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Diário de Bordo 17 – Austrália 3

Diário de Bordo

(15/07/2007 a 04/08/2007)

G’day mate!

 

A badalada Gold Cost, destino número um aqui na Austrália, possui 44km de praias de água azul, belas ondas para quem gosta de um bom surf, restaurantes, bares, baladas, shoppings, lojas, além de 446km de canais navegáveis, equivalendo em extensão a nove vezes os canais de Veneza. A região tem um estilo do nosso Balneário Camboriú atraindo turistas do mundo inteiro, mas em especial, atraindo os residentes de Brisbane, maior cidade nas proximidades. Se você procura um pouco de agito estará no lugar perfeito, mas não poderá ter pena de seu bolso. Como o bolso é parte importante de nossas roupas, principalmente sem nenhum furo, caímos fora e subimos para as montanhas, sentido o Lamington National Park. O parque possui bosques sub-tropicais, com diversos rios, cachoeiras, caminhadas e muitos animais, tendo destaque os wallabies, parentes dos cangurus, porém com uma estatura bem pequena. Caminhamos uns 9km pelo parque nacional, com suas árvores centenárias exibindo suas enormes e protuberantes raízes. Chegamos até o Coomera Falls, uma cachoeira impressionante que despeja sua água pura em um cânion no meio da floresta, formando assim o Coomera River.

“Falando em água pura, abrimos aspas para um assunto que merece destaque. A Austrália esta passando por um grande problema com água potável. Na verdade, se o Mundo não abrir os olhos para isso, todos teremos problemas num futuro próximo, pois apenas 3% da água do planeta é água pura, sendo que a maioria está congelada nos pólos. Isso significa que somente 0,6% está disponível para nosso uso. Não existe mais nenhum recurso de água a não ser este processo, que vem acontecendo a bilhões de anos, onde a água evaporada pelo sol e transpirada pelas plantas se transforma em nuvens, após em chuva, seguindo pelos córregos e rios até os oceanos e enchendo as reservas subterrâneas para atender a vida do ser humano. Posteriormente a todo esse percurso ela evapora e cai em forma de chuva novamente. Aqui na Austrália a situação é mais preocupante pois é o continente habitado mais seco de todos. Vejamos alguns números daqui para imaginarmos o que acontece também nos outros países. A água utilizada pelos Australianos (apenas 10% da população do Brasil) anualmente poderia quase encher o porto de Sydney 50 vezes, ou seja, individualmente as pessoas usam para o mesmo período a quantidade de água que daria para encher uma piscina olímpica! E grande parte desta água acaba mudando sua composição pela grande quantidade de produtos químicos que são misturados a ela…”

Voltando a caminhada: cruzamos com vários wallabies onde uns saíam correndo, ou melhor, pulando e outros ficavam ao nosso lado como se nada estivesse acontecendo. Era muito interessante vê-los segurando as plantas e comendo-as com suas pequenas patas dianteiras. Neste dia ainda pudemos dar comida para diversos papagaios que pousavam em nossas mãos, braços, ombros e até na cabeça. Chegamos a ficar com 4 papagaios pousados em uma só vez. Muito divertido e fizemos a festa!!!

Nosso próximo destino foi Brisbane, a capital do estado de Queensland, com aproximadamente um milhão e meio de habitantes. Uma cidade cosmopolita que se espalha às margens do rio de mesmo nome em uma organizada e bonita arquitetura.

