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Diário de Bordo 13 – Nova Zelândia 3

Diário de Bordo

(30/05/2007 a 11/06/2007)

Entre montanhas, neve, pingüins e leões marinhos…

Era dia 02 de junho e o tempo continuava péssimo em Wanaka. Chuva, frio e neve nas montanhas. Já que não dava para fazer nada decidimos seguir viagem até Queenstown pela rodovia em maior altitude do país com seu ponto mais alto (The Crown Range Summit) em 1.076m acima do nível do mar. Às vezes, durante o trajeto, surgia um pequeno buraco entre as nuvens e pelo que deu para perceber, esta região possui belas paisagens.

Queenstown é linda e como Wanaka, situa-se ao lado de um lago azul, o Wakatipu. A cidade é super turística e muito procurada por possuir diversas estações de ski e por ser nomeada como a capital mundial dos esportes radicais. Resumindo: cara!!!

Um pouco abaixo de Queenstown encontra-se o Fiordland National Park, que pelo nome já diz tudo: terra dos fiordes. Fiorde é uma grande entrada do mar envolta de altas montanhas rochosas e têm origem na erosão das montanhas devido ao gelo. Essas enormes entradas de relevo podem chegar a centenas de quilômetros, da costa para o interior. Em Fiordland existem 14 fiordes distribuídos em aproximadamente 215km de costa. O portão de entrada para este exótico parque é a cidade de Te Anau.

O mais famoso e único fiorde acessível de carro é o Milford Sound. A rodovia que liga Te Anau a este paraíso é rodeada de montanhas; cachoeiras de mais de 100m resultantes do desgelo; vales glaciais; lagos cristalinos, os quais parecem espelhos refletindo os picos nevados ao redor; florestas verdes… A distância é de apenas 120km, mas pode-se levar muitas horas até lá, dependendo de quantas vezes você para o carro para caminhar, fotografar ou somente para apreciar o visual.

Aquele dia estava sendo o nosso dia mais frio na Nova Zelândia. Não sabemos exatamente a temperatura, mas eram 4h da tarde e a vegetação ao redor da rodovia estava totalmente branca, coberta de geada… Rrrrrrrrrrrrrrr! Inclusive, tínhamos que tomar cuidado, pois a rodovia também estava congelada, deixando-a extremamente escorregadia e perigosa.

Há milhares de pessoas viajando ao mesmo tempo e na mesma direção na Nova Zelândia. Desde a Ilha Norte vínhamos encontrando a mesma van no caminho. Algumas vezes trocamos buzinadas e acenos, mas nada mais. Quando chegamos ao Milford Sound a mesma van parou ao nosso lado. Íamos preparar um café para nos esquentarmos e pensamos:

– Já encontramos este casal tantas vezes e ainda não nos conhecemos. Vamos convidá-los para tomar um café?

Dito e feito. Não tomamos só um café da tarde, mas jantamos juntos e ficamos até 3h da manhã bebendo vinho e jogando conversa fora com nossos novos amigos austríacos, Angelika e Martin. O único problema do vinho era ter que sair naquele frio imenso para usar o banheiro público. Foi numa dessas saídas que ficamos de boca aberta com a noite que estávamos tendo… a lua estava brilhante e sua luz refletia no mar e nos picos nevados a nossa frente. Conseguimos tirar uma foto impressionante!

No dia seguinte, no nosso centésimo dia de viagem, fomos presenteados com mais um dia de chuva e não pudemos tirar fotos do Milford Sound durante o dia, pena! Pegamos o Soul, despedimo-nos de nossos amigos e seguimos mais para o sul pela Southern Scenic Route. Esta rota é famosa por seus locais históricos, lobos marinhos, leões marinhos, pingüins e por seus ventos gritantes.

Dois fatos engraçados (agora, pois na hora não) aconteceram no Waipapa Point, uma das praias mais ao sul do país. Chegamos ao local com muito vento, mas muito vento mesmo! Para ter uma idéia, tinha uma gaivota no chão e ela andava de lado… era muito engraçado. Decidimos sair do carro, pois um rapaz tinha nos falado que havia um leão marinho na praia. Fomos até lá para ver, filmar e fotografar, mas na hora de voltar quem disse que conseguíamos andar contra o vento? Justo naquele momento começou a chover. Parecia que nosso rosto estava congelando e que estavam chovendo agulhas. Tinham que ver nosso estado quando finalmente conseguimos entrar no carro…

Já ali do lado, enquanto a Michelle foi ao banheiro, o Roy foi fazer a volta com o carro e ficou encalhado na grama. Ficamos lá naquele vento e chuva por uns 40min até conseguir tirar o Soul desta enrascada. Ufa, que bom que conseguimos.

Depois desse sufoco fomos até o Slope Point, extremo sul da Ilha Sul com latitude de 46º 40’10″ sul, mas desta vez ficamos quietinhos dentro do carro. Tentamos ver mais alguns leões marinhos no Cannibal Bay, mas não vimos nada.

