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Diário de Bordo 50 – África do Sul 2 e Namíbia 1

Diário de Bordo

(18/01/2009 a 09/02/2009)

As vezes precisamos correr riscos…

Foram exatamente duas semanas na Cidade do Cabo nos preparando para a costa oeste africana. Arrumamos o alternador pela quinta vez, compramos peças sobressalentes para o carro, estocamos o máximo de comida que conseguimos fazer entrar nos armários, compramos remédios e testes para malária, porém, nossa principal tarefa que era fazer o visto de Angola, não conseguimos realizar. Infelizmente os angolanos gostam de complicar e dificultar a entrada de estrangeiros em seu país e nossa solução, ou única saída, seria seguir viagem sem o visto angolano e fazer a última tentativa na Namíbia, mesmo sabendo que lá eles também não emitem vistos para estrangeiros.

Os aborrecimentos com essa história complicada de vistos logo foram atenuados pela alegria que sentíamos de finalmente estarmos vendo nosso carro rumando para onde a bússola aponta, norte. Os dois últimos dias na África do Sul foram de muita quilometragem pela inóspita e desértica região oeste, famosa pelos seus tapetes de flores selvagens na primavera, mas cuja monotonia na atual época do ano, só é quebrada uma vez ou outra, pelos verdes vinhedos.

Dia 02 de fevereiro chegamos na fronteira com a República da Namíbia. Nem foi preciso gastar muito tempo para cruzarmos a borda mais fácil do mundo e termos diante de nós o famoso Deserto da Namíbia, fazendo-nos sentir pequenos em frente a sua tamanha imensidão. O que acentua ainda mais a sensação de liberdade e de solitude por aqui é o fato de um território tão grande ser habitado apenas por uma população de 2,04 milhões de habitantes, concentrados sobretudo no norte e na zona da capital Windhoek.

O português Bartolomeu Dias, em 1846, foi um dos primeiros europeus a explorar a costa sudoeste africana, mas a região não foi reclamada para a coroa portuguesa. Na seqüência, a Alemanha passou a controlar o território até a sua derrota na Primeira Guerra Mundial, quando a União Sul-Africana obteve o mandato para administrar aquele território, como sua colônia. Em 1966, a SWAPO (South-West Africa People’s Organisation), um movimento que lutava pela independência, lançou uma guerrilha contra as forças sul-africanas ocupantes, mas somente em 21 de março de 1990 que a Namíbia alcançou a sua independência tornando-se um dos países mais novos da África.

Já no sul do país, fomos visitar o Cânion do Rio do Peixe (Fish River Canyon) o qual é o maior cânion do continente africano e o segundo maior do mundo, possuindo 160km de comprimento, mais de 27km de largura e podendo atingir 550m de profundidade. Pode-se fazer uma caminhada de 85km seguindo o leito do rio por 5 dias, porém, devido as altas temperaturas que ocorrem na região nessa época do ano, não é permitido realizá-la. Tivemos que nos contentar de ver esse gigante apenas dos mirantes que também não foi uma má opção, pois as vistas são de ninguém botar defeito. O mais difícil foi agüentar o sol de rachar em nossas cabeças e quando estávamos relaxando debaixo da sombra do mirante principal, chegou um casal que nos ofereceu mangas para comer. A partir do momento que dissemos sim, fizemos amizade com os sul-africanos Hilda e Bernard, que haviam deixado a sua cidade natal, a Cidade do Cabo, há apenas uma semana atrás para uma viagem de lua-de-mel pelo continente africano.

Naquela mesma noite, quando acampávamos juntos, descobrimos que seguíamos na mesma direção e decidimos viajar em comboio até Windhoek. Bernard é afixionado em pesca e por tão preparado que ele está para tal, podemos dizer que ele é um pescador profissional. E devido a essa paixão, em vez de seguirmos ao norte, decidimos voltar a borda com a África do Sul e passar um dia pescando no Rio Orange. Rolou até competição entre os casais de quem pegava o maior peixe e a Hilda ganhou o troféu, enquanto que nós dois tivemos que pagar uma cerveja para a dupla vencedora, mesmo tendo pego a maior quantidade de peixe.

