ícone lista de índices Índice

Diário de Bordo 39 – Cazaquistão 1

(18/07/2016 a 21/08/2016)

Nós não sabíamos muito sobre a Ásia Central antes de iniciarmos as pesquisas sobre essa parte do mundo. Só lembrávamos que era a terra dos “istão”: Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Uzbequistão, Turcomenistão e Ondeéquistão, como costumávamos brincar. A falta de conhecimento sobre esses países pode decorrer deles terem pertencido a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas até 1991 (URSS) e por isso terem ficado, de certa forma, na sombra da Rússia. O Cazaquistão é o país mais desenvolvido da Ásia Central e é o nono maior em território do mundo, tendo suas terras tanto na Ásia como na Europa (país transcontinental).

Entramos no Cazaquistão pelo norte e dirigimos longas distâncias em planícies áridas até chegarmos na capital Astana, uma cidade que nos deixou realmente surpresos. Não esperávamos ver tanta modernidade no meio daquelas terras desérticas. Por se parecer com Dubai pela extravagância de suas construções, Astana foi apelidada de “Dubai das Estepes”. Assim como Brasília, Astana foi planejada para ser capital e passou a ter esse título em 1997. No ano seguinte, em 1998, seus governantes solicitaram a arquitetos e urbanistas de renome internacional que participassem de um concurso para desenhar a nova capital e o ganhador foi o japonês Kisho Kurokawa. Ele e os demais idealizadores de Astana foram realmente arrojados, pois de 1998 para cá a cidade explodiu com arranha-céus e outras belas construções que nossas fotos podem descrever melhor. Nós gostamos de Astana, pois é uma cidade que tem bastante vida. Era muito agradável caminhar no calçadão, por entre obras de arte e de entretenimento, onde as pessoas interagiam bastante.

Estando em Astana, porém, tem-se a impressão de que o país está em pleno desenvolvimento e que tudo são mil maravilhas. Mas basta conversar com os cazaques para perceber que a coisa não é bem assim. O presidente Nursultan Nazarbayev conseguiu alavancar um bom crescimento, mas a democracia segue em caminho inverso, parecendo-se mais com um modelo de ditadura. Ele assumiu o poder após a queda da União Soviética em 1991 e continua governando desde então. Em julho de 2007 o parlamento promulgou uma lei que dava poder e privilégios vitalícios ao presidente, bem como imunidade jurídica total e o direito de influenciar na política de futuros presidentes. Vendo como é a política no Cazaquistão e em alguns outros países da Ásia Central, podemos dizer que a situação do Brasil ainda é favorável, apesar da corrupção.

Este ano o Cazaquistão fez um acordo com o Brasil com o objetivo de intensificar o turismo entre os países e ambos aboliram a necessidade de vistos de turismo. O Brasil, com o objetivo de trazer mais atletas e turistas para as Olimpíadas e o Cazaquistão, para atrair visitantes para a EXPO 2017, que é uma exposição internacional onde os próprios países participam para apresentarem suas ideias e tecnologias de sustentabilidade. Vai ser um evento interessante e a cidade está se preparando com obras especificamente para ele. No calçadão de Astana haviam bonecos divulgando os países que irão participar. Procuramos um por um, mas não vimos a bandeira brasileira.

Falando em Brasil, ao sul de Astana situa-se Karaganda e ali, no meio das estepes, um lugar não muito comum para o encontro com brasileiros, passamos dois dias com os amigos Xixo e Fran, que também viajam o mundo com seu Land Rover Defender. Foi um encontro planejado entre nós e Xixo e seu filho aproveitaram para nos presentear com seu livro “Nossa Grande Viagem”, que descreve a viagem deles (junto a Barbará, irmã do Fran e filha do Xixo) pelas Américas. Esta família querida nos deu o privilégio de escrever o prefácio de seu lindo livro. O ruim desses encontros com amigos é que quando a conversa é boa, as horas passam muito rápido. Quando partimos de Karaganda os dois seguiram ao norte, sentido Astana e nós ao sul, para passarmos alguns dias merecidos nas praias do Lago Balkhash, onde pudemos dar uma geral no carro e em nossa roupa suja.

