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Diário de Bordo 62 – Colômbia 2 e Venezuela 3

Diário de Bordo

(07/09/2009 a 30/09/2009)

De volta ao continente sul-americano!

Depois de quase trinta horas viajando (Londres – Madrid – Bogotá – Cartagena) colocamos os pés novamente em nosso querido continente. Chegamos em Cartagena de Índias já era quase meia-noite do dia 07/09/2009 e, assim que saímos do avião, o suor começou a escorrer, lembrando-nos que chegamos novamente em terras tropicais.

Ansiosos pela chegada de nosso carro, começamos no dia seguinte a organizar os contatos para seu recebimento e ao contrário da maioria das cidades portuárias, Cartagena nos surpreendeu e foi muito agradável para ficarmos (mesmo que fomos roubados no primeiro dia, quando trocamos dinheiro no mercado paralelo e o mágico fez algumas notas simplesmente desaparecerem).

Esta cidade foi fundada em 1533 e tornou-se o principal porto espanhol em terras caribenhas. Com tantas riquezas passando por ali, logo passou a ser alvo de ataques de piratas e, para protegerem-se, os espanhóis construíram 11km de muralhas ao seu redor, além de diversas fortificações. Apesar de Cartagena ter expandido-se drasticamente e tornado-se o maior porto colombiano atualmente, a cidade antiga amuralhada modificou-se muito pouco e foi declarada Patrimônio Nacional e Cultural da Humanidade em 1986, pela UNESCO.

Aqui, reencontramos dois casais de amigos. Primeiro os austríacos Angelika e Martin, os quais conhecemos na Nova Zelândia, reencontramos na Áustria há uns dias atrás e que coincidentemente decidiram passar férias na Colômbia. E, por segundo, os alemães Anne Christine e Mike, que conhecemos no Irã e que já estão há quase um ano viajando pela América do Sul de carro. Nossos planos são de viajarmos por um tempo juntos até o Brasil…

E na companhia dos amigos, desbravamos esta cidade histórica com a qual é impossível não encantar-se. Percorremos ruelas entre uma belíssima arquitetura com balcões de madeira e fachadas coloridas; sentamos no banco de uma das diversas praças e assistimos a vida caribenha passar pelos nossos olhos; deixamos o corpo levar-se pelo cheirinho de café colombiano vendido pelos vendedores ambulantes em cada esquina; sentimos nosso coração pulsar no ritmo das batucadas e das danças locais que assistimos; e, no final do dia, sentamos no meio fio da calçada, com uma latinha de Club Colômbia na mão e jogamos papo pro ar. Não é pra menos que Cartagena é considerada a jóia do Caribe colombiano.

Quanto ao navio que trazia o Lobo da Estrada, chegou três dias depois de nossa chegada e, em tempo recorde, conseguimos liberar o carro em um dia e meio, mas com muita correria do Roy e do agente que contratamos. A empolgação de revermos o Lobo era tanta que no dia seguinte já caímos na estrada, rumo a qualquer lugar onde pudéssemos acampar, fazer um foguinho e, de preferência, que isso fosse a beira mar. Anne, Mike e seu toyota já nos faziam companhia.

Passada rápida por Santa Marta, a cidade mais antiga de América do Sul e seguimos em busca de praias mais remotas, seguindo ao leste do país. Mas o que chamou nossa atenção neste trecho, foram as montanhas ao nosso lado direito, as quais pertencem ao Parque Nacional da Serra Nevada. São as montanhas “costeiras” mais altas do mundo, abrangendo os dois maiores picos colombianos: os gêmeos Simón Bolívar e Cristóvão Colombo, ambos de 5.770 metros. A Serra Nevada de Santa Marta, junto com diversos outros ecossistemas, dão a Colômbia o título de segundo país mais biodiverso do planeta. Além de uma grande abundância de vida selvagem, o local também abriga cerca de trinta mil indígenas, cujos descendentes deixaram diversos vestígios arqueológicos, como o Pueblito e a famosa Cidade Perdida, com seus terraços, sacadas e caminhos pré-hispânicos incrivelmente traçados no meio da floresta.

E por entre sombra, água fresca e um mar morno de ninguém botar defeito, fomos percorrendo as praias deste país, que apesar de sua má fama devido a suas guerrilhas e tráfego de drogas (maior produtor mundial de cocaína), possui pessoas especiais, extremamente amigáveis, acolhedoras e alegres por natureza. Não queríamos deixar a Colômbia!

