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Diário de Bordo 55 – Nigéria 2, Benin, Burkina Faso e Mali 1

Diário de Bordo

(29/04/2009 a 12/05/2009)

Que rumo tomaremos? Niger ou Benin.

Os fatores que geralmente nos fazem decidir qual rumo tomar são: distâncias, atrações, condições das estradas, custo de combustível, custo de vistos, segurança do local, clima e, no último caso, se o país tem boa cerveja (barata) ou não!!!

Estávamos nós e um casal de ingleses, Cris e Janet, na frente da embaixada do Niger em Kano, debaixo de um sol que superava em muito os 40 graus centígrados. Queríamos partir para o Niger naquele mesmo dia, mas a situação parecia que não favorecia, pois o visto simplesmente triplicou de preço e mesmo assim, após uma semana de aguardo, a resposta do serviço consular do Niger ainda não havia chegado.

Em questão de segundos, mudamos de planos. Decidimos então que para não perder tempo e economizar uma graninha quanto aos vistos, iríamos para Benin, pois tanto um país como outro, seriam apenas de trânsito. Mas o que mais pesou nesta decisão, acreditamos, foi a informação de que no Benin a cerveja é boa e barata, o que nem sempre acontece nos países muçulmanos, hehe.

Foram dois dias de viagem até a borda da Nigéria com Benin, sem nada de muito especial, além de que nos perdemos dos ingleses. Por sorte, exatamente no primeiro posto de controle militar do Benin, quando tentávamos nos entender no francês com os militares, o Cris e a Janet apareceram, vindo por outro caminho.

Para entrar no Benin é possível comprar um visto de trânsito de 48 horas na própria borda. Com o que não contávamos, é que na borda que entramos não existe imigração nem aduana e todos nos mandavam seguir para a próxima cidade para registrar o carro e o passaporte.

Passou o primeiro dia, o segundo, e quando as 48 horas já se excediam, conseguimos carimbar nossos passaportes na prefeitura de Parakou, sem ter que comprar visto algum. Deduzimos que aquele carimbo não nos tornava legal no país, mas pelo menos nos ajudaria a mostrar na fronteira de saída, que tivemos a boa intenção de fazer tudo certinho. Quem sabe eles nos deixem sair!

Como curiosidade, o Vodun (ou o Voodoo, como é mais conhecido) é originário deste país e foi trazido por escravos para a ilha do Caribe e América do Norte. Essa é uma religião que cultua os antepassados, marcados pela música, dança e muita comida. Na cerimônia, os participantes entram em transe, incorporam o loas e, além disso, comem animais sacrificados. Apesar do Vodun ser uma religião reconhecida formalmente, já foi marginalizada no passado por ser voltada a magia negra. Essa religião, também, influenciou muito a cultura brasileira, misturando-se com outras culturas, as quais passaram a ser conhecidas como Candomblé Jeje (Bahia) ou Tambor de Mina (Maranhão e Amazonas).

No caminho para o norte, uma surpresa interessante. Presenciamos, ao longo da estrada, uma arquitetura única nas casas de adobe em formato de castelos. A tribo Somba que vive ali, passou a construir assim como forma de proteção, quando no passado, eram caçados e comercializados como escravos com os portugueses. Até a década de 70, essa tribo acabou ficando totalmente intocada e nessa época que foram redescobertos, andavam totalmente nus, o que já mudou bastante nos dias de hoje. O que nos marcou bastante, são os traços fortes que desenham o rosto deste povo.

Na borda do Benin com Burkina Faso, algumas discussões entre os oficiais da imigração quando viram que não tínhamos visto e nem, tampouco, um carimbo oficial de imigração. Mas para não nos causar problemas, nem para eles, decidiram carimbar nossa saída sem muita hesitação.

Burkina Faso (anteriormente chamado de Alto Volta) é um país sem litoral que faz fronteira com seis nações e se situa no Sahel, faixa de terra que cruza a África de oeste a leste, Atlântico ao Mar Vermelho, com limitações ao norte com deserto do Saara e ao sul com as terras mais férteis. Com uma densidade demográfica alta, onde 80% da população vive da árdua agricultura (devido ao desfavorável clima), o país está como um dos mais pobres do mundo.

