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Diário de Bordo 41 – Egito

Diário de Bordo

(14/07/2008 a 04/08/2008)

A Dádiva do Nilo!!

A Jordânia ficou para trás quando cruzamos 60 km do Mar Vermelho para a cidade de Nuweiba, Egito. Apesar da curta distância, o translado e burocracias de aduana em ambos os lados nos custaram exatamente 24 horas e nesse tempo, tivemos direito a grandes aborrecimentos quando tratávamos com os oficiais corruptos e aproveitadores no lado egípcio.

Achamos que o que nos fez tirar de letra esse interminável dia, foi saber que quando estivéssemos liberados para rodar no país, rumaríamos direto à Dahab e região, que por também se situar ao Mar Vermelho, possui uma das melhores águas do mundo para se mergulhar.

E nossa primeira oportunidade de mergulho foi assim: entramos na água somente para nos refrescar daquele calor imenso que fazia em Dahab. Então, usando um simples óculos de natação, fomos um de cada vez (pois só temos um óculos, hehe) nadando nas águas rasas de um fundo sem graça cheio de pedras e ouriços… até que, a uns 15 metros da margem, nos deparamos com um precipício de corais que nos davam a visão de uma imensidão azul cristalina de perder de vista. Cores que nem sabíamos dizer seus nomes coloriam aquela infinidade de peixes de todos os tipos e tamanhos tornando aquele lugar uma preciosidade única.

Para melhorar ainda mais nossa história, em um acampamento de lua cheia mais ao sul de Dahab, num lugar batizado como Três Piscinas, tivemos uma visita totalmente curiosa e inesperada: duas arraias nadavam na superfície daquela água prateada chegando muito perto da areia, onde estávamos sentados curtindo um chimarrão amargo…

Agora sim, podemos dizer, nos foram dadas as boas vindas ao Egito.

Difícil foi deixar este lugar, mas sabíamos que tínhamos que seguir pois já haviam se passado quase uma semana desde que chegamos. Seguimos para o Monte Sinai, e lá, caminhamos em torno de 7km com 1.000m de ascensão para chegar em seu pico, 2.288m, onde segundo a Bíblia, Moisés teria recebido de Deus os 10 Mandamentos. O local é fascinante e contagiante, fazendo muitos fiéis peregrinarem para lá.

Deixamos a Península montanhosa e desértica do Sinai no exato momento em que cruzamos por um túnel por debaixo do Canal de Suez. Aqui entra um fato curioso: o Egito, assim como a Turquia, é um país transcontinental pois lá no meio do país, o Canal de Suez divide os continentes África e Ásia. E somente depois de cruzar este canal é que entramos no Continente Africano propriamente dito.

Quanto ao Canal de Suez, apesar do primeiro navio já tê-lo cruzado no ano de 1867, o mesmo fora inaugurado somente em 17 de novembro de 1869 e este levou 10 anos para ser concluído. Com sua extensão de 163km, o canal une os mares Mediterrâneo e Vermelho permitindo assim que embarcações que naveguem entre a Europa e Ásia não necessitem contornar toda a África pelo Cabo da Boa Esperança. Aproximadamente 15.000 navios por ano atravessam o canal, representando 14% do transporte mundial de mercadorias e a travessia dura de 11 a 16 horas.

Chegamos então em Cairo, capital do país, que muito nos surpreendeu com a beleza do Rio Nilo o qual corta a cidade ao meio. Emitimos nosso visto para o Sudão e resolvemos algumas pendências. E num desses dias que passamos por ali, quando contornávamos a cidade pelo anel viário, de repente, chã nã nã nã, avistamos pela primeira vez as pirâmides, lá longe, se sobressaindo ao tumulto do trânsito e às construções do mundo moderno. Chegou a levantar os fios de cabelo do braço…

Às visitamos em um dia de manhã quando milhares de pessoas dos quatro cantos do mundo nos faziam companhia. Sua beleza é tamanha que se torna até difícil de se aborrecer com os egípcios interesseiros tentando de todas as formas arrancar o nosso dinheiro.

As Pirâmides de Gizé, uma das únicas Sete Maravilhas do Mundo que permaneceram intactas, encantam e intrigam ao mesmo tempo. Encantam por sua grandeza e beleza e intrigam pelo mistério de sua construção ter desafiado a lógica. E Napoleão Bonaparte bradou a seus soldados: “Do alto dessas pirâmides 40 séculos vos contemplam”.

A maior das Pirâmides de Gizé, que também é a maior do planeta, é a de Quéops, construída (2.500a.C) pela força de 20.000 homens que tiveram que erguer em torno de 2.300.000 de pedras de calcário que pesam, em media, 2,75 toneladas cada. As outras duas grandes pirâmides dali, que porém um pouco menores, são do filho e neto de Quéops. Visitamos também a Esfinge, uma enorme e diferente figura com corpo de leão e rosto de humano que segundo comentários que ouvimos, um dia fora alvo do rifle daquele Napoleão que citamos há pouco, quando o mesmo arrancou o nariz na estátua à tiros.