No dia 06 aconteceu um milagre: acordamos com sol! Neste dia conhecemos a bonita cidade de Dunedin, a qual é a segunda maior cidade da Ilha Sul e a quarta do país. Ao lado dela, situa-se a Península de Otago, famosa por abrigar a única colônia em terra do Albatroz Royal do norte.

O albatroz passa 80% de sua vida no mar e pode viajar longas distâncias. Desde novo já é capaz de voar 500km por dia, podendo chegar até 1000km. Esta é a ave oceânica planadora mais talentosa, pois com suas longas e estreitas asas consegue planar por horas. Apesar de seus 3 metros de envergadura, suas asas não possuem área suficiente para sustentar seu peso em vôo, fazendo-se necessário que voem em alta velocidade. Vôos acima de 100km/h são comuns.

Os Royals adultos podem circunavegar a terra nas altas latitudes sul. A região sudoeste da Argentina é o seu local preferido para pescar e após passar grande parte do ano na América do Sul, em setembro e outubro, eles voltam para a Nova Zelândia pelos Oceanos Atlântico e Índico. O casal pode chegar junto, mas geralmente os machos chegam primeiro.

Pra variar era necessário pagar para ver essa colônia de albatrozes, então acabamos não vendo esta majestosa ave. Talvez pagássemos e não veríamos nada, pois não era a melhor época para vê-los. Ainda neste dia, na Península de Otago, procuramos pelos pingüins na Sandfly Beach. Não vimos nenhum, mas fomos contemplados em ver, a menos de um metro de nós, os gigantes e preguiçosos leões marinhos.

O maior mercado da Nova Zelândia é o turismo e os neozelandeses são muito bons em marketing. Em qualquer lugar eles sempre acham alguma coisa para dizer que é o “mais” do mundo ou do país. O maior lago, a melhor caminhada, a trajeto mais charmoso, a única ave, a região mais úmida… E eles conseguem atrair muitos turistas com isso!

Em Dunedin, fomos na Baldwin Street que é a rua mais íngreme do mundo!!! Não sabemos se é verdade. Sei lá se alguém já conheceu todas as ruas do mundo. Basta ir a Ouro Preto ou mesmo a alguma favela do Rio de Janeiro para ver alguma… Subindo e descendo esta rua com o Soul, nos divertimos pra caramba. Você pode até ganhar um certificado subindo lá, quer dizer, comprar um certificado. Os neozelandeses são bons mesmo em atrativos turísticos.

Um pouquinho mais ao norte reencontramos Angelika e Martin e passamos dois belos dias viajando juntos. Brincamos por mais de duas horas nas Moeraki Boulders, as quais são rochas perfeitamente esféricas e que estão no meio da praia de Moeraki.

Há aproximadamente 4 milhões de anos, essas rochas foram formadas por sedimentação. Este processo não foi completamente desvendado, mas é parecido com o processo de formação de uma pérola. A partícula, ao redor da qual esta rocha se forma, pode ser um fóssil de uma concha, um pedaço de osso ou até mesmo um fragmento de madeira. Depois de formadas, estas esferas rolam para a praia devido o efeito das marés (alta e baixa) sobre o barranco onde se encontravam. E na praia, com o vai e vem das águas, as rochas perdem suas camadas externas deixando aparente frágeis veios de calcite cristalizado os quais posteriormente se quebram em pedaços poligonais… destruindo-as.

As rochas esféricas de Moeraki não são as únicas desse tipo que existem, porém são famosas por serem grandes, geralmente mais de 2m de diâmetro, por sua forma esférica perfeita e por sua sedimentação neste local.

Ainda neste dia, nosso grande objetivo era ver os raros Pingüins de Olho Amarelo e os pequenos Pingüins Azuis e para isso nos dirigimos até a cidade histórica de Oamaru.

O Pingüim de Olho Amarelo é provavelmente o mais raro do mundo, sendo encontrado apenas 1000 exemplares na Nova Zelândia e mais alguns em lugares remotos da Antártica. Ele permanece diariamente com seu grupo de procriação e geralmente passa o dia no mar e a noite vem à terra. Pode nadar mais de 40km longe da costa e mergulhar, cerca de 200 vezes ao dia, até 130m de profundidade para procurar comida. Eles são muito medrosos e preferem fazer seus ninhos longe de vizinhos.

Os Pingüins Azuis, que são encontrados na Nova Zelândia e Austrália, são os menores que existem, pesando apenas 1kg. Eles ficam mais de um ano no mar, porém na época de reprodução, vêm à noite para a terra reencontrar seus ninhos.

Eram umas 15:30h quando fomos na Bushy Beach, horário indicado para ver os pingüins de olho amarelo voltarem para casa. Ficamos em um mirante no alto do morro ao lado da praia e pudemos ver vários pingüins, há mais de 100m de distância, saindo do mar e correndo para os arbustos.

