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Diário de Bordo 38 – Irã 2 e Turquia

Diário de Bordo

(08/06/2008 a 23/06/2208)

Ásia ou Europa???

Chegar em uma grande cidade não é uma tarefa fácil, pois leva algum tempo até entendermos como funcionam as ruas, o trânsito e toda a dinâmica do lugar. E quando temos que achar alguma coisa então, rodamos de lá para cá, pergunta ali, pergunta aqui e muitas vezes não achamos o que precisamos. Nossa sorte, em Teerã, é que conhecemos um iraniano chamado Aydin, o qual nos ajudou na procura de peças sobressalentes para o carro. Não sabemos se vocês ainda lembram, mas terminamos nosso último diário com um problemão: não estávamos encontrando as pastilhas de freio, pois as Land Rovers iranianas possuem um sistema diferente de freios. Nossa sorte é que há sempre uma luz no fim do túnel e a solução encontrada foi repastilhar as pastilhas antigas com um resultado show de bola.

Nosso amigo Aydin, depois de toda a sua ajuda, nos convidou para fazermos uma viagem juntos até o Mar Cáspio e, é lógico, topamos na hora. Com o Lobo da Estrada zerado e nosso passaporte renovado, pois nossas páginas haviam acabado, rumamos sentido as Montanhas Alborz ao norte da capital. A paisagem de todo o trajeto foi espetacular, com montanhas desérticas mudando para montanhas verdes e floridas até chegarmos em uma floresta densa, resultando em muitas fotos e ótimas lembranças.

Chegando no Mar Cáspio, maior lago do mundo em área e em volume, nos decepcionamos um pouco, pois quando fomos fazer um piquenique a beira da praia, nos deparamos com uma montoeira de lixo e na hora de procurar por conchas e pedras, tínhamos que cuidar para não pegarmos plásticos, garrafas e até osso de galinha. Além da sujeira, eram poucos os lugares onde podíamos ver o mar e acessá-lo, pois as construções particulares dominam quase que cem por cento das margens. Sem muitos atrativos nesta região, nos despedimos de Aydin e de sua namorada, nos despedimos do Mar Cáspio e, mais alguns quilômetros adiante, nos despedimos do Irã para entrarmos em um novo país, a Turquia.

Muitas pessoas, quando pensam na Turquia, possuem uma dúvida: esse país pertence a Ásia ou a Europa? Na verdade, a República da Turquia é um país euroasiático, ou seja, pertence aos dois continentes por possuir uma pequena parte européia, a Trácia e uma grande parte asiática, a Anatólia. Nós rodamos apenas no lado asiático, pois se do lado de cá os preços já aumentaram absurdamente, imaginem na Europa.

Falando em preços e contrastes… o combustível no Irã era baratíssimo e com menos de um dólar enchíamos nosso tanque principal de setenta e poucos litros, sendo o preço de diesel mais barato que pagamos. Já na Turquia, país vizinho, nos deparamos com o diesel mais caro da viagem, onde 1 LITRO = 2,64 DÓLARES = 4,35 REAIS, pode? Já sabendo disso, por alerta de outros viajantes, enchemos todos os nossos tanques (principal e reservas), além de diversos galões menores. Nosso objetivo era cruzar a Turquia sem precisarmos abastecer. Na borda, há um controle para não haver contrabando do diesel do Irã para a Turquia e, para conseguirmos passar com esse diesel, tivemos que esconder uns galões pequenos no meio de nossas coisas. Felizmente, conseguimos passar sem nenhum problema.

Com essa questão do combustível caro, não pretendíamos rodar muito na Turquia e nossas prioridades eram de visitar 3 lugares: o Monte Ararat, o Monte Nemrut e a famosa região da Cappadocia.

O Monte Ararat, com 5.137m de altitude, é uma montanha lindíssima localizada em território turco, próximo a borda do Irã e da Armênia. A sudoeste do cone principal, há um cone um pouco menor de 3.896m que é conhecido como “O Pequeno Monte Ararat”. Assim que entramos na Turquia, paramos nosso carro e acampamos ao lado dessa montanha espetacular e no outro dia de manhã pudemos apreciar o gigante, pois duas horas depois do sol nascer é o melhor horário para avistá-lo, não havendo nuvens ao seu redor.

Na parte mais elevada do Monte Ararat existe uma grande “anomalia” que, segundo algumas pesquisas com imagens de satélites desde 13 anos atrás, poderia ser a Arca de Noé. A mencionada anomalia se encontra a 4.663 metros de altura, está ao nordeste do monte e está coberta por gelo glacial. A única face da montanha acessível é a face sul e, como a Arca de Noé estaria do lado norte, até hoje não se comprovou a sua veracidade. Será???

