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Diário de Bordo 60 – Itália, França 2, Suíça, Áustria e Alemanha

Diário de Bordo

(13/07/2009 a 15/08/2009)

Em dois anos e meio, cruzamos mais de cinqüenta países e neste trajeto, tivemos a oportunidade não só de conhecer esses lugares e seus povos, mas também de encontrar muitos outros viajantes que se aventuravam pelo mundo como nós.

Alguns fizeram parte de apenas alguns dias de nossa expedição, outros, fizeram-nos companhia por semanas e todos tornaram-se grandes amigos. Talvez por questões financeiras, a maioria dos viajantes são oriundos da Europa e como estamos por aqui, no continente deles, achamos que seria uma oportunidade de reencontrá-los, reforçando nossa amizade.

Da França (final do último diário) entramos na Itália, com planos de dirigir pela costa até Genova. Mas o que não estava nos planos era que pegaríamos um congestionamento sem fim, fazendo-nos passar mais tempo no trânsito do que curtindo as belezas da costa italiana. O jeito foi mudar de idéia e pegamos a esquerda, rumo a Tourino.

Tourino não é o principal destino para apreciar as verdadeiras maravilhas da Itália, pois esta cidade (que foi a capital do país entre 1861 e 1864) é uma das principais áreas industriais do país, sendo, como exemplo, a sede da FIAT – Fábrica Italiana de Automóveis Turim. Mesmo assim, foi interessante sentir um pouco como é a vida dos italianos e presenciar uma mudança radical que está acontecendo na indústria automobilística européia: os carros estão ficando cada vez menores e econômicos. Nós é que sabemos o quão difícil é dirigir um carro grande em centros urbanos congestionados e o quão difícil é achar um lugar para estacionar.

Na seqüência de nossa viagem, o relevo começou a ficar cada vez mais montanhoso indicando que estávamos entrando na região dos Alpes (uma das maiores cordilheiras da Europa que inicia na França, cruza a Itália, Suíça, Alemanha, Liechtenstein e termina na Áustria e Eslovênia). O ponto mais alto dos Alpes e também da Europa Ocidental é o Monte Branco (Mont Blanc em francês e Monte Bianco em italiano) com seus 4.810 metros. Ele localiza-se na borda entre a Itália e a França, mas a localização exata do pico mais alto em relação à fronteira é um tema de grande controvérsia entre os dois países. Enquanto o cume coincide com a fronteira nos mapas italianos, nos mapas franceses ele está totalmente no território da França.

A primeira escalada do Monte Branco ocorreu em 1786 e um fato interessante é que as primeiras ascensões marcaram o local como berço e símbolo do alpinismo. Mas hoje em dia, para os menos aventureiros, um teleférico faz o percurso do centro da vila de Chamonix (uma das mais famosas estações de ski do mundo) ao cume da agulha do Midi, subindo em vinte minutos 2.812m. Cerca de cinco mil pessoas por dia sobem o monte por esse meio. Outra obra importante na montanha foi a construção (entre 1957 e 1965) de um túnel de 11.611m pelo seu interior, o qual tornou-se uma das maiores vias de comunicação entre França e Itália.

Nos planejávamos cruzar o túnel do Monte Branco, porém, na cancela para pagamento do pedágio, descobrimos que nos custaria 44,00 euros e chocados com o preço, fizemos a volta e resolvemos contornar a montanha pelo Passe São Bernardo. Vezes, há males que vem pro bem, pois a paisagem desse passe era mesmo espetacular e a perderíamos se simplesmente tivéssemos cruzado pelo túnel.

Nossa segunda entrada pela França foi com o objetivo de visitar nosso amigo Sylvain, que trabalha no cinema da estação de ski La Plagne. Nos intervalos do filmes, uns para o público e outros particulares para nós, visitamos grande parte do complexo da estação de esqui, que por sinal é muito bem planejada para receber os milhares de turistas. Conhecemos também diversas pessoas e era difícil de escapar dos freqüentes convites para tomar aperitivos no bar, parte do dia-a-dia francês.

Em pleno verão, porém acima dos 2.000m de altitude, o tempo mudou e tivemos que enfrentar um frio danado, com direito até a muita neve à noite. No dia seguinte, com uma paisagem predominantemente branca, saímos em busca de uma raridade dos Alpes: o Edelweiss. Existem muitas lendas sobre essa flor aveludada… e muitos afirmam ser uma prova de amor quando um rapaz sobe os Alpes para buscá-la, passando por lugares perigos e arriscando-se por sua amada. Por ter sido muito coletada no passado, atualmente o edelweiss é uma planta protegida por lei.

