(03/12/2007 a 10/12/2007)
La Xang, a Terra de Milhões de Elefantes…
… assim era chamado o reino que precedeu o país atualmente conhecido como República Democrática Popular Lao. O Laos é um dos poucos países socialistas e, após quase duas décadas isolado, está começando a abrir suas portas para o mundo. Esses anos de isolamento somados com uma pequena população que habita o país, resulta em um cenário praticamente intocado.
Quando chegamos na capital Vientiane, logo na divisa com a Tailândia, mal podíamos acreditar que aquela pequena cidade era a capital do Laos. No começo não gostamos muito, mas com o tempo, entramos no clima e aprendemos a ver a cidade de uma forma diferente: tranqüila e com um clima muito gostoso às margens do rio Mekong. É muito rica em sua arquitetura que é mostrada através de templos budistas e de casas antigas resultantes da colonização francesa. E como prova de que os franceses estiveram mesmo no país, as baguetes são vendidas em todas as esquinas.
Após Vientiane, rumamos ao norte do Laos por uma estrada estreita e não muito bem conservada, porém uma das principais rodovias do país. E quando chegavamos em Muang Vangvieng, fomos premiados com um cenário espetacular, com enormes montanhas rochosas brotando da terra, assim como as de Krabi na Tailândia, mas com uma magnitude ainda maior. A maioria das pessoas fazem uma parada por lá para descer o rio de caique, bóia, barco ou pedalar, caminhar, escalar e explorar as diversas cavernas da região. Fizemos uma caminhada de um dia pelas vilas locais e montanhas e relaxamos em uns barzinhos bem singulares, como o chamado “Same-Same But Diferent Bar”, o qual possuía umas cabanas à beira do rio, de onde podíamos apreciar o visual das montanhas e o movimento dos turistas descendo o rio de bóia.
O melhor contato com o dia-a-dia da população laosiana, tivemos quando dirigimos mais ao norte, sentido Luang Prabang, por curvas, curvas e mais curvas… serras, serras e mais serras. O país é totalmente dependente da agricultura e sua população pobre ainda vive nas mesmas condições que vivia há cinqüenta anos atrás. As casas de bambu trançado se aglomeram ao longo da rodovia e por estarem situadas tão próximas da mesma, praticamente passamos de carro dentro delas, ou pelo mínimo, dentro de seu quintal. Pudemos presenciar diversas cenas de seu cotidiano, como mulheres trabalhando pesado, criançada brincando, algumas trabalhando duro também, banhos de caneca no fim da tarde em espécies de fontes comunitárias, comidas e temperos secando ao sol… todos nos olhavam curiosos quando nos viam e após os cumprimentarmos com uma inclinação da cabeça, nos abriam um sorriso de orelha a orelha e nos abanavam. Encontramos, neste tranqüilo lugar, um dos povos mais simpáticos e puros da face da Terra.
A mais bela cidade do Laos, Luang Prabang, ostentou até 1975 o título de capital real e com apenas 26.000 habitantes é um dos destinos mais visitados do país. Devido a sua incrível coleção de arquitetura colonial francesa, intercalada por templos budistas (a cidade ainda conserva 32 dos 66 templos que já existiam antes da colonização) e as montanhas verdes a seu redor, a cidade foi considerada Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Unesco. Mais uma vez pudemos ter a companhia de nossos amigos Myriam e Mathias e juntos desbravamos um pouco de Luang Prabang e da natureza que a rodeia. Visitamos os antigos templos; circulamos pelo mercado de artesanato noturno; fizemos compras no mercado de alimentos pela manhã, onde frutas e verduras dividem espaço com tudo o que se pode comer nessa terra, como ratos, esquilos e outros roedores; e passamos um dia em Tat Kuang Si, um belíssimo parque com diversas cachoeiras que caem sobre formações de calcário e formam diversas piscinas de água verde-turquesa. Nesse parque ainda pudemos apreciar um tigre de bengala e mais alguns ursos pretos asiáticos, resgatados do comércio ilegal de animais. Porém, uma das experiências mais marcantes de nossa viagem, aconteceu bem cedo, às 6 horas da manhã, quando presenciamos os monges saindo dos templos e recolhendo suas oferendas. Os adeptos da filosofia budista acreditam que se uma pessoa é sortuda o suficiente para oferecer comida a um monge, seu mérito no futuro será grande e ela receberá muito bem em troca. Os devotos ficam esperando sentados em esteiras estendidas nas ruas e calçadas e de repente, lá longe, surge uma fila de um laranja muito vivo. São 10, 20 ou mais monges enfileirados, podendo até chegar em centena deles, do mais velho para o mais novo, vindo em um passo rápido e pés descalços. Passam e recolhem uma a uma as suas oferendas, que são geralmente um punhado de arroz e bananas. Após circularem pelas ruas da cidade, voltam para seus templos onde depois de apreciarem seu café da manhã, passam o dia inteiro orando e meditando.
