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Diário de Bordo 39 – Síria e Israel

Diário de Bordo

(23/06/2008 a 06/07/2008)

Cruzar de um país para outro e lidar com as autoridades aduaneiras sempre gera uma dor de cabeça, mas isto se intensifica quando o valor das taxas, vistos e seguro ultrapassam as nossas expectativas.

A Síria se superou neste aspecto, pois os mesmos possuem uma política de cobrança de taxa semanal para carros estrangeiros à diesel de exatos 100 dólares, isso sem contar seguro obrigatório, taxa de trânsito e vistos para cada um de nós.

É por esse e por outros motivos que nós, para cada borda que cruzamos, definimos também uma política de comemoração: uma latinha de Coca bem gelada para cada um e isso nos dá o tempo suficiente para pensar, relaxar e melhor assimilar o novo país que esta pela frente.

Logo no primeiro dia na Síria, resolvemos seguir direto para Aleppo, segunda maior cidade do país, que disputa com a capital Damasco o título de a cidade mais antiga do mundo que sempre foi habitada. Aleppo é a cidade do comércio, que desde antigamente foi um importante centro comercial entre a Europa e a Ásia. 20 a 30% de sua população é cristã, o que representa a maior concentração de cristãos no Oriente Médio.

Uma cidadela domina o cenário da cidade e, antigamente, era o forte para defesa da mesma. Aos pés da fortificação situa-se o chamado SOUQ, mercado onde são comercializadas todos os tipos de mercadorias, inclusive carne de camelo. Demos uma volta por lá e nos entretivemos com as especiarias e curiosidades locais.

A noite, sem muitas alternativas para um bom lugar pra dormir e com aquele calor danado, estacionamos o carro bem no centrão, abrimos o teto do Lobo para ventilação e nos jogamos na cama. Aqui vale ressaltar nossa nova técnica de refrigeração que substitui um ar condicionado: um frasco velho de Ajax (spray), mas com água gelada dentro… ai quando o calor pega forte, espirramos essa água no corpo e o ventilador faz o trabalho de refrescar.

Seguimos para o sul do país e no caminho, visitamos rapidamente a aconchegante cidade de Hama, a qual é repleta de lindas rodas d’água, que há séculos atrás, eram utilizadas para elevar a água de seu profundo rio para aquedutos que irrigavam as lavouras.

E falando de antigamente, os turcos, no século X, após terem conseguido o domínio sobre a Terra Santa (atual Palestina e Jerusalém), passaram a perseguir os judeus e cristãos que moravam nestas terras, o que fora percebido pelos cristãos do Ocidente como uma ameaça e uma forma de repressão sobre o cristianismo no Oriente. Então, em 1095, o Papa Urbano II convoca os cristãos ocidentais a libertar a Terra Santa e colocar Jerusalém novamente sob soberania cristã, criando assim, uma expedição como forma de penitência, mas que na verdade possuía caráter militar. A multidão presente aceita entusiasticamente o desafio e logo parte em direção ao Oriente, tendo consigo uma cruz vermelha sobre as suas roupas e assim começavam as cruzadas… A Síria estava nesta rota e por lá foram construídos diversos castelos e fortificações que davam suporte aos cruzados. Visitamos o Castelo Krak de Chavaliers, de 800 anos atrás, e ficamos surpresos com a qualidade de sua fortaleza, a qual nunca fora invadida.

Na ida e na vinda deste castelo, passamos a menos de 1 KM do país vizinho Líbano e mais a frente, viajando sentido as ruínas de Palmyra, avistávamos constantemente placas indicando: Bagdá, Iraque… o que nos dava a nítida noção do quão longe estávamos de casa, quase pra lá de Bagdá.

Lá em Palmyra (Cidade das Palmeiras) foi legal, pois mesmo sendo uma das mais belas atrações da Síria com suas ruínas do segundo século depois de Cristo, ficamos mais lagarteando ao lado de uma piscina em um camping, do que propriamente visitando a área arqueológica. Mas as vezes, sério mesmo, a piscina ou aquele dia vendo absolutamente nada de novo, é que se torna a maior atração. Reencontramos nesta cidade nossos grandes amigos australianos (Haydn e Dianne, que são naturais do Zimbábue) que estão viajando da Ásia para a Europa em uma BMW GS 1200.

Aquela decisão de dar uma voltinha nas ruínas pra tirar umas fotos antes de ir embora de Palmyra foi que nos trouxe um dos melhores encontros na Síria!!! Um camelo branco, filhotão ainda, e totalmente no meio do desertão! Só não o trouxemos junto por falta de espaço em nosso carro, mais com certeza, vamos voltar pra buscá-lo, hehehe.