Levando apenas belas fotos dos edelweiss que encontramos escondidos nas montanhas, pegamos a estrada rumo ao país vizinho. A Suíça é uma das economias mais ricas do mundo, no entanto não é membro da União Européia. Sua história é marcada pela neutralidade política perante as outras nações, sendo que desde 1815 o país não entrou em nenhuma guerra. Sua cultura é marcada pela diversidade lingüística com 4 línguas oficiais num país tão pequeno: Francês, Italiano, Alemão e Românico. O país é famoso não só pelo chocolate e queijo, mas também por ser sede de inúmeros bancos privados e organizações internacionais.

Entramos na Suíça pela parte francesa e cruzamos a parte alemã, mais ou menos de sudoeste a nordeste, até a Áustria. A paisagem deste país é caracterizada pelos altos Alpes (altitude média de 1.700m com 48 montanhas acima dos 4.000m de altitude) e pelos diversos lagos resultantes do derretimento das geleiras. As pequenas vilas que salpicam as montanhas e campos verdes são impecáveis, com suas casas cheias de detalhes em madeira e coloridas pelas típicas floreiras.

Infelizmente não pegamos um tempo muito bom quando estávamos por lá e não pudemos ver as montanhas mais altas. O jeito foi contentarmo-nos com os lagos, vezes confortáveis, vezes numa temperatura congelante!

Em Zurich, aproveitamos nossa passagem para conhecer o Matt, seguidor de nosso website, e passamos “Um dia molhados em Zurich”. A chuva não nos deu chance e correndo de uma marquise para a outra, pudemos conhecer um pouquinho da maior cidade suíça.

Zurique é o centro financeiro da Suíça e uma das bolsas de valores mais importantes da Europa. Cerca de um quarto das atividades da cidade são ligadas ao setor financeiro, sendo que vários bancos possuem sua sede ali. Quem nunca ouviu falar dos bancos suíços, os quais são famosos por serem um porto seguro para os investidores devido a um auto grau de sigilo bancário e a uma moeda local muito estável. Apesar das exigências atuais da legislação, as regras de sigilo persistem e pessoas de outros países conseguem realizar negócios através de intermediários. Muitas vezes essas transações fazem parte do processo internacional de lavagem de dinheiro, fazendo a Suíça entrar para a “lista cinza” dos 38 paraísos fiscais. Com tanto dinheiro rolando num território tão pequeno, não é para menos que Zurich já foi considerada uma das cidades mais caras e com a melhor qualidade de vida do mundo.

Um das grandes vantagens aqui da Europa é a falta de bordas entre os países. Essas fronteiras existem no papel, mas na realidade cruzamos de um país para o outro quase que sem perceber. Até para entrar na Suíça, país que não é pertencente a União Européia, não necessita-se mais de carimbo.

Na Áustria tínhamos a intenção de visitar mais amigos… Nossa primeira parada foi na pequena cidade de Lauterach, numa região linda aos arredores do Lago Bodensee ou Constança. Nossa base foi a casa do Peter e da Karina, casal que conhecemos na Índia, e de lá desbravamos um pouco da área fazendo caminhadas pelos Alpes austríacos e andando muito de bicicleta (atividade muito comum na Europa). Foram seis ótimos dias que infelizmente passaram voando.

De lá, passagem rápida pelas auto-vias alemãs, que são de graça (na Suíça e na Áustria é paga), e voltamos para o território austríaco nas redondezas de Salzburg. Essa cidade é o segundo maior destino do país depois de Vienna, não só pela sua bela arquitetura barroca ou por suas lindas paisagens, mas por sua grande contribuição histórica e por ter sido o local de nascimento de Wolfgang Amadeus Mozart.

A praça principal de Salzurg foi o ponto de reencontro com um casal austríaco que conhecemos há dois anos atrás, na Nova Zelândia. Angelika e Martim vieram especialmente de Vienna para nos encontrar e nos intervalos de nossas conversas sobre as experiências mundo afora, pudemos apreciar a cidade antiga dominada pelas impressivas torres e igrejas barrocas.

Saindo um pouco do centro, vistamos também o Castelo Hellbrunn. Construído pelo bispo Markus Sittikus, esse castelo do século XVII tornou-se famoso por suas fontes de sacanagem e figuras movidas à força d’água. Jantando, ou mesmo andando pelos jardins do castelo, os hóspedes pomposos eram surpreendidos por jatos de água que os deixavam totalmente molhados.

