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56 quilômetros a pé

Histórias e momentos

O “Vierbergelauf”, ou a “corrida das quatro montanhas” em português, é uma peregrinação que acontece na Áustria há muitos anos. Tantos anos que diferentes teorias sugerem que ela pode acontecer desde a idade média, ou até mesmo desde a pré-história, quando caminhava-se para a adoração do sol Celta.

Nos dias de hoje é um evento católico, inicia na primeira hora da segunda sexta-feira após a Páscoa e percorre quatro morros (Magdalensberg, Ulrichsberg, Veitsberg e Lorenziberg) ao redor do vilarejo St. Veit, no sul do país, conectando diversas igrejas onde fiéis atendem as missas ao longo do percurso. O caminho é feito a pé e possui nada menos que 52 quilômetros. Soma-se a ele um quilometro para se chegar no início da caminhada e três quilômetros para voltar da última igreja até a condução de volta para casa.

Nossa participação foi uma mera coincidência, pois esse evento é bem regional e nem austríacos de fora dali o conhecem. Alias, se não fosse por nosso amigo Werner (conhecemos Werner e sua esposa Delphine em nossa primeira viagem, na Austrália), a quem prestávamos uma visita em Viena, não acredito que teríamos encarado tamanho percurso a pé por livre e espontânea opção. Nós adoramos caminhar, mas 52 quilômetros, subindo e descendo quatro montanhas, tendo elas, só de aclive, mais de 2.000m, é muito chão. É preciso varar a noite e o próximo dia inteiro, para, depois de 17 horas continuas, chegar na última igreja.

Mas como não somos de dizer não a convites, especialmente desse gênero, que envolve esporte, cultura, natureza e cerveja, lá fomos nós peregrinar junto ao Werner, seu amigo Hardy (hoje nosso amigo também) e mais cinco mil pessoas. O que ninguém esperava, porem, é que das 17 horas, 15 seriam debaixo de muita chuva e frio. Nós, Michelle e Roy, por não estarmos vestindo equipamento adequado, nos encharcamos já na segunda hora. A noite a temperatura chegou a apenas 2 graus e molhados do jeito que estávamos, foi de chorar em alemão (com sotaque austríaco).

Nosso esforço foi grande e constante, pois não podíamos parar por muito tempo e assim dar chance para nosso corpo esfriar. Além disso, devido a chuva, as trilhas ficaram enlameadas e quase não vimos a natureza ao nosso redor. Mas o clima entre as pessoas foi caloroso e de muita descontração. Em certos lugares de descanso, os moradores locais nos ofereciam comida típica, cerveja e schnaps (similar a nossa aguardente) de graça, o que nos animava para seguirmos até a próxima parada.

As horas foram avançando, a escuridão deu lugar a luz do dia, o cansaço as vezes desaparecia, mas voltava novamente e assim fomos vencendo cada passo, cada hora das 17 sem fim e a última igreja chegou para que pudéssemos tocar o sino e celebrar. Após aquela igrejinha, quando nos demos o luxo de sentarmos para tomarmos cerveja e comermos pãezinhos servidos com queijo, salame, linguiça e requeijão, nós pensamos, realmente, que deveríamos voltar a fazer essa procissão algum dia.

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