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Diário de Bordo 18 – Costa Rica

(05/03/2015 a 15/03/2015)

Pura Vida!

Se fossemos descrever a Costa Rica com uma cor, com certeza seria VERDE! Um terço de seu território é designado para Área de Proteção Ambiental, o que a torna um paraíso para a vida animal. A natureza abunda por essas terras e é muito comum os encontros com animais como macacos, bugios, quatis, bichos-preguiça, iguanas e aves de todos os tipos.

Como seu próprio nome sugere, a Costa Rica é um país rico e se tornou o país mais rico da América Central ainda no século 19, com a introdução do cultivo de café. No final deste mesmo século mais de um terço de seu vale central era usado para este cultivo, representando 90% das exportações. Aí veio a banana, no século 20, que ultrapassou as vendas do café. Em 1970, com a queda do café e da banana, descobriu-se uma outra riqueza a ser explorada: o ecoturismo. A natureza exuberante do país passou a chamar a atenção e a atrair diversos estrangeiros que se multiplicaram tão rápido que hoje o turismo passou a ser a principal atividade econômica, antes até da agricultura e indústria.

Nós entramos neste país dia 05/03 por uma fronteira próxima a costa do Atlântico e logo fomos à praia Punta Uva (Puerto Viejo de Talamanca), que foi nosso endereço por três dias. Nosso carro ficou estacionado já de frente a uma praia de corais e nós gozamos da boa sombra de coqueiros carregados de cocos que matavam nossa sede. Havia também um rio cristalino que desaguava no mar ao lado de nosso acampamento. Este era um lugar simplesmente perfeito. Nos dias que passamos ali adotamos o slogan costa-riquenho – PURA VIDA! Tranquilos, aproveitamos cada momento de sol e de chuva para relaxarmos e apreciarmos a natureza. Até fizemos uma fogueira para prepararmos um churrasco de vegetais, mas a chuva acabou com nossa festa e tivemos que jantar dentro do carro. “Pura Vida!” é mais que um slogan, é uma forma de vida adotada pelos “Ticos”, como se autodesignam os costa-riquenhos. Essa expressão pode ser usada no dia-a-dia para dizer oi, tchau, obrigado ou qualquer troca de cumprimentos desejando boas energias.

Um fato interessante que descobrimos na América Central é que a costa do Pacífico é mais desenvolvida do que a do Atlântico. Justamente o contrário do que imaginávamos. Perguntando a alguns locais, recebemos como resposta que a costa do Pacífico é mais acessível, enquanto que a do Atlântico possui florestas densas e rios que dificultam o acesso e o desenvolvimento. Na maioria dos países centro-americanos, apenas algumas estradas chegam ao Atlântico e são poucas as que margeiam a costa. A melhor forma de explorar o Caribe é mesmo por mar, em barcos.

Já que a estrada não margeava o Atlântico, o jeito foi cruzar para o outro lado costa-riquenho. Mas tivemos que cruzar montanhas altas da Cordilheira de Talamanca e isso foi mais um fato inesperado. Subimos até 2.240m de altitude onde passamos uma noite fria, chuvosa e nebulosa. Quando iríamos imaginar que pegaríamos temperaturas tão frias neste subcontinente americano? Cruzando essas montanhas passamos pelo vale central, considerado o coração e alma da Costa Rica. Uma região menos turística, onde a paisagem é dominada pelas plantações de café. Se na Colômbia, as terras de café estavam cheias de Jeeps Willys, aqui na Costa Rica são as Toyotas Bandeirantes que fazem parte desse cenário.

Nosso destino na costa do pacífico era Quepos. Vimos no GPS as possibilidades de estradas e constatamos que havia um atalho, então optamos por ele! Numa bifurcação a indicação do GPS era sair da estrada principal para pegar uma vicinal, de terra. Não nos pareceu ser muito utilizada, mas gostamos desse tipo de terreno e decidimos encarar. Mas a estradinha foi ficando menor, mais estreita, mais erosões, buracos e mais íngreme. Tão íngreme que em alguns trechos o Roy tinha que engatar a primeira reduzida para não abusar dos freios. Precipícios enormes a nossa esquerda e neles, só plantações de café. Em aproximadamente 5 km descemos mais de 400 metros em altitude, até que chegamos no fundo do vale onde demos de cara com uma ponte quebrada. Bom, 5 km não parecem muito, quando dirigimos por estradas razoáveis, mas ter que retornar aquele caminho por termos chegado no fim da linha, foi de arrancar um suspiro! Demos trabalho para nosso carro naquele lugar.

A busca por uma estrada que levasse a Quepos continuava. E já que avistávamos o litoral de onde estávamos, era certo que deveria haver um caminho que desse acesso a ele, mas o GPS não sabia doutro que não fosse o da ponte quebrada.

