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Diário de Bordo 22 – Indonésia

Diário de Bordo

(12/10/2007 a 23/10/2007)

O arquipélago infinito…

Os últimos dias na Austrália foram de espera ansiosa para a descoberta de um novo mundo. Nossa vida estava prestes a mudar de 8 para 80. Organizamos nossas coisas, embarcamos o Lobo e no dia 12 de outubro voamos rumo à Indonésia. Adeus Austrália, adeus cangurus, coalas, rest areas, banheiros públicos com papel higiênico, organização, sossego… A Austrália vai deixar saudades!

“We are all visitors to this time, this place. We are just passing through. Our purpose here is to observe, to learn, to grow, to love… and then we return home.” (Australian Aboriginal belief)

A República da Indonésia é um grande país localizado entre o sudeste asiático e a Austrália e é composto pelo maior arquipélago do mundo, com 18.108 ilhas distribuídas em quase 2 milhões de quilômetros quadrados de superfície total. É o quarto país mais populoso do mundo com aproximadamente 225,3 milhões de habitantes, no entanto, o fenômeno de superpopulação está confinado nas ilhas de Java e Bali (50% da população vive somente em Java).

Assim que desembarcamos no aeroporto em Denpasar – Bali, sentimos a mudança no ar. Outros cheiros, outras caras… Chegamos meio perdidos, pois somente no avião é que olhamos um para o outro e nos perguntamos: “Aonde vamos ficar?”. Nem tínhamos reservado hotel e quando chegamos já era passado da meia noite. A chegada foi rápida, pegamos nossas mochilas e quando saímos do aeroporto todos os outros passageiros haviam desaparecido. De repente duas mulheres se aproximaram e vieram perguntando em inglês aonde iríamos ficar, pois elas também não tinham reservado hotel e estavam meio perdidas. Olha a coincidência: ambas eram brasileiras. Flávia e Elaine tornaram-se grandes amigas e companheiras por alguns dias de viagem, os quais foram bem dosados entre as nossas e as delas prioridades, ou seja, desbravar a ilha e fazer compras.

A Indonésia foi uma colônia holandesa, teve influências comunistas e somente recentemente, no ano de 1945, conseguiu sua independência. Apesar de ser uma das nações mais novas do mundo, possui um dos povos mais antigos da face da terra, pois buscas arqueológicas descobriram o antigo “homem de Java”.

Entre os séculos VII e XIV predominavam os reinos hindu e budista, porém, atualmente, o islão tornou-se a religião dominante no arquipélago. A Indonésia é a maior nação islâmica do mundo, com 200 milhões de muçulmanos (88% da população), mas a maioria dos monumentos e templos ainda é de origem hindu e budista. A diferença dos muçulmanos indonésios é que apesar de seguirem as tradições da sua religião, são menos fervorosos que a maioria dos mulçumanos de países árabes e aqui, as mulheres não cobrem a face com o véu.

Falando especificamente do povo de Bali e algumas pessoas de Lombok ocidental, os mesmos seguem uma religião chamada Bali-Hinduismo, a qual é baseada no hinduismo e ainda inclui antigas crenças da tradição de Bali e Java. Os bali-hindus cultuam o espírito da natureza incluindo montanhas e grandes árvores e honram também os espíritos dos antepassados que, segundo sua crença, vem visitá-los. Todos os dias são realizadas oferendas aos deuses Brahma, Shiva, Vishnu e ao seu deus supremo, Sanghyang Widi.

Como tínhamos apenas 11 dias para explorar o país, decidimos apenas conhecer duas ilhas deste arquipélago infinito: a Ilha de Bali e sua vizinha, Ilha de Lombok. Em Bali gastamos a maior parte de nosso tempo na região de Ubud, centro cultural e artesanal balines e tivemos a sorte de estar nesta cidade justamente no dia em que iria acontecer uma cerimônia muito importante para os bali-hindus, a cremação do corpo de uma pessoa descendente da família real que havia falecido. A cremação libera a alma para que esta possa ir à sua nova vida e por tanto, é causa de celebração. Foi algo totalmente diferente do que já tínhamos visto em nossas vidas.

Como em qualquer outro país asiático, aqui, o aspecto externo reveste suma importância e tivemos que nos trajar com o sarong, roupa típica que se assemelha a uma saia, para transmitir respeito aos hindus. Foram feitas plataformas enormes e com decorações incríveis, as quais foram transportadas por centenas de balineses, desde a casa do finado até o local da cremação, o que deveria pesar toneladas. A torre funerária pendia para todos os lados e dizem que é muito importante que ela pule, sacuda, gire, contorcione e mexa, pois assim a alma da pessoa falecida ficará desorientada e não conseguirá encontrar o caminho de casa. Uma cerimônia deste tipo costuma ser cara, de modo que os corpos podem permanecer enterrados durante meses ou anos até que seja possível custear sua cremação. Seguimos a multidão trajada tipicamente e vimos um pouco das famosas danças típicas balinesas, embaladas pela mais popular música indonésia, o gamelan, que foi tocado por uma orquestra composta principalmente por instrumentos de percussão, acompanhada por flautas e xilofones.

Após essa aula de cultura, a bordo do Kijang, nosso carro alugado, visitamos diversos templos hindus, como o Ulun Danu Batur Temple, o Gunung Kawi Temple e a Sagrada Floresta dos Macacos, onde vivem cerca de 300 macacos. Foi muito divertido ver essas figuras brincando, comendo, dormindo e amamentando. Teve até um macaco que pulou no ombro do Roy e não queria mais largar. Visitamos também casas tradicionais balinesas, lojas e feiras de artesanato, além das plantações encantadoras de arroz em terraços escalonados de um verde muito vivo.