Depois de apreciar o Mt. Ararat, seguimos viagem rumo ao Monte Nemrut (3.050m) que é um vulcão inativo. Há dois milhões de anos atrás, devido a erupção deste vulcão ter bloqueado um rio, formou-se o Lago Van, maior lago turco. O nível da água deste lago agora é mantido pela evaporação, o que resulta em uma alta concentração mineral e extrema alcalinidade, sendo que roupas lavadas no lago são limpas sem o uso do sabão. E é muito interessante, que quando pegamos na água do Lago Van, parece mesmo água de sabão.

O legal do Monte Nemrut é a possibilidade de se dirigir dentro da cratera do vulcão inativo e ainda mais… a possibilidade de acampar lá. Passamos dois dias no local curtindo a fantástica paisagem, onde formaram-se 5 lagos: dois lagos pequenos; o Lago Frio, maior de todos; o Lago Quente, devido as águas quentes que saem do solo e onde dá pra tomar banho; e o Lago dos Carneiros (esse nome fomos nós que demos), pois os pastores levam suas centenas de ovelhas para tomarem água neste lago. Além da companhia dos carneiros e de duas mulas muito simpáticas, tivemos a companhia de um casal belga muito divertido que conhecemos por lá, Veronique e Filip.

A Cappadocia foi nosso terceiro destino na Turquia e podemos dizer que foi a maior atração de nossa viagem nessas terras. Esse local é famoso por suas singulares formações rochosas, onde por mais de séculos pessoas escavaram casas, igrejas, fortalezas e até mesmo, cidades inteiras embaixo da terra.

A formação desta paisagem começou a cerca de 30 milhões de anos atrás com as erupções de 3 vulcões que dominam a região. Essas erupções deixaram uma camada grossa de cinzas, a qual com o passar do tempo se transformou em uma camada de pedra mole e porosa, chamada tufa. Depois de erosões constantes causadas pelo vento e pela água, essa camada foi esculpida nas extraordinárias e surreais formas atuais, muitas delas parecidas com chaminés e com cogumelos.

Devido as diversas estradas que atravessam a região, a Cappadocia tinha grande importância estratégica e durante anos povos disputaram o seu domínio. Os cristãos que habitavam essa região construíram essas cidades subterrâneas, que datam de cerca de 1.000 anos atrás, para serem usadas como refúgio e esconderijo.

Visitamos o Museu a céu aberto de Zelve e diversos vales da região de Göreme, onde pudemos caminhar por entre essas cidades escavadas na pedra, entrar nas casas, escalar os diversos andares, apreciar as igrejas e suas pinturas e imaginar um pouquinho como era a vida neste lugar. Era muito divertido, pois alguns lugares e morros pareciam formigueiros de tantos buracos e canais. Foi muito interessante também ver como algumas das cidades atuais se desenvolveram ao redor das vilas antigas, se apropriando das casas-caverna e construindo suas novas casas, hotéis e restaurantes em anexo. Algumas vezes nos sentíamos na Terra dos Smurfes e outras na Idade da Pedra com os Flinstones.

Depois de todas essas andanças a céu aberto, fomos para debaixo da terra visitar uma das mais de 40 cidades subterrâneas encontradas na Cappadocia. Visitamos a cidade de Kaymakli com seus mais de 100 pequenos, estreitos e íngremes túneis. Kaymakli, embora chamada de cidade, provavelmente servia mais como um abrigo de refúgio dos inimigos do que como uma cidade para morar. Discretas entradas dão lugar a um elaborado sistema subterrâneo organizado em torno dos vitais dutos de ventilação, poços d’água, chaminés e túneis de circulação. Os primeiros níveis eram onde as pessoas viviam, enquanto os níveis mais baixos eram usados como armazéns, cozinhas, vinícolas, moinhos e capelas. Apesar de possuir oito níveis embaixo do solo, apenas quatro são abertos ao público, mas mesmo assim, foi muito sinistro visitar esse incrível lugar que mexeu com a nossa imaginação…

De volta a luz do dia, caímos na estrada e com um detalhe, com NOVOS PNEUS!!! Seguimos rumo a Síria, onde entramos no dia de ontem pela manhã.

 

PS 1: No diário do Paquistão havíamos comentado sobre os comprimentos entre os homens. No Irã e na Turquia nem precisa do terceiro encontro, pois é de cara que eles partem para o aperto de mão acompanhado de 2 beijinhos. Dessa vez o Roy não escapou, hahaha.

PS 2: O povo turco também nos surpreendeu com sua imensa hospitalidade, sempre amigáveis e nos convidando o dia inteiro para tomar um chá. As vezes nem nos convidam, simplesmente chegam de mansinho, nos entregam duas xícaras cheias e saem felizes. Um dia aconteceu que um homem nos trouxe dois pratos de sopa (isso que já estávamos cozinhando), um prato cheio de melão para sobremesa e dois chás. Inacreditável.

Álbum: Irã 2

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Álbum: Turquia

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