Dirigimos mais uns bons quilômetros pela estrada principal e quando passávamos por San Carlos, um cidadão nos fez entender que já estávamos errados novamente. Voltamos uns 5 km e aí sim, encontramos o acesso. Era novamente uma estrada vicinal de terra, na qual deveríamos nos manter sempre na principal. Novamente cruzamos por plantações de café e logo mais a frente, por uma densa e linda floresta, até que chegamos no destino.

Quepos não era o destino propriamente dito e sim o Parque Nacional Manuel Antonio, do qual essa cidade é o portão de entrada. É considerado uma das mais belas paisagens do país, com lindas florestas ao lado do mar azul. Nossa visita ao parque iniciou as 7h da manhã junto a centenas de outros turistas. Caminhamos diversos quilômetros por trilhas bem marcadas que ora nos levavam a praias isoladas e ora aos morros, de onde tínhamos vistas panorâmicas do encontro da floresta com o mar. Por essas trilhas, nossa atenção foi atraída pelos animais que encontramos no caminho: um veado, macacos, bugios e iguanas. Infelizmente não encontramos os bichos-preguiça. Terminamos nosso passeio nas praias Manuel Antonio e Espadilla Sur, onde se concentrava a grande multidão de visitantes. Além de curtir a praia, todos se alvoroçavam fotografando os animais que ali rodeavam e não se abalavam com a presença humana.

Sentamos a beira da praia para fazer um lanche e logo começou a diversão: guaxinins atacavam os pertences dos visitantes para roubar suas comidas. Muitos turistas traziam salgadinhos e esses eram os alvos preferidos dos animais. Sim, eles ainda escolhiam seu almoço. Estavam divertidas aquelas cenas, apesar de serem contra as regras do parque, devido aos animais se acostumarem e passarem a depender daquela comida para sobreviver. Quando foi nossa vez de almoçarmos, também fomos atacados. Uma iguana saiu da sombra de um tronco ao nosso lado, onde não a havíamos visto e correu em nossa direção para roubar o sanduíche do Roy, que estava em sua mão. O Roy se defendeu fazendo uma barreira com seus pés, mas mesmo assim, a iguana fez três tentativas e não tinha medo algum!

Caminhamos para a praia seguinte afim de descansarmos na sombra de uma árvore e já avistamos as quadrilhas de guaxinins circulando por nossas costas. Eles vem sempre em grupo e como possuem uma faixa preta na parte de seus olhos, parecem que usam aquelas vendas, tipo os ladrões dos gibis. Assim que os vimos, avisamos nosso vizinho para cuidar de sua comida, pois os guaxinins se aproximavam. Os malandros passaram por nós, por ele e foram para duas mochilas deixadas sozinhas na areia, e claro, com um pacote de salgadinhos a mostra. O Roy correu para lá para impedir que os animais levassem o pacote, mas essa história teve um desfecho engraçado: enquanto ele espantava os quatro guaxinins da mochila deixada sozinha na praia, seus donos, lá do mar, gritavam desesperados dizendo que um ladrão roubava seus pertences. Foi hilário, pois acharam que o ladrão era o Roy! Quando souberam o que realmente estava acontecendo, ficaram sem jeito e vieram pedir desculpas.

Dando sequência na nossa viagem, visitamos mais algumas praias ao norte. Na Praia Herradura avistamos araras vermelhas voando a beira mar e cruzamos um rio habitado por crocodilos realmente gigantes. Nas Praias del Coco, Ocotal e Panamá, no norte da Península de Nicoya, pudemos desfrutar de paisagens dramáticas da costa do Pacífico e de uma água de mar bem mais gelada que ao sul.

Subimos novamente as montanhas até a capital San Jose para encontrar a amiga colombiana Lorena. Na verdade não a conhecíamos, mas tínhamos uma entrega para ela que trazíamos desde Bogotá. Estávamos há algum tempo trocando e-mails com a Lorena e combinando este encontro. Num dos e-mails, ela nos passou o endereço onde devíamos encontra-la: Guadalupe, Mais x Menos, 75 este e 25 norte. Chegando na capital, não encontramos nenhum endereço assim em nosso GPS e não fazíamos a mínima ideia para onde ir. Perguntando, descobrimos que Guadalupe era um bairro da grande San Jose e que Mais x Menos era um mercado. Ok, mas e o “75 este e 25 norte”? Nós supomos que seriam os nomes de ruas. Depois de procurar bastante e pedir informação, descobrimos que “75 este e 25 norte” eram as distâncias em metros nas direções leste e norte que o local dela estava da referência, neste caso o mercado Mais x Menos. Pode??? Dá para confiar que uma encomenda chegaria em mãos de um destinatário? As cidades por aqui são todas assim, não possuem nomes de ruas e muito menos os edifícios são numerados. Todo mundo usa pontos de referências comuns como igrejas, parques, escritórios, restaurantes, mas muitas vezes essas referências são coisas loucas, como o lugar que alguém encontrou uma tal pessoa, ou o pior, uma árvore que há anos não existe mais. Que confusão!

