30km de praia, o que só é possível, quando a maré está baixa. Dividindo espaço conosco, nas ruelas estreitas da vila e nas dunas de areia branca e fina, estavam diversos buguies, que transportam os turistas de um lado pro outro com “muita emoção”.

Passamos dois dias nas redondezas e, quando fomos sentar na sombra de um boteco a beira mar para tomar uma gelada, fizemos amizade com os donos do local, moradores da vila vizinha: Coqueiros. No final do dia, até fomos convidados para comer um cuscuz e um pedaço de bolo em comemoração ao aniversário de uma das filhas. Além dessa ótima experiência com os locais, foi nessa praia que presenciamos um espetáculo da natureza: os primeiros minutos de vida das tartarugas-marinhas, monitorado pelo PROJETO TAMAR.

Das sete espécies de tartarugas-marinhas existentes no mundo, cinco delas são encontradas no litoral brasileiro. Entre setembro e março, durante a noite, as fêmeas saem do mar para desovar nas praias de nosso litoral. Cada tartaruga pode desovar cerca de 120 ovos, os quais são enterrados na areia. Depois de aproximadamente 60 dias, dos ovos que desenvolveram-se e não foram comidos pelas raposas (seus maiores predadores terrestres), nascem as pequeninas tartarugas que, guiadas pela claridade da rebentação das ondas, seguem sozinhas para o mar. No mundo aquático elas encontram muitos outros predadores e estatísticas comprovam que de cada 1.000 ovos, somente 1 tartaruga irá chegar a vida adulta, sendo capaz de reproduzir-se. Uma curiosidade é que mesmo viajando milhares de quilômetros entre diversos países e até cruzando oceanos, no período de reprodução as tartarugas retornam às praias onde nasceram.

Para saber um pouco mais sobre o Projeto TAMAR, nos deslocamos para a Praia do Forte, onde situa-se uma das suas principais bases. Tudo começou nos anos 70, quando um grupo de estudantes de oceanografia percorreu as praias brasileiras realizando pesquisas. No percurso, eles acabaram percebendo que haviam muitas tartarugas mortas, principalmente por pescadores. Fotos e relatórios foram enviados às autoridades, já cientes da situação, e assim foi fundado o Projeto TAMAR (1980) que tem como objetivo proteger espécies de tartarugas-marinhas ameaçadas de extinção. Porém, percebeu-se que os trabalhos não poderiam ficar restritos à Conservação e Pesquisas Aplicadas as tartarugas e sim, abranger também as comunidades costeiras, trabalhando com a Educação Ambiental e ajudando no Desenvolvimento Local Sustentável, de forma a oferecer alternativas econômicas que amenizassem a questão social, diminuindo a caça das tartarugas-marinhas para a sua sobrevivência. A ferramenta principal de trabalho é a criatividade em atividades que envolvem atualmente cerca de 1.200 pessoas. O TAMAR também protege outras espécies de vida marinha como o tubarão lixa, a raia, a enguia, o mero, etc…

Da Praia do Forte foi um pulinho até chegarmos em Salvador, cidade que também é chamada de “Roma Negra”, por ser a metrópole com maior percentual de negros localizada fora da África. Enquanto nas outras partes do Brasil os negros vieram em sua maioria da Angola, na capital baiana eles provêm da Nigéria, Togo, Benin e Gana). Foram 3 dias de folia na casa dos baianos Moacir e Cristina, os quais conhecemos através deste website e tornaram-se grandes amigos.

A capital baiana é dividida em duas partes: a Cidade Alta e a Cidade Baixa, conectadas por diversas ladeiras e elevadores, como o histórico Elevador Lacerda. Salvador é conhecida por ter 365 igrejas católicas, uma para cada dia do ano. Apesar disso não ser verdade, são diversas as igrejas que sobressaem-se na paisagem da cidade. Um fato interessante das igrejas de Salvador é o sincretismo religioso, onde o catolicismo (de origem européia) convive junto com o candomblé (de origem africana), sendo um importante exemplo desta miscigenação religiosa a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim.

A parte mais famosa da cidade é o chamado Pelourinho. A palavra pelourinho corresponde a uma coluna de pedra localizada normalmente ao centro de uma praça, onde eram castigados escravos através de chicotadas durante o período colonial. Com o fim da escravidão, este local da cidade passou a atrair diversos artistas e tornou-se um centro cultural e histórico.

Em 1991, houve um grande investimento estatal na recuperação deste centro histórico baiano, quando melhorou a segurança, infra-estrutura para o turismo e restauração das edificações. Mas atualmente a região está um pouco abandonada e, a noite, suas ladeiras torna-se cenário para a prostituição e consumo de drogas. Isso é realmente uma pena, pois Salvador é mesmo uma cidade encantadora!

Depois de visitarmos as principais atrações da primeira capital do Brasil, que foi também a maior cidade das Américas, rumamos ao interior do estado. Nosso objetivo era desbravar um pouco da Chapada Diamantina, que como o próprio nome diz, já foi um importante centro do garimpo de diamantes e de ouro. Apesar de ter sido delimitada a área do Parque Nacional da Chapada Diamantina, a serra da chapada abrande muito mais do que os domínios oficiais e de tanta água que abunda na região, tornou-se um oásis no meio da caatinga.

