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Diário de Bordo 40 – Jordânia

Diário de Bordo

(06/07/2008 a 14/07/2008)

500 dias de expedição!!!

Meio-dia do dia 30 de junho chegamos na borda entre Síria e Jordânia e duas horas depois de burocracias e pagamento de taxas, estávamos oficialmente dentro do Reino Hashemita da Jordânia. Felizes da vida como sempre, depois de termos cruzado mais uma borda sem problemas, rumamos sentido a cidade de Jerash, cujas ruínas são famosas por pertencerem a colônia romana mais bem preservada.

Já sabíamos que não era barato visitar esse local, mas mesmo assim, fomos para lá dar uma olhada. Chegando em Jerash, ficamos um pouco desapontados pois as ruínas estão rodeadas pela cidade atual e cercadas com uma cerca que mais parece um campo de guerra. Para nós, elas perderam o seu contexto. Para economizar o dinheiro da entrada, o jeito foi escalar o teto do Lobo da Estrada e tirar algumas fotos por cima da cerca, para comprovar que estivemos mesmo por ali.

Depois de uma passagem rápida pela capital Amã, considerada a cidade do mundo árabe mais cara para se viver, nos deslocamos para o Monte Nebo. Segundo a Bíblia, este foi o local onde Moisés contemplou a Terra Prometida antes de morrer aos 120 anos de idade. A vista deste lugar é mesmo espetacular, onde pode-se apreciar o Mar Morto, a esquerda; uma vasta planície cortada pelo Rio Jordão, local onde Jesus foi batizado por João Batista, a direita; e lá no fundo, se o céu estiver limpo, dá pra ver a cidade de Jerusalém, para onde fomos no dia seguinte e passamos os 3 dias que já foram relatados no diário anterior.

De volta a Jordânia, após nossa breve peregrinação por Israel, fomos nos banhar no Mar Morto. Com cerca de 400 metros abaixo do nível do mar, este mar é o ponto mais baixo da superfície terrestre e suas águas são as que contêm a maior concentração de sal em todo o mundo, sendo dez vezes superior à dos demais oceanos (a concentração média nos oceanos é de 3 gramas de sal por 100 mililitros de água, já no Mar Morto, essa taxa é de 30 a 35 gramas de sal por 100 mililitros de água). Essa alta concentração salina torna impossível qualquer forma de vida – flora ou fauna – e o calor que faz neste buraco mais profundo da terra, torna impossível não parar para refrescar-se nestas águas salgadas.

Procuramos uma praia pública, pois muitas são ocupadas por Resorts e Spas, colocamos a nossa roupa de banho, PLUFF dentro da água e já fomos flutuando pelas águas mornas do Mar Morto. Deu até para ler um pouquinho, bem relaxados e sem nos preocupar com a hipótese de afundar e molhar o livro. As pedras nas margens do mar e até mesmo algumas partes de seu fundo eram brancos de puro sal. Depois do banho, o jeito foi ir direto para o chuveiro, antes que o esqueleto enferrujasse.

Apesar de nossa expedição ter transcorrido muito bem até agora, sempre temos alguns pepinos para resolver. Dessa vez, o problema era com o nosso Carnê de Passagem de Aduanas, documento que nos permite viajar de carro por outros países sem precisar importar o veículo. Já prevendo que as folhas do Carnê não seriam suficientes para toda a viagem, nos antecipamos há alguns meses e fizemos contato com o Automóvel Clube da Venezuela pedindo para eles nos ajudarem na emissão de um novo Carnê, o qual precisaremos para entrar na maioria dos países africanos. Naquela época, estava tudo certo, mas agora, quando o processo precisava mesmo ser executado, não recebíamos retorno do pessoal de lá. A preocupação bateu forte, já que só nos resta uma página do documento, o que nos possibilita viajar somente até o Egito (próximo destino). Dedicamos horas tentando algum contato, mas acreditamos que nem sempre as pessoas entendem a nossa situação por aqui: a de não estarmos em nossa casa, onde tudo e fácil e acessível. Estamos do outro lado do mundo, não falamos nada de árabe, nem sempre encontramos internet ou telefones que nos permitam fazer ligações internacionais, e se encontramos, são absurdamente caros… aí tem a questão da diferença de fuso horário, pois quando do lado de cá o comércio está aberto, do outro lado do mundo ainda não estão trabalhando e vice-versa. Finalmente, conseguimos contatá-los, porém apareceu um outro pepino: receber em qual endereço? Os contatos recomeçaram, mas agora no Egito. Depois de muita procura, conseguimos a ajuda de um brasileiro que trabalha na Embaixada Brasileira no Cairo, o qual se prontificou a receber o documento por nós. UFA, agora é só esperar e confirmar que deu tudo certo e que poderemos seguir viagem tranqüilos.