Nos arredores de San Jose encontram-se diversos vulcões. Muitos deles vimos só de longe, porém dois decidimos ver de perto: o Vulcão Poás e o Arenal. Para ver o primeiro, subimos até os 2.450m onde tivemos mais uma noite fria (7.8 graus). Mas não tivemos sorte. O dia amanheceu fechado e nada se via do Poás. Partimos sentido ao outro vulcão. No caminho, uma paisagem muito verde com montanhas, vales e cachoeiras. Até que, de longe, avistamos o fotogênico Vulcão Arenal com seu formato cônico.

Até 1968, La Fortuna, situada há 6km da base do vulcão Arenal, era uma cidade agrícola e tranquila. Mas na manhã de 29 de julho daquele ano, depois de 400 anos dormindo, o vulcão entrou em forte erupção e soterrou com lava pequenas vilas ao seu redor. Ruim para uns, bom para outros! A partir daquele momento turistas invadiram a pequena cidade para admirar a atividade vulcânica que continuou por vários anos e La Fortuna tornou-se muito turística. Foi assim até 2010, quando, do nada, o vulcão dormiu novamente e deixou a indústria do turismo a ver navios. Mas mesmo sem a atividade do vulcão, La Fortuna continua sendo o portal de entrada para conhece-lo e pode-se fazer diversas atividades em suas redondezas.

Nosso livro guia dizia que haviam águas termais na região e que algumas delas eram gratuitas, mas não demos muita bola para o assunto, pois somente víamos sinais destas águas em spas luxuosos. Então, quando já estávamos do outro lado do vulcão, ao passarmos por uma ponte, vimos muita gente ao lado da estrada em seus trajes de banho e isso se pareceu pelo mínimo curioso. Paramos nosso carro no acostamento, caminhamos de volta uns 200 metros e descemos por uma pequena trilha, pois ali embaixo havia um rio. E quando colocamos nossos pés dentro da água, acreditem, a água era quente!!! Não deu um segundo para estarmos de volta no carro colocando nossas roupas de banho para voltar lá correndo. Adoramos quando isso acontece, essas surpresas. Se já soubéssemos desse lugar e que a água seria quente, talvez a satisfação de banhar-se neste rio tivesse sido a mesma. Encontrar um lugar espetacular como esse sem esperar, não tem preço.

Mais alguns quilômetros e chegamos no norte da Costa Rica, divisa com a Nicarágua. Seriam necessários meses para conhecer tudo o que este país tem a oferecer, mas uma decisão está nos fazendo apressar um pouco o passo na América Central – queremos estar na metade de maio nos EUA para participar de uma feira chamada Overland Expo, dedicada exclusivamente para viajantes como nós. O plano, na verdade, sempre foi participar desta feira, mas houveram atrasos na América do Sul, principalmente devido ao roubo que aconteceu na Colômbia, que nos fez ficar por um bom tempo no Panamá para nos reorganizarmos e esperar pelos novos cartões de créditos que vieram do Brasil. É duro ter que fazer este trajeto tão rápido, mas a vida é feita de escolhas e decisões precisam ser tomadas em uma expedição longa como essa.

 

PS 1: Sua passividade em guerras, a alta expectativa de vida e uma economia relativamente estável fazem da Costa Rica um dos melhores países para se viver na América Central. Pudemos perceber que tudo neste país é mais caprichado (as cidades, as casas, as estradas) e com pouco lixo espalhado pelos espaços públicos e privados.

PS 2: Um frentista, que se empolgou com a nossa história, se aproximou de nós e disse: “Como não posso viajar o mundo com vocês, pelo menos meu copo vai!” E nos deu de presente seu copo de plástico com desenhos de bonecos de neve. Nós chamamos isso de presente de grego, pois temos um espaço muito limitado dentro de nosso carro e não queremos carregar coisas demasiadas ou que não utilizamos. E, definitivamente, não estamos precisando de mais um copo. Mas como o frentista foi muito sincero, decidimos levar o copo dele conosco e, quem sabe, por possuir esses desenhos de neve, seja um sinal de boa sorte em nosso projeto nas Latitudes 70.

PS 3: Nossa campanha no Catarse (O MUNDO POR TERRA TEVE SEUS EQUIPAMENTOS ROUBADOS) continua a mil. Estamos muito satisfeitos com os resultados obtidos e com toda a ajuda que já recebemos. Já passamos dos 54% arrecadados em 21 dias de campanha. Contamos com a sua colaboração! Acesse a campanha neste link: www.catarse.me/pt/mundoporterra

Itinerário percorrido

Itinerário Costa Rica

Fotos

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