Nosso portão de entrada foi a cidade Lençóis, que na época do garimpo era conhecida como a Capital do Diamante e de lá, partimos para visitar o balneário do rio Mucugezinho, com suas cachoeiras, lajeados, tobogãs e poços; o Morro do Pai Inácio (1.150m), um dos cartões postais e de onde é possível ter uma vista de 360 graus das serras e campos gerais da região; a Gruta da Pratinha, onde realizamos uma flutuação de 170m caverna adentro com uma visibilidade embaixo d’água de 60m; a Gruta Azul, que fica de uma cor azul-esverdeado quando a luz do sol incide dentro da caverna; a Cachoeira da Fumaça, que é a mais alta queda livre do Brasil, com 380m de altura, a qual acessamos por uma trilha de 6km (só de ida); e o incrível Poço Azul, onde é permitido nadar em suas águas com visibilidade parecendo infinita e onde foram encontradas ossadas de dezenas de animais, incluindo ossadas completas de preguiças gigantes (2m x 6m) de mais de 10 milhões de anos. Parecia que estávamos voando dentro da água, pois a profundidade, que parecia de apenas alguns metros, ultrapassava os 20m!!!

Mas o Brasil não é só praias, carnaval e paisagens exuberantes. Pra ser um Brasil realmente brasileiro, tem que ter FUTEBOL. E foi esse sentimento que nos fez mudar de planos e abrir mão da costa sul da Bahia para assistir um dos jogos da última rodada do Campeonato Brasileiro no Estádio Jornalista Mário Filho – Maracanã (ainda mais que os dois aqui são flamenguistas, hehehe). Cruzamos a Costa do Dendê, a Costa do Cacau e a Costa do Descobrimento com paradas apenas para dormir em postos de combustível. Em dois dias de muitos quilômetros rodados chegamos no estado do Espírito Santo. Aqui, a parada foi na capital Vitória, onde os amigos Marco Antônio e Beatriz nos receberam com uma Muqueca de Peixe Capixada de lamber os dedos. Reencontramos rapidamente mais amigos (Roberto, em Macaé e Roberto e Sueli em Niterói) pelo caminho, para finalmente chegarmos, com muita chuva, na cidade do Rio de Janeiro.

Fomos amparados na casa de nosso amigo Marcuxxx com sua irmã Ana Lídia e logo nos primeiros momentos na Cidade Maravilhosa, começamos a colher informações sobre o jogo de futebol, porem todos nos diziam que não conseguiríamos ingressos. A situação não estava nada fácil, pois todos os ingressos já haviam sido vendidos e os que poderíamos comprar, estavam na mão de cambistas, que pediam até 500 reais por um. Não desistimos e no domingo de jogo, fomos para a entrada do Maracanã tentar a nossa sorte. Comprar com os cambistas, nem pensar, pois os ingressos falsos estavam à solta. Conversa com um, conversa com outro e no jeitinho brasileiro conseguimos nossa vaga. O estádio possui atualmente uma capacidade para 92 mil espectadores, mas o público com certeza passou longe dos 100 mil e somente uma minoria, era do Grêmio.

Muitos falavam que o Grêmio iria entregar o jogo, mas não foi tão fácil assim, pois o jogo foi sofrido. Vimos a galera pular, calar-se quando a situação apertou e sentimos o estádio tremer quando o Flamengo derrotou por 2 a 1 o Grêmio e tornou-se pela sexta vez Campeão Brasileiro. É realmente um espetáculo que vale a pena participar.

Dá-lhe, Dá-lhe, Dá-lhe oooooh!

Dá-lhe, Dá-lhe, Dá-lhe oooooh!

Dá-lhe, Dá-lhe, Dá-lhe oooooh!

Mengão do meu coração!!!

Felizes da vida, fomos nos dias seguintes visitar um pouco dessa cidade carioca. Como todo mundo que vem para o Rio, visitamos o Cristo Redentor, monumento de Jesus Cristo localizado no topo do morro Corcovado, a 709m acima do nível do mar. Recentemente a obra foi votada como uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno e não é por menos, não só pela estátua (maior estátua de Cristo), mas pela vista espetacular de todo o Rio de Janeiro que se tem lá de cima. Uma das principais vistas e cartão postal da cidade é a da Baía de Guanabara com o morro do Pão de Açúcar ao fundo.

Visitamos o berço da boemia carioca, o bairro da Lapa, também famoso pela sua arquitetura. Caminhamos pelo centro, coração financeiro da cidade, onde de um lado nos deparávamos com casarios históricos e do outro modernos arranha-céus. Vimos os Arcos da Lapa, a Catedral Metropolitana, o Teatro Municipal, o Cine Íris, a Biblioteca Nacional… mas uma das obras que mais nos encantou foi o interior do Real Gabinete Português de Literatura. Esse gabinete foi fundado em 1837 por um grupo de quarenta e três imigrantes portugueses, refugiados políticos, para promover a cultura entre a comunidade portuguesa. É a maior biblioteca de autores portugueses fora de Portugal e entre os cerca de 400.000 volumes, nacionais e estrangeiros, encontram-se obras raras como um exemplar da edição famosa de “Os Lusíadas” Luis de Camões (1572).

Do Rio de Janeiro, subimos a acidentada Serra dos Órgãos, onde encontra-se a famosa formação “Dedo de Deus”, um bloco rochoso de 1.692m em forma de uma mão fechada com o indicador erguido. Passamos por Teresópolis e finalizamos esse trajeto na Cidade Imperial, Petrópolis. Depois de Salvador, a capital brasileira foi transferida para o Rio de Janeiro, sendo que Petrópolis era o lugar de veraneio da família real. Aqui, visitamos o Museu Imperial, que mostra o quão luxuosa era a vida de Dom Pedro II.

Deixamos o estado do Rio de Janeiro para conhecer um pouco das riquezas de Minas Gerais e, no próximo diário, chegamos ao fim de nosso expedição. Não percam os últimos quilômetros!!!

Álbum: Brasil_Bahia

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Álbum: Brasil_Espírito Santo

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Álbum: Brasil_Rio de Janeiro 1

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