Feita toda a parte burocrática da viagem, era hora de pisar no acelerador e dirigir por uma das estradas mais bonitas do reinado, a King’s Highway (Rodovia dos Reis) que corta as montanhas jordanianas. Essa rodovia, além de toda a sua paisagem espetacular, nos levou até a cidade de Petra que foi considerada recentemente uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo e é, claro, a maior atração turística da Jordânia.

A partir do século VII a.C., a presença mais expressiva pelas terras que hoje abrangem o sul da Jordânia foi a dos nabateus, um povo nômade oriundo da Península Árabe. Esse povo construiu uma próspera civilização na área, beneficiando-se do controle das importantes rotas de caravanas entre a Mesopotâmia e o Egito. Eles eram muito inteligentes, práticos e estavam abertos a influências externas, sempre procurando aprender com outras culturas. Essa mistura de características se refletiu em seu dia-a-dia e pode ser vista até hoje na arquitetura de Petra. Infelizmente, com o domínio romano e com a mudança das rotas comerciais, os nabateus chegaram ao seu declínio e a cidade rosa-avermelhada de Petra fora abandonada e ficou sujeita as intempéries e inundações.

Visitamos o local em apenas um dia, embaixo de um sol de rachar. Para chegar na cidade, é preciso cruzar o desfiladeiro Siq que possui mais de 1km de comprimento e chega, em alguns trechos, a 80m de altura. Chegando-se ao final desse desfiladeiro, nos deparamos com o monumento mais bem preservado da cidade, o edifício da Câmara do Tesouro esculpido na face de um penhasco de uns 40 metros de altitude. Uma curiosidade sobre esse edifício é que ele foi utilizado como cenário do filme Indiana Jones e a Ultima Cruzada. Caminhando mais um pouco, passamos pela Rua das Fachadas, onde diversas tumbas foram talhadas na pedra. Mais adiante nos deparamos com o teatro que possui uma arquibancada para 4.000 espectadores esculpida a mão e, mais uma pernada puxada, chegamos no edifício conhecido por Monastério, segunda maior atração do local. No dia que completamos 500 dias na estrada, não poderíamos ter tido presente melhor do que a visita a Petra e não poderíamos terminar em melhor forma, do que com um copão de cuba, he he.

Cerca de 80% do território jordaniano é coberto por desertos. O maior e mais famoso deles é o chamado Wadi Rum, considerado uma das mais bonitas paisagens desérticas do globo. As montanhas de calcário e granito com altitude maiores que 1.700m que emergem de vales arenosos e que são cortadas por cânions estreitos foram o nosso plano de fundo por dois dias. Acampados durante o dia em um vasto, colorido e silencioso deserto e cobertos a noite por um céu de estrelas, tivemos neste paraíso uma de nossas melhores experiências no deserto.

Seguindo viagem, chegamos na cidade de Aqaba, onde nossa viagem pela Jordânia e também pelo continente asiático literalmente ACABA. Nossa porta de saída foi o azulado Mar Vermelho, famoso entre mergulhadores pelas suas águas límpidas e pela exuberância de sua vida submarina.

Nossos planos iniciais eram de ficarmos 7 meses pela Ásia, porém encantados por esse continente, acabamos ficando mais de 10 meses. É difícil citar qual foi a melhor experiência por aqui, pois em cada país nos deparamos com situações únicas e paisagens singulares, as quais são impossíveis de comparar com outros lugares. Mas a Ásia foi um caso a parte em nossa expedição, pois para nós, até agora, foi o lugar e a cultura mais diferentes que vivemos. Podemos dizer que o oriente nos surpreendeu muito com a maioria de suas estradas em boas condições, paisagens exóticas e encantadores, comida baratíssima e deliciosa, cultura riquíssima, arquitetura cheia de detalhes e um povo amigável e simpático, sempre com um sorriso estampado no rosto e sempre pronto a nos ajudar. Indonésia, Singapura, Malásia, Tailândia, Mianmar, Laos, Vietnã, Camboja, India, Nepal, Paquistão, Irã, Turquia, Síria, Israel e Jordânia… vamos ter ótimas lembranças dessa parte do mundo!!

Álbum: Jordânia

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