Por estradas de chão mais macias do que asfalto, fomos adentrando no deserto até o pequeno vilarejo de Aus, cujas redondezas abrigam os cavalos ferais da Namíbia. O termo ferais caracteriza os cavalos domesticados que acabaram tornando-se selvagens. Não sabe-se há quanto tempo os 150 eqüinos (população que já atingiu 280 indivíduos) vivem na área de aproximadamente 350km2 em torno de uma fonte artificial de água. Existem várias teorias de como os cavalos ferais foram parar ali, mas acredita-se que eles descendem da cavalaria alemã abandonada durante a invasão sul-africana em 1915. Outros aclamam que eles originam-se do estábulo do nobre alemão Barão Hans-Heinrich von Wolf. Dizem que quando o barão voltou a Europa para lutar na Primeira Guerra Mundial, ninguém cuidou do estábulo e após a sua morte, os cavalos fugiram para o deserto. Outra versão, diz que eles são oriundos de cavalos que estavam sendo transportados por um navio que afundou nas redondezas quando ia da Europa para a Austrália.

Seguindo viagem para a costa, o único abrigo do vento que encontramos no caminho foi uma estação de trem abandonada. Opa, lugar perfeito para passar a noite! Enquanto nossos amigos preparavam potjiekos para a janta, uma das comidas típicas da África do Sul, contemplávamos o deserto no pôr-do-sol enquadrado pelas janelas e portas da casa. Quando caiu a noite, banhados pela luz da lua que entrava pelos buracos no telhado e cobertos pelas milhares de estrelas, nem deu para sentir medo de assombração.

A base da economia namibiana está na extração e processamento de minerais, sendo o quarto maior exportador de minerais não-combustíveis da África e o quinto maior produtor de urânio do mundo. Outro mineral muito encontrado na Namíbia é o diamante. Em 1908, o primeiro exemplar foi achado na região de Lüderitz e desde então começou a sua exploração. Contam os fatos, que nem era preciso muito esforço para extrair os diamantes, os quais eram coletados na superfície da areia em grandes quantidades. O maior diamante do mundo chamado Cullinan provém dali. Devido a esses fatos, o número de pessoas vindo para a região em busca dessa preciosidade era tão grande, que o governo alemão teve que proibir o acesso livre a área. O seu acesso é proibido até hoje e quem transpassar os limites pode ser processado ou até aniquilado pelos seguranças que a patrulham.

A única forma de entrar um pouquinho na área proibida é visitando a Cidade Fantasma de Kolmanskop. Esse assentamento surgiu em 1908 para prover abrigo aos trabalhadores da mineradora de diamantes. A vila foi construída como uma cidade germânica com hospital, escola, teatro, boliche, central de energia, fábrica de gelo, frigorífico e a primeira estação de raio-x de todo o hemisfério sul para ver o que os mineradores andavam engolindo. O declínio ocorreu após a primeira guerra quando o preço do diamante caiu e a cidade foi completamente abandonada em 1956. Muitos edifícios foram restaurados, enquanto outros estão tomados pelas dunas.

Chegando em Lüderitz, parecia que havíamos sido transportados para outro continente e que estávamos chegando na região da Bavária no sul da Alemanha. A única coisa que fazia-nos entender que isso não era verdade, era ver os edifícios tipicamente alemães no meio da paisagem desértica… Nosso principal destino aqui, era a Península de Lüderitz, onde é possível coletar lagostins. As praias são lindas e seguras para nadar, mas a temperatura da água é somente agradável para leões marinhos e pingüins, com exceção de dois malucos chamados Roy e Bernard. Após o mergulho, foram necessárias algumas horas para o esqueleto parar de chacoalhar. O vento que vinha do mar era tão frio e sem nenhuma casa abandonada para nos proteger, dividimos os quatro metros quadrados do Lobo da Estrada para uma janta.

Depois de tantas experiências interessantes, faltava-nos ter uma experiência tipicamente namibiana, conhecer as famosas dunas do Deserto da Namíbia. Namib, no idioma local, significa “enorme” e de fato o deserto ocupa uma área de cerca de 50.000km2, estendendo-se por 1.600km ao longo do litoral do Oceano Atlântico e possuindo uma largura leste-oeste variando de 50 a 160km. A região é considerada como sendo o mais antigo deserto do mundo, tendo permanecido em condições áridas e semi-áridas há pelo menos 80 milhões de anos.

Nosso destino foi Sossusvlei a parte mais acessível do Parque Nacional Namib-Naukluft. Esse vale formou-se no lugar onde as dunas fecharam o caminho do Rio Tsauchab impedindo-o de fluir adiante. Hoje o termo Sossusvlei é usado não só para designar o vale, mas como todo o mar de areia ao redor. As altas e vermelhas dunas podem ultrapassar os 340m de altura e são consideradas por muitos as mais altas dunas de areia do planeta.

