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Diário de Bordo 20 – Austrália 6

Diário de Bordo

(04/09/2007 a 19/09/2007)

Depois de admirar o espetáculo da natureza nos oferecido no centro da Austrália, colocamos o pé na estrada sentido o noroeste do país.

Optamos por cruzar os 1.056km de estrada de chão da Tanami Road, a qual, segundo informações que recebemos, seria horrível de cruzar, com canais de rios secos e profundos, diversas costelas de vaca e muita poeira. Ao contrário do que haviam nos alertado, o trajeto foi tranqüilo e de uma estrada muito boa em quase toda a sua extensão, mesmo cruzando uma das partes mais inóspitas do deserto australiano.

Como já citamos anteriormente em outro diário, os australianos são muito rigorosos com as questões sanitárias e meio ambientais em seu país, tanto para quem vem de fora como para quem está circulando internamente entre estados. Já havíamos escutado de vários viajantes que devíamos ter cuidado ao cruzar de um estado para outro, devido não ser permitido cruzar com alguns tipos de frutas, verduras, plantas, sementes e mel, pois podemos carregar doenças e pestes para um estado que está livre desses problemas. Já cruzamos várias divisas e nunca tivemos dificuldades, portanto não demos bola para o assunto. Porém, durante a Tanami Road, quando cruzamos do Northern Territory para o Western Australia, vimos uma placa bem grande: deposite no lixo todas as frutas, verduras, plantas, sementes e mel a tantos quilômetros. Isso é na confiança, mas caso você não deposite e seja pego cruzando com esses itens levará uma multa de 5.000 dólares.

Putzzzzz!!! Fomos pegos de surpresa e estávamos cheios de frutas e verduras em nossa geladeira. O que fazer? Seria um desperdício jogar tudo isso fora. Paramos o carro e já pegamos 4 tangerinas para comer naquele mesmo momento (isso que tínhamos acabado de comer um pacotão de bolacha). Começamos a matutar o que fazer e nossa solução foi acampar antes do posto de coleta e cozinhar tudo o que tínhamos. Ficamos até 10h da noite cozinhando e depois mais 1h só limpando a cozinha. Foi feito comida para dar e vender: carne ao alho e óleo, salada de alface, cebola, cenoura e tomate, batata frita, maionese de batata com ovos e um refogado de legumes com curry, o qual comemos por 3 dias, não podendo mais nem sentir o cheiro depois. Ah, sem contar que na manhã seguinte comemos uma salada de fruta de alimentar um batalhão. Pelo menos nossa redução de desperdício de comida deu certo, pois só perdemos um restinho de alface e o nosso vidro de mel, o resto foi tudo pra barriga!!

Voltando a expedição…

No noroeste situa-se uma região chamada The Kimberley, a qual oferece uma paisagem com impressionantes canhões e desfiladeiros, que foram criados a golpe de paciência pelos rios que correm por lá no verão. A maior atração do local é o Purnululu National Park e a Bungle Bungle Range, que cruza toda a extensão desse parque. Essa cadeia de montanhas possui extraordinárias formações arredondadas de arenito, parecidas com domos, as quais são resultado de um trabalho minucioso da natureza. O que impressiona, além da altura, é a quantidade de domos, um ao lado do outro, formando labirintos por muitos quilômetros. A estrada de acesso parecia uma montanha russa, cheia de curvas, subidas e descidas repentinas que dão aquele frio na barriga. Só faltou o looping! Realizamos diversas caminhadas no parque, durante as quais caminhamos por leitos de rios secos, entre fendas estreitas e com mais de metros de altura, anfiteatros com um som impressionante… foi de tirar o chapéu para o cara lá de cima. Na volta, a montanha russa se transformou em um trem fantasma, pois estávamos vindo direto para o oeste e muitas vezes o sol nos cegava.

Ainda no The Kimberley, visitamos diversos outros canhões, porém os dois lugares que mais nos marcaram foram o Windjana Gorge e o Bell Gorge. No primeiro, ficamos de cara com a quantidade de vida que habita esses lugares. Demos alguns passos para dentro do canhão e já vimos vários crocodilos de água doce boiando, imóveis, como se estivessem mortos sobre a superfície da água. Vimos desde filhotinhos até grandalhões! Eram tantos que nem dava para contar e alguns ficavam na borda da água brincando de estátua, com o bocão aberto e cheio de dentes. Ao contrário dos temidos crocodilos de água salgada, estes só atacam se perturbados e podíamos chegar muito perto deles. Não pretendíamos caminhar muito, porém acabamos entrando 1,5km para dentro do canhão e não queríamos mais voltar. Havia vários cockatoos e eles estavam fazendo aquela bagunça e berreiro que só eles sabem fazer. Era tanta vida que até nós nos sentíamos mais vivos. No segundo lugar inesquecível, o Bell Gorge, passamos uma manhã lagarteando nas pedras ao lado de uma cachoeira e de vez em quando deixávamos nosso corpo rolar para dentro da água e dar aquela refrescada, ainda mais com o calor infernal que faz por lá.