Luang Prapang foi o ponto mais ao norte que chegamos e seguindo nossos planos, tivemos que voltar cerca de 130km pra pegar uma outra rodovia sentido ao leste laosiano até a famosa Planície dos Jarros, perto de Phonsavan. Existem 3 sítios arqueológicos onde podem ser encontrados enormes jarros de pedra com mais de 2.000 anos de existência e alguns com até 3m de diâmetro. A finalidade destes jarros e quem os fez, até hoje é um mistério, sem provas materiais do motivo de sua existência. Supõem-se, através de teorias arqueológicas e mitos locais, que os enigmáticos jarros foram usados como urnas mortuárias ou como local para estocar o lào-láo (whisky de arroz) e o próprio arroz.
Infelizmente, a fama do Laos pelo mundo não existe devido as suas paisagens e sua simpática população, mas sim, por ser o país que fora mais bombardeado em toda a história. Embora não envolvido diretamente na Guerra do Vietnã, entre os anos de 1964 e 1973 o país foi fortemente atacado em suas fronteiras e recebeu carregamentos de bombas despejados de aviões que sobrevoavam seu território. Calcula-se que tenha sido alvo de 580.344 mísseis e cerca de 2 milhões de toneladas de bombas, custando 2.2 milhões de dólares por dia aos EUA. Dinheiro este, que poderia ter auxiliado a vida de muitas famílias…
Caminhando pela Planície dos Jarros, que foi uma das partes mais afetadas pela guerra, pode-se ver crateras cavadas pelas bombas e trincheiras utilizadas na época. Caminhar por ali, só é possível, pois foi realizado um trabalho pesado e custoso para a limpeza do UXO, bombas despejadas que não explodiram. A desminagem é lenta, pois são mais de 120 tipos diferentes de bombas, e estima-se que serão necessários mais de 100 anos para a completa limpeza do país. Na cidade de Phonsavan é possível ver a carcaça de diversos mísseis, os quais, agora, são utilizados como vasos de flores, enfeites em cercas de casas e restaurantes e até, segundo ouvimos falar, são utilizados como pilares em algumas casas de cidades mais ao norte do país. Apesar disso, o povo não se abate pelas tragédias e segue em frente!
E assim fizemos nós, tocando em frente, sentido Vietnã. Curva para direita, curva para a esquerda, esquerda, direita, sobe, desce, desce, sobe, curva para a esquerda novamente, curvas e mais curvas… e foi assim até chegarmos na fronteira, onde nos deparamos com uma grande surpresa. O Lobo da Estrada não poderia entrar neste país. Nossas informações eram de que moto de grande cilindrada e carro com direção no lado direito não eram mesmo permitidos… mas pra nossa infelicidade, para se entrar no país com qualquer tipo de veículo estrangeiro, é necessária uma autorização prévia do Ministro dos Transportes. Fazer o quê???
Para terminar este diário de bordo, gostaríamos de desejar a todos os que nos acompanham um Abençoado Natal e um Ano Novo repleto de desafios, aventuras e grandes realizações.
Forte abraço,
Roy e Michelle