Depois deste encontro, rumamos para a capital do país, Damasco, mas só pra comer o último Shwarma, que é tipo um kebab com carne de carneiro ou galinha, enrolado em um delicioso e original pão sírio. Cedinho no outro dia, encarávamos mais uma aduana, desta vez, adentrando na Jordânia.

Mas ficamos somente três dias na Jordânia, e já mais uma borda, para o país vizinho Israel. Nossa única preocupação, desta vez, foi com nossos passaportes, que definitivamente não poderiam receber o carimbo de Israel, pois correríamos o risco de outros países muçulmanos não nos aceitarem em seus países, pelo simples motivo de termos visitado Israel, seu inimigo número 1.

O Estado de Israel foi fundado em 1948 e é o único estado Judeu do mundo, tendo sua capital em Jerusalém, mesmo que isso não seja aceito pelas Nações Unidas e autoridades da Palestina, que dizem que o oriente de Jerusalém é a futura capital da Palestina. O conflito atual entre Israel (apoiado pelos EUA e alguns países da Europa) e a Palestina é a maior fonte de tensão dentro e fora de país, sendo que estes conflitos se estenderam para os países árabes vizinhos.

E viajando por dentro de Israel, essa tensão é muito clara e evidente, sendo que este pequeno país (tamanho do estado de Sergipe) possui aproximadamente 700km de muros altíssimos os quais somente são cruzados pelos pontos de controle, que são repletos de gente jovem, fardados em estilo fashion e armados até os dentes. Dentre estes jovens, um altíssimo percentual são mulheres, carregando pesadas metralhadoras produzidas no próprio país e devido a seu treinamento rigoroso, eles situam-se hoje entre as mais bem reputadas forças de combate do mundo, tendo tido que defender Israel em cinco grandes conflitos desde a sua criação.

Mas Jerusalém é mesmo encantadora, seja lá de quem for. Sua cidade antiga, a qual se situa no coração da cidade é muralhada ao seu redor, possui quatro quarteirões distintos e estes são reconhecidos aos Cristãos, Armênios, Judeus e Muçulmanos e é dentro desta cidade antiga que se situam a maioria dos lugares sagrados para as três religiões.

Quanto as muçulmanos, já não foram grande surpresa para nós, pois os últimos países que cruzamos, eram todos islâmicos. Mas quando percorremos as ruelas do quarteirão Judeu, ficamos boquiabertos. O jeito de ser, andar, vestir possui uma característica especial, principalmente que nesta parte da cidade, se vê muitos judeus ortodoxos. Por ali visitamos o Muro Oeste, também conhecido como Muro das Lamentações, onde fiéis Judeus o freqüentam para rezar e depositar seus desejos por escrito.

O quarteirão cristão e seus sítios religiosos são tão fascinantes que a cada dia, fiéis do mundo inteiro peregrinam para cá e Israel sabendo da importância que esta cidade tem para o mundo, deixa sempre as portas abertas.

Percorremos a Via Dolorosa, que segundo crenças cristãs, foi o caminho percorrido por Jesus Cristo com a cruz; fomos na Igreja do Santo Sepulcro, lugar onde Jesus fora crucificado, sepultado e de onde ressuscitou no Domingo de Páscoa; fomos ao Monte Sião, onde está situada a tumba de Davi, a sala onde fora realizada a Última Ceia e a Igreja Dormition Abbey, local onde Maria teria falecido; subimos o Monte das Olivas, local onde Jesus transmitiu alguns de seus ensinamentos; estivemos na Igreja de Dominus Flevit que possui formato de lágrima por ser o local onde Jesus chorou; Igreja de Maria Madalena e a Igreja da Agonia, dentre outros…

Não poderíamos ter passado por Israel e não ter ido a Belém, onde visitamos a Igreja da Natalidade, uma das igrejas em operação mais antigas do mundo e local onde Maria teria dado a luz ao Menino Jesus. Também em Belém, visitamos a Gruta do Leite, que segundo crenças, Maria teria derramado uma gota de seu leite no chão.

Fascinante…

Apesar de um tempo curto, Jerusalém e Belém nos deram uma aula de história e religião, mas tivemos que voltar para a Jordânia, onde nosso carro nos aguardava para continuarmos nossa travessia pelo Oriente Médio.

 

Ps – Aqueles três dias que passamos pela Jordânia antes de entrarmos em Israel, será contado no próximo diário, assim como todo o resto do percurso neste país.

Álbum: Síria

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Álbum: Israel

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