Quando cruzamos a borda para a Venezuela, percebemos que pouca coisa havia mudado, desde os dois anos e meio atrás que estivemos por aqui. O presidente Hugo Chávez ainda trabalha forte na Revolução Bolivariana socialista, entretanto, o país sofreu poucas melhorias. Em nosso caso, o que nós esperávamos com boas lembranças, era o preço do combustível, que continua sendo o mesmo, baixíssimo, porém ficou mais barato com a desvalorização da moeda local nesses mais de dois anos. Agora, não necessitamos de um dólar para encher um tanque.

Já dentro da Venezuela, seguimos por uma estrada que contorna o maior lago da América do Sul, o Lago Maracaibo, em cujas águas foi descoberto, no ano de 1914, muito petróleo. A quantidade era tanta que em apenas seis anos de extração, a Venezuela tornou-se o maior exportador de petróleo.

Ao sul desse lago, onde deságua o rio Catatumbo, ocorre um fenômeno muito interessante, o qual nos fez rodar kms e mais kms para contemplá-lo. Trata-se do Catatumbo, que são relâmpagos que acontecem frequentemente, mesmo que em noite completamente límpida (sem nuvens) e que clareiam a região. Existem várias hipóteses para explicar porque isso acontece, mas nenhuma delas é comprovada. A que possui mais fundamentos é baseada na topografia da região, caracterizada pela proximidade de um vasto lago ao nível do mar com montanhas andinas de 5.000m de altitude. Essa configuração dramática, não encontrada em nenhum outro lugar do mundo, ocasiona o encontro dos ventos frios que descem das montanhas com o ar úmido que evapora do lago resultando na ionização de partículas do ar produzindo os relâmpagos. Fizemos duas tentativas para apreciar esse espetáculo, porém, devido ao mal tempo, achamos que vimos somente os relâmpagos normais, de chuva mesmo.

Na cidade de El Vigia começamos a subir os Andes venezuelanos e cruzamos um dos trajetos mais bonitos deste país. Apesar da estrada ser bastante movimentada, a paisagem compensou nossa passada por ali. Essa área é famosa por abranger vários picos que ultrapassam os 4.000 metros, incluindo o Pico Bolívar (maior da Venezuela, com 5.007 metros); o maior e mais longo teleférico do mundo, subindo a uma altitude de 4.600m; além do Pico El Águila, o ponto mais alto de estrada venezuelana, que fica aos 4.118 metros. Nas maiores altitudes, as vilas são inexistentes e a vegetação é quase rara, sendo a única formação vegetal que sobrevive às variações de temperatura é uma planta muito bonita chamada frailejones.

O próximo trajeto, de Trujillo a Boconó, foi uma aventura e tanto. Primeiro quando recebemos a visita de um grupo de venezuelanos em nosso pacato acampamento. Eles celebravam um aniversário e fizeram de nosso espaço o seu salão de festa, com muita bebida e música local. Segundo, que no dia seguinte, rodamos 44km em quatro horas de dura escalada e off-road. Partimos de 900m e subimos em estradas verdadeiramente íngremes, até os 3.179m, para depois descermos em marcha reduzida até 1.200m novamente, sempre beirando penhascos que como diz o Roy: “Se cair, o caboclinho morre de fome antes de chegar no fundo”.

No caminho a Caracas, ainda antes de Valência, paramos em uma Churrascaria, como ali dizia, onde coincidentemente quase 30 brasileiros trabalham. Encontramos vários deles e ainda utilizamos de seu estacionamento para fazer nosso acampamento. Isso até parece um sinal, de que o Brasil fica já aqui ao lado, hehe, friozinho na barriga!

Mais alguns acampamentos após Caracas, seja ao mar ou nas barrancas dos rios, e veio a Ciudad Bolívar, que fica às margens do rio Orinoco, cujas águas dividem a Venezuela em duas regiões distintas: o norte colonizado e o sul, nosso próximo destino, onde localiza-se a ainda selvagem Grande Savana.

 

TRAJETORIA DO DESPACHO DO CARRO DA HOLANDA PARA COLOMBIA

Álbum: Colômbia 2

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Álbum: Venezuela 3

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