Para dar um tempo a história, depois da visita as pirâmides, fizemos uma imersão ao desertão do Egito. Percorremos mais de 1.000km em busca de muita emoção, quando deixávamos a estrada principal para centenas de quilômetros em pura areia e solidão, guiados apenas por uma linha em nosso GPS. Acampamos debaixo de estrelas que há tempo não víamos tantas e durante o dia, o conta-giros sempre marcando alto.

Logo nos primeiros quilômetros totalmente fora de estrada, baixamos a pressão dos pneus (dianteiros de 45 para 20 PSI e os traseiros de 65 para 25 PSI), marcha reduzida para vencer o peso da areia e chão que não terminava mais. A paisagem se transformava a cada morro ou baixada, o odômetro evoluía forte e nada de sinal de vida… até que, em uma decisão de mudança de rota, sentamos o Lobo em uma areia mais fofa e essa vez foi até o último. Diferenciais dianteiro e traseiro quase que total enterrados e eixo e todo o resto da parte entre eixos encostados na areia.

O sol de meio dia nos tirou qualquer possibilidade de sombra, então mãos à obra. Nem fizemos força pra desencalhar sem a ajuda do High Lift Jack (macaco de alta elevação) e as Sand Track (pranchas de aço especiais para a areia) as quais logo, logo nos deixaram dirigir novamente, mas desta vez feito os pilotos no Paris Dakar, procurando por alternativas para cruzar as altas dunas do deserto. Teve uma hora que não tivemos escolha e adentramos nas dunas, sem perder velocidade para não encalharmos novamente e fomos para aquele sobe e desce com inclinações acentuadas de verdade. O desenho das dunas praticamente não reconhecíamos, pois aquele mar de areia bege nos cegava em suas bordas, o que é um dos pesadelos dos participantes de um Rally no deserto. Andando por lá, de repente, uma queda brusca veio de surpresa, pois não víamos ao certo por onde andávamos.

Caramba, que duelo contra a areia e o destino, que era apenas um rumo indicado pelo GPS! O Lobo ali foi forte e com alguns mantimentos e equipamentos trocados de lugar achamos a saída e a planície novamente. Mas a alegria durou pouco, pois estávamos a dezenas de quilômetros da estrada principal e a coisa enfeiava novamente, nos fazendo ir e vir, contornar, subir, descer, voltar, encalhar e tudo mais. Essa foi uma aventura off-road pra ninguém botar defeito, seja experiente ou não em 4×4! E das informações que temos, para nossa alegria ou não, no norte do Sudão (seqüência de nossa viagem) as condições são semelhantes e teremos, pelo mínimo, mais 3 dias de deserto por estradas que não são estradas e sim, deserto + deserto + deserto.

Nestes mais de 1.000km percorridos no meio do nada, cruzamos por alguns oásis e chegamos a nos refrescar(?) nas águas termais vindas do solo. Nossa aproximação novamente à civilização foi em Luxor, cidade extremamente turística devido a grande quantidade de ruínas do passado. Chegamos bastante empolgados mas o preço, quantidade de pessoas e a atormentação por parte dos egípcios, que por definição de um amigo Austríaco, “pensam que somos dólares ambulantes”, nos fizeram tomar a decisão de visitar somente o Vale dos Reis e seguir viagem.

Valeu muito a pena conhecer esta fantástica herança dos Faraós, sendo o lugar repleto de tumbas de seus reis com um nível de detalhes em pinturas e esculturas riquíssimo. É impressionante ver como tudo aquilo se preservou com o passar de tantos anos. Luxor também é cede de outras atrações, como: Templo de Karnak, Templo de Luxor, Templo de Hatshepsut, Rio Nilo dentre muitos outros mas estes, por não termos visitado, deixaremos como pretexto para algum dia voltarmos ao Egito, hehe.

Dali, mais uns 180km e já estávamos em Aswan, onde organizamos nossa partida para o Sudão. Teremos que pegar um Ferry pelo Lago Nasser, que é uma imensa represa e a única fronteira aberta entre estes países. Gastamos mais alguns dias por ali acampados às margens do Nilo e já fizemos mais uma amizade, Gustav e Cristina da Suécia, os quais viajam a bordo de uma Land Rover 110 e serão nossa companhia para cruzar o Sudão.

Aguardem por mais esta aventura que adentrará na real e selvagem África!

 

PS – Há muito tempo não assávamos mais um pão caseiro e em nossa última tentativa (Roy), resolvemos fazer receita inteira, pois nas outras vezes sempre usávamos meia. Estava tudo certo até aquele importante momento, onde em minuto em minuto vemos se o pão esta crescendo ou não e o mesmo pareceu que diminuiu, hahaha, e recebeu o nome de Pão Pedra, por ter ficado menor do que aqueles de meia receita, mas seu peso, hehe, de pedra.

Álbum: Egito

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