Junto com nós haviam várias outras pessoas, incluindo um senhor que primeiramente pensamos ser um guia, mas depois descobrimos que ele era “O Amigo dos Pingüins”. Este nativo neozelandês vem neste local há 8 anos, as vezes de tarde, as vezes de manhã cedinho, para admirar estes incríveis animais. Ele sabe tudo!!! Quantos são, que horas eles vem, quem mora aqui, quantos moram lá, o que eles fazem, porque estão brigando. E ele dizia:

– Não vão embora. Acreditem, estes pingüins vão subir aqui e passar na nossa frente. Podem contar… em 15min eles estão aqui.

Nós dois combinamos que enquanto aquele homem ficasse lá esperando naquele frio congelante, a gente ficaria também. Já estava começando a escurecer e escutamos um pingüim gritar perto de nós. Parecia que eles estavam se aproximando. E o homem dizia:

– Eles estão vindo. Esperem! São 5 que vivem aqui. Três vem para cá e dois moram do lado de lá.

De repente aconteceu… dois pingüins foram para a esquerda e três vieram para o nosso lado cruzando na nossa frente. Às vezes paravam bem pertinho e ficavam se exibindo. Tudo acontecia como o “Amigo dos Pingüins” tinha falado. Ele sabia de tudo mesmo e queria dividir conosco o que ele via há 8 anos. Tivemos muita sorte de estar no lugar certo com a pessoa certa. E o homem ainda nos indicou aonde poderíamos ir, no porto de Oamaru, para ver de perto e sem pagar nada os pingüins azuis.

Fomos para lá saltitando de alegria e quando malmente chegamos, vimos alguns destes pequenos correndo na nossa frente. Começamos a caminhar no escuro para procurar por mais deles e os vimos aos montes. Vimos dentro do buraco, cruzando a estrada, em cima do barranco, dentro de uma construção… foi muito divertido. Para comemorar este dia inesquecível em nossa viagem, fizemos um rodízio de panquecas com nossos amigos, regado a uma cervejinha.

No segundo dia em companhia de Angelika e Martin, visitamos uma fazenda que possuía rochas de calcário que pareciam elefantes e, se você usasse a imaginação, poderia ver muitas outras coisas; vimos inscrições rupestres maoris; passamos por represas de cor azul e visitamos o Clay Cliffs, um paredão formado por diversas torres de calcário esculpidas pelo tempo.

Na cidade de Twizel, nos despedimos pela segunda vez dos amigos austríacos e acabamos fazendo mais dois amigos, o pára-quedista brasileiro Mauricio e sua cachorra Nizzy, que nos cederam sua casa para passarmos aquela noite fria que nos esperava.

Dia 9, último dia em companhia do Soul, vimos o Mount Cook ao nascer do sol e seguimos para Queenstown. No caminho, passamos novamente por Wanaka e pelo The Crown Range Summit, mas agora com o tempo limpo. Não estava nevando naquele momento, porem tudo estava coberto por um manto branco de neve. Com muito pesar devolvemos o Soul, nosso maior companheiro na Nova Zelândia, e voamos para Auckland. Lá, passamos mais um dia na ótima companhia do Paul e da Kerolin e a Nova Zelândia ficou para trás. Já estamos na Austrália, fazendo novos amigos e esperando ansiosos a chegada do Lobo da estrada.

 

PS1: Na cidade Invercargill existem uns pontos de ônibus de costas para a rua. A saída era por trás e não pela frente como geralmente acontece. Esses pontos foram feitos assim devido aos fortes ventos que vem do oeste. Em falar nesses ventos, nesta região, as árvores crescem deitadas com seus galhos e troncos totalmente tortos.

PS2: Segundo nos falaram, a carne dos carneiros que pastam à beira-mar custa 3 vezes mais do que a carne de um carneiro normal. Isso acontece porque os carneiros comem uma grama salinizada e sua carne torna-se mais apreciada. Ou talvez porque não seja necessário colocar sal depois para temperar, hehehe.

PS3: A Nova Zelândia é o país da confiança. Existem vários lugares, a exemplo de fazendas, que vendem frutas e verduras no portão. Você pega o que quer e deixa o dinheiro numa caixinha. Colocar o dinheiro ou não, vai da sua consciência. No Brasil isso não iria funcionar…

PS4: Na cidade de Bluff, encontramos um banheiro mais automático do que o anterior que descrevemos. Além de tudo aquilo, a porta não só trancava automaticamente, mas ela corria automaticamente e o banheiro possuía música clássica.

PS5: De tão fria que estavam sendo as noites na Nova Zelândia, teve uma manhã que a esponja de lavar louça estava congelada dentro do carro. E isso que já eram mais de 10h da manhã!

 

Álbum: Nova Zelândia 3

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