Visitamos também o Dead Vlei, paisagem típica dos cartões postais da Namíbia. Esse vale é resultante de uma lagoa rasa que se formou entre as dunas após fortes chuvas terem causado a inundação do Rio Tsauchab. A abundância de água permitiu o crescimento de acácias, porém quando o clima mudou e a seca voltou a dominar, as árvores morreram pela falta de água. Acredita-se que os troncos remanescentes, de coloração preta devido ao intenso sol, têm 900 anos de idade e por causa da umidade do ar ser quase nula, eles nunca sofreram o processo de decomposição.

Geralmente as visitas acontecem durante a manhã, quando o sol não é tão forte, e na parte da tarde tivemos aquelas enormes dunas vermelhas contrastando com um solo branco e árvores de trocos negros e retorcidos só para nós. Uaw!!! Estar no meio do Dead Vlei era como estar numa das pinturas surreais de Salvador Dali.

Continuando sentido a capital, despedimo-nos de Hilda e Bernard pois eles pretendiam chegar em Windhoek um dia antes. Subimos uma serrinha daquelas bem puxadas e lá no alto acampamos aquela noite (1.700m de altitude). Estávamos tentando instalar mais um ventilador na frente do carro para rebater o calor e de repente, dzdzdzdzddzzz, um pequeno curto no fio resultou num blecaute geral no carro. Estávamos no meio do nada e nem sinal de alguma luz do painel acender, muito menos de o carro ligar. Ixxxx, pensamos, agora f… Procura aqui, procura ali. Foi quase uma hora de tensão até descobrirmos que nossa chave geral havia queimado e que não estava passando corrente. Isso sim foi um alívio!

Com eletricidade funcionando e um novo ventilador, botamos o pé na estrada sentido a capital do país…

 

PS: Pedimos a compreensão de todos os visitantes do site quanto aos atrasos nas atualizações que aconteceram ultimamente. Agora, na costa oeste africana, será ainda mais difícil encontrarmos boas conexões ou até mesmo encontrarmos alguma internet. Mas, podem ter certeza, que faremos o máximo possível para sempre mantê-los atualizados sobre o que anda se passando por aqui.

 

Alguns dos animais que vimos:

 Avestruz: o avestruz é considerado a maior espécie viva das aves, porém não possui a capacidade de voar. Avestruzes normalmente pesam de 100 a 150 kg. Na maturidade sexual (entre 2 e 4 anos de idade), os machos podem possuir de 1,8m a 2,7m de altura, enquanto as fêmeas alcançam de 1,7m a 2m. Além do tamanho, outra diferenciação entre os sexos ocorre na cor. As fêmeas possuem uma coloração cinza, para camuflarem-se enquanto chocam os ovos durante o dia, e os machos penas pretas com a ponta das asas brancas, cor perfeita para a camuflagem noturna. Podem atingir 60km/h de velocidade e possuem uma expectativa de vida entre 50 e 70 anos. O ovo do avestruz é tão grande que equivale a 15 ovos de galinha, porém não é saudável por possuir demasiado colesterol.

 

 

 

 

 

Oryx ou Gemsbok: antílope sólido e poderoso. Ambos os sexos possuem chifres retos e longos, os maiores de todos os animais. Geralmente agrupam-se em torno de 12 indivíduos, mas podem haver grupos com mais de 50 animais. São bem adaptados a aridez e podem sobreviver sem beber água, graças a capacidade de seu corpo elevar a temperatura a níveis que seriam fatais para outros animais.

 

 

 

 

 

 

Gazela: são um dos antílopes de médio porte mais comuns de serem encontrados. e geralmente são as principais presas dos grandes predadores. Devido a isso, as gazelas são rápidas na disparada, podem correr a 90km/h e estão sempre alerta com sua boa visão e excelente audição. Os filhotes são muito vulneráveis e por não terem cheiro, seus pais os escondem no pasto mais alto, dificultando a ação dos predadores. Existem diversos tipos de gazela, mas todas mantem mais ou menos as mesmas características principais como: coloração marrom com uma mancha branca e outra preta nas laterais, possuem pernas longas e chifres espiralados presentes em ambos os sexos. Vimos a Gazela de Thomson no Quênia e Tanzânia e o Springbok, na África do Sul e Namíbia.

 

 

 

 

 

 

Cachorro selvagem: a pelagem amarela, preta e branca e as grandes orelhas arredondadas são as principais características dos cachorros selvagens. Vivem em grandes matilhas, sendo duros caçadores que vencem suas presas pelo cansaço e as devoram ainda vivas. Os antílopes de medianos são suas presas preferidas, mas podem caçar até búfalos.

Álbum: África do Sul 2

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Álbum: Namíbia 1

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