A vida cotidiana do camponês está determinada, principalmente, por dois fatores: o “adat” e o arroz. Entende-se por “adat” os hábitos, regras, costumes e conceitos legais, que tem prevalecido desde datas longínquas nas relações humanas dos indonésios. Tudo está relacionado com o “adat” e atentar contra ele, significa ficar excluído da comunidade, aldeia ou família, que é para os indonésios o fundamento da sua vida.

O arroz é o mais tradicional alimento na Indonésia, sendo cozido ou frito e servido com uma grande variedade de outras comidas e preparado com leite de coco e óleo. Além do arroz, são típicos também o peixe e a carne, especialmente a de galinha, seja cozida, assada, junto com uma extensa variedade de ingredientes, como ovos, hortaliças e vegetais de acordo com a temporada e a região. A carne de porco não é consumida pela população muçulmana, pois o porco é sagrado para eles, enquanto que a carne bovina não é consumida pela população hindu, pelo mesmo motivo. As especialidades mais populares são os pratos masi goreng, o qual consiste principalmente em arroz e o mie goreng, que é um prato de macarrão frito. Pudemos apreciar a culinária indonésia a qual é mesmo deliciosa. Huuuuummmmmm!

Os balineses desenvolveram uma arte extraordinária inspirando-se fundamentalmente na religião. A ilha é um paraíso para as compras, destacando-se a arte e o artesanato, os quais foram recentemente popularizados no mundo todo pela venda dos chamados ‘artigos de Bali’. São encontrados grandes trabalhos em madeira, sarongs de tecido manual, artigos de ourivesaria em ouro e prata, trabalhos de couro e zinco, pinturas, porcelanas chinesas, máscaras, fantoches, móveis, trabalhos de ratán, cestas e bambu, assim como, enfeites realizados em conchas, antiguidades e jóias. Com tanta coisa, é facinho, facinho chegar à beira da loucura. Ainda mais que tudo é muito barato.

A unidade monetária é a Rupia da Indonésia, sendo U$1,00 = Rp 8.900,00. Existem muitos vendedores ambulantes e pessoas tentando ganhar de alguma forma seus trocados. O povo fica no seu pé sarneando para vender algo e não adianta dizer 10 vezes não, pois eles continuarão te seguindo por muito tempo. Porém eles são muito flexíveis quanto aos preços e se você sarneia eles da mesma forma e pechincha ao máximo o preço, consegue comprar por 2 a 3 vezes mais barato do que a primeira oferta.

Depois de Bali, seguimos para a pacata Ilha de Lombok (cerca de 5 horas de ferry), onde montamos a nossa base na cidade de Senggigi. Lá, alugamos uma moto e pudemos explorar um pouco mais dos quilômetros e quilômetros de praias de águas azuis e cristalinas, vilarejos e cidades. O trânsito na Indonésia é uma muvuca, não existindo muitas regras e a prioridade é sempre do maior ou de quem se enfia na frente primeiro. São milhares de motos, as quais se enfileiram nos semáforos como se estivessem prestes a largar em uma corrida e muitas delas carregam uma família inteira (pai, mãe e até duas crianças).

Devido ao clima quente, em quase todas as zonas cresce abundantemente a vegetação, que é de um verde indescritível. A Indonésia possuía 10% da floresta mundial, porém, atualmente, possui também a maior taxa de desflorestamento e mais de 70% de suas florestas já foram devastadas. Outro elemento marcante na paisagem são os vulcões, sendo que em todo o país são mais de 129 vulcões ativos e foi em um desses vulcões que tivemos uma das melhores experiências no país.

O dia 19 de outubro começou às 5 horas da manhã, quando pegamos um ônibus sentido a cidade de Senaru. De lá, foram em torno de 6 horas de caminhada para subir os 2.040m (de 601m até 2.041m) até atingir a cratera do sagrado e segundo maior pico da Indonésia, o Gunung Rinjani. O visual foi espetacular, pois pudemos avistar a nossa esquerda o pico do Rinjani com seus 3.726m de altitude, e a 600m abaixo de nossos pés, dentro da imensa cratera do vulcão, um lago verde e um novo cone vulcânico. Valeu cada passo!!! Acampamos a beira da cratera e no dia seguinte, após ver o dia amanhecer por detrás daquela miragem, descemos tudo o que escalamos no dia anterior.

Mas o que faz da Indonésia uma experiência inesquecível mesmo não são as praias, a comida, os vulcões, o trânsito, mas sim, o povo indonésio que figura entre as pessoas mais hospitaleiras, amigáveis, joviais, simpáticas, sinceras e afetuosas do mundo. Chega até cansar de tantas vezes que você cumprimenta os locais e de tanto responder suas perguntas. Todos querem saber de onde você é, o que vai fazer, para onde vai, quanto tempo vai ficar e quando escutam que somos brasileiros exclamam nomes como: Ronaldo, Ronaldinho, Kaká, futebol… Muitos deles falam inglês, alemão, holandês, sem contar as mais de 250 línguas e dialetos diferentes e a língua oficial, o bahasa indonésio, que é considerado um dos idiomas mais simples do mundo, pois não tem tempos verbais, e nem gêneros e com freqüência uma palavra comunica o sentido de uma frase inteira.

Nosso tempo na Indonésia foi curto, porém deu pra sentir um gostinho do país e colocá-lo na nossa lista de lugares que teremos que voltar. No dia 23 à noite, voamos rumo à moderna Singapura, onde passaremos uns 5 dias e depois seguiremos para Port Kelang – Malásia para encontrar o Lobo da Estrada, pois já estamos morrendo de saudades de nossa casa ambulante.

Álbum: Indonésia

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