Continuando nossa jornada, chegamos ao outro lado da Austrália! A primeira cidade das bandas de cá foi Derby, com ótimos exemplares das rechonchudas árvores Boabs. A mais famosa destas árvores é a chamada Boab Prision Tree, a qual serviu de prisão para os aborígines capturados pelos colonizadores da região. Os aborígines seriam usados como escravos nos trabalhos de exploração das pérolas e eram aprisionados nesta árvore enquanto esperavam a chegada do barco. As boabs ficam assim gordonas, pois acumulam água em seu caule e podem viver mais de mil anos (estima-se que a Boab Prision Tree possui 1.500 anos). Outra coisa interessante nesta cidade é a colossal variação da maré, a qual geralmente varia 11m entre a maré alta e baixa, podendo variar até mais. Impressionante mesmo!!!

Depois de Derby, foi a cidade e região de Broome, com o Oceano Índico azul turquesa, que nos forneceu uma infinidade de belezas. As praias são um colírio para os olhos, ainda mais contrastando com as formações avermelhadas da costa. Sentimos-nos praticamente no paraíso quando paramos na Eighty Mile Beach para almoçar, praia com mais de 100km de areias cristalinas acompanhando esse marzão de azul sem fim. Podem-se passar horas catando conchinhas nesta praia ou somente ficar sentado admirando-a, sem jamais se cansar. Mas as atrações não acabaram por aqui…

Entrando alguns quilômetros no continente, atingimos o Karijini National Park. A mudança na paisagem foi perceptível e esta agora está mais colorida, pois milhares de flores selvagens inundam as planícies como se fossem um tapete persa e tudo isso com um fundo verde claro. Dizem que o estado Western Australia é conhecido por possuir a maior variedade de flores selvagens do mundo. Elas são lindas mesmo e é possível passar horas fotografando-as e reparando em seus detalhes únicos. Depois dessa recepção cheia de cores, passamos um dia incrível e de muitas caminhadas nos canhões que formam o Karijini National Park. Tomamos um banho na Circular Pool, situada no Dales Gorge, e o que nos chamou a atenção é que esta piscina era congelante, porém a água que jorrava de dentro das pedras ao seu redor era morna. Depois fizemos duas caminhadas dentro dos canhões Weano e Hancock e estas valeram muito a pena. Caminhamos exatamente por onde passa o rio, ora por dentro da água, ora escalando as pedras ao redor até atingirmos piscinas de água cristalina. É incrível como um rio, após anos e anos de trabalho, pode esculpir um lugar tão interessante.

No dia 15 de setembro, voltamos para a costa, agora para explorar um pouco dos corais que também existem no lado oeste australiano. Após reencontrar nossos amigos Wendy e Brad, os quais foram os nossos salva-vidas no Cape York, rumamos para o Cape Range National Park e o Ningaloo Marine Park. Existe uma linha de corais há uns 200m da costa que protege a praia. Enquanto as ondas quebram lá no fundo, forma-se uma grande lagoa na costa, onde vivem diversos corais e muitos peixes como baleias, tartarugas, arraias mantas e tubarões baleias. Ao contrário da Grande Barreira, aonde é necessário pegar um barco e navegar grandes distâncias mar adentro para explorar os corais, no lado oeste é só pegar o snorkel e o pé-de-pato e sair nadando e é possível ver muita vida marinha lá. Quando as ondas quebram lá no fundo, a água vai entrando nessa lagoa e ela volta para o mar aberto por canais que passam entre os corais. Devido a essa grande circulação de água, formam-se grandes correntes e muitas vezes nem precisa de pé-de-pato, é só se jogar no mar e deixar a corrente te levar sobre os corais.

Outra grande atração deste parque, para nós, foi a quantidade de cangurus que existe por metro quadrado. Foi um festival de canguru… uns ficavam nos olhando passar, outros saíam saltitando a toda quando parávamos o carro, até vimos um se escondendo na bolsa da mamãe. Inclusive eram os maiores que já vimos na Austrália. Fora os cangurus, de vez em quando, aparecia um emu pernudo, ave parente da ema e do avestruz, cruzando na nossa frente. Divertimos-nos a bessa.

Ontem, dia 18 de setembro, ficamos um pouco preocupados, pois tivemos uns problemas com as nossas passagens da Austrália para Ásia, porém acreditamos que tudo vai se resolver. Já estamos também fazendo os contatos para o despacho do carro para Singapura e logo, logo estaremos pulando fora da Austrália. Estamos super ansiosos para viajar pela Ásia, assim como achamos que vocês também devem estar ansiosos para ver, em nosso diário, novas culturas e paisagens.

 

PS1: Experimentamos pela primeira vez a carne de canguru. Compramos um bifão e fizemos um strogonoff, receita do Tio Mauri. Ficou uma delíiiiiiiicia… sem contar que a carne também é bem saborosa. Ela é bem parecida com uma carne de gado, porém um pouco mais forte.

Álbum: Austrália 6

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