Outro ponto muito visitado da região é a Caverna de Gelo em Werfen. Existem duas opções para chegar-se na sua entrada, de bondinho ou a pé. Nós escolhemos a segunda e escalamos cerca de 600m até lá, isso sem contar os 134m de escadarias dentro da caverna. Com um guia e sem permissão para tirar fotos, entramos no mundo subterrâneo enfrentando um vento congelante de quase100km/h na porta de entrada. Esse labirinto de mais de 40km apresenta temperaturas abaixo de 0°C o ano inteiro nos primeiros quilômetros de sua extensão. Isso provocou o congelamento da água infiltrada na caverna, formando-se em seu interior diversos tipos de precipitações de gelo, tão exuberantes quanto as formações rochosas (estalactites e estalagmites em forma de castelos, elefante e urso polar, além de diversos túneis que passam pelas camadas de gelo acumuladas por muitos anos).

Hora de despedir-se novamente e lá fomos nós para mais encontros e reencontros no país mais populoso da União Européia, a Alemanha, com seus 83 milhões de habitantes. Primeiramente visitamos o casal Klaus e Erdmuthe em Durach; depois seguimos para Monheim, onde o Roy reencontrou amigos das antigas (Peter, Karen e seus filhos Natascha e Thomas); em seguida fomos para Tübingen onde fomos recebidos pelos pais de amigos que fizemos no Irã (Rolf, Kornelia e Munique); em Stuttgart visitamos outros grandes amigos que fizemos na Nova Zelândia (Myriam e Mathias e o pequeno bebê que está para nascer); Preussich Oldendorf, onde o Roy fez um estágio e veio aprender alemão há mais de 10 anos atrás (Dieter, Briguite, Frank e Mônica); e por último, familiares relacionados aos nossos antepassados que imigraram da Europa para o Brasil (Simone, Dirk, Sasha, Sofie, Trudel, Margot e Erich).

Cada um deles queria nos receber da melhor maneira possível, com camas confortáveis e refeições com ingredientes que há tempo não faziam parte de nosso cardápio. Antes sentíamos falta de queijo, carne, cerveja, doces… mas agora com tanta comilança, essas eram as últimas coisas que queríamos ver na nossa frente, hehehe. Que ironia, hein? Mas assim é a vida, uma vez temos pouco, outra vez temos demais!

Na famosa região da Bavária visitamos cidades com construções típicas alemãs como Monheim e Nördlingen, alem da linda Tubingen, no Baden Wurttemberg. Presenciamos uma Schützenfest, Festa do Tiro, relembrando um pouco de nossa cidade que até hoje cultiva as tradições germânicas. Tomamos muita cerveja nos comuns “Bier Gartens” (jardins da cerveja). E, visitamos o bairro Weissenhof em Stuttgart, onde as primeiras obras modernistas de arquitetura foram expostas. Infelizmente, bem nessa parte da viagem, a nossa máquina fotográfica decidiu pifar e ficamos alguns dias fotografando apenas com nossa câmera reserva, até que decidimos pela compra de uma nova.

Deslocando-se entre o sul e o norte, o que nos chamou a atenção foi a quantidade de geradores eólicos e painéis solares espalhados pelo país. O maior parque eólico e a maior capacidade de energia solar do mundo está instalado na Alemanha, produzindo energias renováveis que supriram 14% do consumo total de eletricidade em 2007.

As estradas também nos chamaram a atenção e contrastam muito com aquelas que dirigimos nos países subdesenvolvidos. A Alemanha possui 12.174km de auto-estradas e 40.969km de estradas federais, o que torna este país o terceiro do mundo com a maior densidade de estradas por veículos no mundo. Ouvimos dizer, mas não sabemos se é mesmo verdade, que a Alemanha possui a mesma quantidade de carros que todo o continente africano.

Deutschland é também é líder mundial na construção de canais fluviais e na cidade de Minden, pegamos um barco e tivemos a oportunidade de presenciar um pouco da complexidade deles, que possuem diversas eclusas e viadutos que passam por cima de estradas e rios outros rios.

No dia 15 de agosto deixamos o território alemão e seguimos para a Holanda, onde organizamos o despacho do Lobo da Estrada para a Colômbia. Nossa despedida do carro e as duas semanas na Europa sem ele, ficarão para o próximo diário!!!

Álbum: Itália

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Álbum: França 2

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Álbum: Suíça

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Álbum: Áustria

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Álbum: Alemanha

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