Por aqui também tivemos uma breve passagem, sendo em sua maioria na capital Ouagadougou (esse nome é gostoso de pronunciar… <Uagadugu>), onde aproveitamos para botar as coisas em ordem e relaxar na piscina de um hotel que também cede suas facilidades aos “overlanders” de graça. Quando ficamos a par dessas informações, pode ter certeza que estaremos batendo nosso cartão por lá, hehehe, mas não é só nós, pois ali estavam mais quatro carros: dois Land Rovers 130 franceses similares ao Lobo, a Toyota de nossos amigos ingleses e um caminhão Mercedes 4×4 enorme, da Espanha.

De Ouagadugou, mais alguns kms ao norte e finalmente chegamos em Mali, país tão esperado por nós. Não queremos com isso desprestigiar Benin e Burkina Faso, países que somente cruzamos, mas como estamos com nosso programa um pouco apertado, somente mais dois meses para esse restinho de África, queríamos gastá-lo todinho ao deserto do Saara, nos países Mali, Mauritânia, “Saara Ocidental” e Marrocos.

Mali, para nós, principalmente quando baixamos as primeiras fotos em nosso computador, foi caracterizada por sua distinta cor, o marrom. E é assim em tudo, nas estradas, montanhas, planícies, vilas com suas casas de barro, etc… Nesse lindo monocolor, as vilas são identificadas nas montanhas e planícies, somente pelos olhos mais atentos.

Chegamos nestas terras já com um rumo certo, o Vale Dogon, que se localiza bem no centro do país (ainda Sahel) e se insere ao longo de um despenhadeiro de 150km de comprimento, com altitudes que podem variar em até 600 metros. Os primeiros dogões que aqui chegaram, por volta de 1300 d.C., já encontraram vestígios de outras civilizações mais antigas!

Hoje existem quatro lugares, nesta escarpa, onde os povos moravam ou ainda moram. Nas planícies baixas bem a borda do paredão ficam as casas abandonadas dos antigos dogões; nas planícies baixas abaixo das bordas do paredão ficam as casas atuais, dos recentes dogões; nas planícies altas moram atuais dogões, que se distanciaram dos outros (há mil anos atrás) por não aceitarem o islamismo imposto; e no paredão… sim, lá no meio do paredão, em cavernas ou saliências na pedra, são encontradas as casas do povo Telem, que hoje são somente ruínas.

O Povo Telem (pessoas pequenas, muitas vezes citados como pigmeus), não existe mais e muito pouco sabe-se sobre eles. O que se sabe é o que citamos a pouco, que eles construíam suas casas nos lugares mais inacessíveis possíveis do paredão, lugares onde até a chuva e o sol têm dificuldades de penetrar. Os dogões acreditam que os Telem podiam voar para atingirem suas casas, mas historiadores acreditam que eles usavam cordas ou trepadeiras para escalarem (preferimos a idéia dos dogões, hehe).

Os Dogões possuem uma cultura bastante complexa e dura para nós. Até hoje ainda são feitas circuncisões nas meninas e, por incrível que possa parecer, nos meninos também, mesmo que o governo de Mali proíba tal prática. Para eles, as crianças antes da circuncisão não possuem um gênero definido, ou seja, somente após tal ritual, eles definem o seu sexo.

A sua arquitetura também é muito interessante. Os dogões atuais, que constroem suas vilas abaixo das vilas de seus ancestrais, usam a madeira, o barro e o adobe para fazerem pequenas casas, que parecem ser de 2×2 metros. No meio da vila, existe uma construção chamada de togu-na, que é o local onde os homens mais velhos se reúnem e discutem sobre assuntos comunitários. Interessante é que o togu-na possui telhado bem baixo, forçando todos a permanecerem sentados, o que diminui qualquer possibilidade de uma discussão maior ou briga. As mulheres, além de não serem autorizadas a entrar no togu-na, devem permanecer em uma construção na periferia da vila quando estão em seu período de menstruação, pois esse é o período para eles, que é considerado impuro.

Nós percorremos muitos quilômetros por estradas bem precárias, tanto na parte alta como na parte baixa e encaramos tamanho calor, dia e noite, que somente foi superado com tamanha beleza do local, que está na lista dos mais importantes sítios para o turismo de Mali.

Daqui nossa viagem continua, cada vez mais ao norte, cada vez mais ao Saara, o que nos deixa muito ansiosos!

Álbum: Nigéria 2

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Álbum: Benin

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Álbum: Burkina Faso

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Álbum: Mali 1

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