Muitas estradas do Cazaquistão estão sendo construídas ou renovadas. É uma grande melhoria que está sendo feita para o futuro, mas enquanto não fica pronta, os deslocamentos se tornam muito lentos pelos buracos e desvios gerados pela obra. E como o país é grande, para cruza-lo leva dias.

Quando chegamos ao sul a monotonia das estepes deu lugar a uma região mais interessante, por situar-se as margens de grandes montanhas que fazem fronteira com os países vizinhos Quirguistão e Uzbequistão. O lugar é propício para o cultivo de frutas, sendo que, depois de muito tempo, voltamos a ver frutas em abundância a venda na beira da estrada e muito baratas.

Visitamos Taraz e Shymkent, duas cidades que fizeram parte da antiga Rota da Seda e depois seguimos para Almaty, a capital do país até 1997. Apesar de não ser mais capital, Almaty continua sendo a maior, mais desenvolvida e mais diversa (culturalmente falando) cidade do Cazaquistão. Por situar-se a beira de montanhas, é também turística e atrai muitos esportistas durante o inverno. A propósito, é das proximidades de Almaty que a maçã tem sua procedência no mundo. O nome Almaty na língua cazaque significa “maçã”. E por curiosidade, há relatos que Alexandre “O Grande” encontrou maçãs no Cazaquistão em 328 a.C. Comemos muito deste fruto que o povo local possui tanto orgulho.

Mas há mais curiosidades: nós pensávamos que para se comer boa carne, o Brasil, o Uruguai, a Argentina, a África do Sul ou a Austrália seriam as opções mais indicadas. Mas não, o Cazaquistão possui carne de boa qualidade, que é, porem, servida de diferentes formas e o shashlik é a mais comum. Puxa, que carne macia e gostosa. Nós entramos no mercado municipal de Almaty e descobrimos o seu segredo: capricho! Havia carne para todos os gostos como gado, carneiro, cabra, cavalo, porco, galinha e elas estavam separadas por departamento. Como haviam muitos vendedores para nem tantos fregueses, o cuidado com o corte, qualidade e ambientação eram essenciais, ao ponto das toalhas brancas postas sobre a mesa para expor a carne serem trocadas mais vezes durante o dia para evitar que fiquem vermelhas pelo sangue escorrido. O shashlik é um prato comum em toda Ásia Central e é feito geralmente de carne de ovelha. Ele pode ser comparado ao nosso espetinho, mas entre os pedaços de carne são intercalados pequenos pedaços de pura gordura do carneiro, cortados da parte traseira do animal (isso é algo que não vemos na espécie de carneiro no Brasil) e por incrível que pareça, conforme nos falaram algumas pessoas locais, essa gordura é mais cara que a própria carne.

Em Almaty, pela mão de obra das mecânicas ser barata, fizemos alguns reparos necessários em nosso carro. Consertamos um amortecedor que havia estourado e trocamos diversas buchas que estavam gerando folgas na direção e no eixo dianteiro. Isso é mais que admissível para um carro que nesse dia de manutenção completou 2 nos na estrada nessa viagem.

O último lugar visitado no Cazaquistão, e talvez um dos mais bonitos, foi o Cânion Sharyn. Situa-se na extremidade sudeste do país, próximo a fronteira com o Quirguistão e a China. É uma escultura magnífica feita pela natureza sobre uma rocha avermelhada que nos deu, inclusive, a oportunidade de dirigir dentro dela o que resultou em belas imagens.

Dali, ao fundo, já avistávamos as montanhas de nosso próximo destino, o Quirguistão. Pé na estrada!

Saiba mais sobre esse trajeto nos posts abaixo:

 

Itinerário percorrido

Itinerário Cazaquistão 1

Fotos

Compartilhe

Veja Também

Diário de Bordo 1 – Projeto do novo motorhome

28 | abr | 2014

Diário de Bordo 2 – Projeto rabiscado, agora é hora de construí-lo!

13 | maio | 2014

Diário de Bordo 3 – O mundo de um outro ponto de vista!

8 | jun | 2014