Em Brisbane, estávamos aguardando resposta de um casal que havíamos conhecido por e-mail há uns 6 meses atrás. Como não havíamos mais recebido sua resposta, decidimos subir a serra e ir até a cidade deles, Toowoomba, onde iríamos procurar por seu telefone e contatá-los diretamente. Dito e feito, conseguimos seu telefone e endereço e os achamos por lá. Acabamos passando dois dias em agradável companhia deste casal, Haydn e Dianne, que são pessoas incríveis. Foi uma oportunidade única para troca de experiências, pois eles são motociclistas com inúmeras viagens pelo mundo. Nosso destino após a Austrália é o sudoeste asiático, lugar onde Haydn e Dianne percorreram, durante 4 meses, mais de 20.000km. Fora isso, descobrimos que estaremos seguindo pelos mesmos países e na mesma época quando estivermos rumando para a Europa depois de visitar a Índia, pois eles vão iniciar uma nova viagem de moto por essa região. Imaginem o quanto de informação não conseguimos obter!!! E por final, esta visita foi o mais forte incentivo para a grande mudança de planos que vínhamos estudando deste junho, a qual nos colocará primeiramente na Europa e somente depois de lá é que partiremos para a África. Conseguiremos assim eliminar praticamente todos os invernos de nosso caminho, o que nos ajudará muito. Em breve atualizaremos, em nosso SITE, o mapa para que possam ver detalhes do novo trajeto proposto.

De Toowomba, após nos despedirmos de nossos novos amigos, rumamos ao norte tanto pela serra como pela costa da Sunshine Cost (Costa do Sol), que fica ao norte de Brisbane. Esta costa, diferentemente da Gold Cost, oferece mais tranqüilidade. As praias também são lindas e desta vez a que ganhou mais pontos foi Noosa, por sua aconchegante cidade e pelas belezas naturais que ali se encontram.

Mas a aventura mesmo começou quando, após cruzar com um ferry boat partindo de Hervey Bay, adentramos com o Lobo da Estrada na maior ilha de areia do mundo, a Fraser Island (dizem que a Fraser Island possui maior quantidade de areia que o próprio deserto do Saara). São 120km de extensão por 15km de largura com uma vegetação muito densa, o que proporciona um crescimento excepcional das árvores, algumas com mais de 1.000 anos. Nesta ilha, apenas são autorizados veículos 4×4, pois as condições dos caminhos são bastante precárias. Nosso guincho Ekron nos tirou de duas enrascadas que sem ele, seria muito difícil de sair, devido a 100% dos solos serem arenosos, e para dificultar, não tem chovido nos últimos dias, o que deixa a areia muito fofa e pesada para os carros.

Sempre atentos as marés altas e baixas, percorremos quase 300km pela ilha, visitamos alguns de seus quase 200 lagos de água doce e cristalina, filtrada pela própria areia; tomamos banho em um rio de água doce e transparente; visitamos alguns mirantes, piscinas naturais formadas a beira da praia, um navio naufragado; rodamos pela 75 Mile Beach (praia com quase 100km de extensão) e para fechar com chave de ouro, vimos, do Indian Head, as gigantes baleias humpbacks. Gigantes por atingir até 15 metros de comprimento e pesar o equivalente a 11 elefantes, 45.000kg. Essas baleias migram, no inverno, em até 16.000km a procura de águas mais quentes para reproduzir e voltam para as águas polares para se alimentar.

Algumas curiosidades: A baleia humpback fêmea pode gerar até 600 litros de leite por dia para amamentar seu filhote que nasce com 1.500kg; quando estão em período de migração para as águas quentes, ficam até 5 meses sem se alimentarem; abordo das expedições espaciais Voyager I e II foi possível gravar o som emitido pelas baleias humpback.

Após estes três dias na ilha, já era hora de partir rumo ao norte. Passamos por Childers e Bundaberg, lugares onde se pode trabalhar na colheita de frutas. É nessas horas que entendemos por que as coisas aqui são tão caras, pois para se colher frutas, pode-se faturar até 22 dólares a hora! Chegamos até a procurar algum trabalho, porém nosso visto não nos permite trabalhar aqui, portanto seguimos viagem.

E, a tão esperada Grande Barreira de Corais começou! Os australianos chamam-na de oitava maravilha do mundo e talvez seja pouco. Com seus 1.900km distribuídos em cerca de 2.900 ilhas de recifes ao largo da costa do estado de Queensland, chega a ser o único organismo vivo do planeta possível de se enxergar do espaço. A Grande Barreira de Corais é mesmo algo espetacular, abrigando uma espantosa quantidade de criaturas marinhas, entre elas: 500 variedades de coloridos corais, 1.500 espécies de peixes e 4.000 tipos de moluscos, dentre outros.

Decidimos explorá-la partindo da cidade 1770 (nomeada assim em homenagem ao ano do descobrimento da Austrália), pois é um lugar menos turístico e assim, os corais são mais intocados e preservados. Dali, pegamos um barco que nos levou a ilha Lady Musgrave que é um lugar bonito mesmo, tendo 14 hectares de recifes de corais submersos e uma pequena ilha, habitat de uma enorme quantidade de pássaros que fazem seus ninhos nas árvores Pisoneas, as quais se espalham pela ilha. O interessante é que após essas árvores caírem, elas continuam suas vidas, crescendo a partir de seus próprios troncos e raízes caídos.

Quando chegamos nos corais, desembarcamos do barco principal e pegamos um pequeno barco com fundo de vidro, onde a caminho desta pequena ilha, fomos apreciando a vida debaixo da água. Fizemos uma caminhada entre as Pisoneas e logo depois do almoço começamos com os mergulhos pelos corais. Eram diversas formas, tamanhos e cores que ficam repletos de peixes e tartarugas. E adivinhem quem também veio para nos fazer companhia? Um pequeno tubarão dos recifes, que porém saiu correndo de medo, hua, hua, hua. Após algumas horas mergulhando, pegamos um barco semi-submersível e apreciamos ainda melhor a vida marinha, pois sentamos em uma parte do barco que ficava a uns 2 metros de profundidade, e esse ia percorrendo os corais, peixes e tartarugas.

Algumas informações interessantes sobre os corais:

– Os corais são membros da classe Anthazoa, que constroem um esqueleto de matéria orgânica ou carbonato de cálcio. Estes animais não possuem sistema digestivo ou circulatório, uma vez que a troca de gases e fluidos se dá no celêntero, quando a água entra e sai do corpo do animal através das correntes provocadas por seus próprios tentáculos;

– Alguns dos fatores que impedem o crescimento contínuo dos corais são temperatura, salinidade e PH. É por isso que a Barreira de Corais não chega a ser uma perfeita barreira fechada, pois os rios de água doce que desembocam no mar mudam a característica da água impedindo o crescimento dos corais nestas zonas entre os recifes, que são chamados de passes;

– Quase todos os corais constroem colônias que podem chegar a tamanhos consideráveis, a exemplo desta Grande Barreira de Corais, mas também existem alguns tipos que podem viver solitários;

– Como já citamos acima, alta temperatura é prejudicial à vida dos corais, quando os mesmos suportam somente até 28 graus centígrados. O aquecimento global como alguns outros motivos são uma grande ameaça a esta maravilha… podendo, em 2050, existir menos de 5% do que é hoje.

No caminho de volta ao continente, vimos novamente algumas baleias se exibindo para nós e nossa experiência que registramos neste diário terminou com o divertido encontro com a équidna a qual estava, vagarosamente, cruzando o asfalto em nossa frente. Sério, devido a sua lerdeza, quase foi atropelada umas quatro vezes pelos carros que em última hora a desviavam. A équidna se assemelha a um ouriço com o corpo coberto de espinhos e pelagem crespa. Chega a uns 30cm de comprimento mas o que mais chama a atenção é o focinho alongado com uma boca sem dentes, que porém, tem língua pegajosa para se alimentar de formigas e outros insetos. Agora vejam que interessante: esses animais possuem a visão muito apurada, e quando se sentem em perigo, se enrolam em seu próprio corpo para proteger sua barriga e assim deixam seus espinhos salientes… as fêmeas botam ovos e ainda possuem uma bolsa para fecundá-los até o momento de chocar e os filhotes são amamentados pelos poros, pois ao contrário de outros mamíferos, a équidna não possui mamilos definidos.

Neste momento estamos em Cooktown iniciando nossa jornada pelo Cape York, extremo norte da Austrália, onde os crocodilos dominam a região, mas este interessante episódio ficará para nosso próximo diário.

Álbum: Austrália 3

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