(10/04/2017 a 23/04/2017)
Chegou a vez da Hungria e da Eslováquia.
Nós não tínhamos grandes planos para esses dois países. Queríamos apenas cruzar a Hungria e a Eslováquia e ir aproveitando o que fosse aparecendo em nosso caminho. Mas depois de 13 dias por essas terras, podemos dizer que ficamos realizados com o que vimos. Terras que ainda possuem muita cultura e tradição.
Começamos a viagem na Hungria pela planície Panônia, também chamada de Bacia Cárpata, que nos pareceu uma versão em miniatura do Pantanal Brasileiro. Passamos por diversas fazendas com solo arenoso e muita poeira, de onde vimos animais, como veados pastando nos campos abertos e pássaros fazendo algazarra nas áreas alagadas. No passado, devido a exploração excessiva da terra pela agricultura e pecuária, desencadeou-se uma desertificação do solo. A areia exposta pelo desflorestamento começou a se movimentar formando dunas sobre as plantações e vilas e hoje, como uma tentativa para recuperar essas áreas degradadas, foi criado o Parque Nacional Kiskunsagi.
O rio Danúbio divide essa Grande Planície ao meio e foi às suas margens que passamos nossa terceira noite no país. Havíamos cruzado o Danúbio nos países anteriores e desde então o Roy sonhava em voar de paramotor para fotografa-lo do alto. O local desse acampamento tinha as condições ideais para decolagem e pouso, mas devido a ausência de vento, que ajuda muito para decolar, foi só na terceira tentativa que ele conseguir tirar os pés do chão. O intuito do voo era para fotografar o rio, mas lá do alto ele descobriu uma outra beleza que só percebe-se de cima, a agricultura húngara. Vejam um POST especial que fizemos sobre essa experiência, clique aqui.
Sempre é gostoso celebrar o sucesso de um voo bonito e seguro, então ao entardecer, sentamo-nos ao redor de uma fogueira para tomar uma cerveja e assistir a movimentação dos barcos, ora de passageiros, ora de cargueiros, que desciam ou subiam o Danúbio. A lenha foi coletada nos bancos do rio e cada uma que colocávamos no fogo, imaginávamos de qual país rio acima se originavam, já que esse é o segundo rio mais extenso da Europa (mais de 2.800km de extensão) e antes dali, suas águas já haviam passado pela Alemanha, Áustria e Eslováquia. No total ele cruza 10 nações e termina sua trajetória no Mar Negro, na divisa da Romênia com a Moldávia e Ucrânia.
O feriado de Sexta-Feira Santa estivemos na capital Budapeste. O camping que pretendíamos ficar ainda estava fechado para o inverno, mas depois que descobrimos o seu alto preço, ficamos felizes que tivemos que procurar por outro lugar para passar a noite. Acabamos acampando no estacionamento dos bombeiros da capital húngara. Budapeste é uma cidade linda, mas grande e espalhada. Bem típica europeia. Na verdade são duas cidades, Buda e Peste, uma em cada lado do Danúbio. Nós fomos primeiro para Buda, que é mais turística e ficamos um pouco chocados com a quantidade de pessoas que se encontravam no local. Não estávamos mais acostumados com lugares tão turísticos. Mas pela beleza da cidade, dá para entender o motivo de toda aquela gente, mesmo que em baixa temporada. Do Castle Hill cruzamos o rio pela ponte metálica Szabadsag. Ela possuía um ambiente agradável, onde casais de namorados faziam de sua estrutura o seu ponto de encontro. Em Peste a vida é mais real e menos turística, mas o comércio estava fechado devido ao feriado. Caminhamos sem rumo, descontraídos e o clima de início de primavera foi bem convidativo para tomarmos um sorvete italiano enquanto caminhávamos por uma feira de comida e artesanato.
Seguimos viagem ao norte margeando o rio Danúbio, de vila em vila e a Páscoa celebramos em Visegrad, local escolhido pelos reis húngaros para se protegerem dos ataques mongóis. Subimos até a Citadela para termos uma vista panorâmica, demos uma espiada no Palácio Real, que já foi um dos maiores da Europa Central e almoçamos um “Transilvanyan Wood Plate” (frango, porco, bacon, salsicha, batata, pepino e repolho doce) num restaurante local. Tivemos um dia bem típico de domingo de Páscoa. Ainda na Hungria visitamos a Basílica de Esztergom, maior igreja do país, mas a melhor vista desta imponente construção tivemos do outro lado do rio, quando já estávamos na Eslováquia.
No outro dia, por já termos cruzado a fronteira para a Eslováquia, tivemos que voltar a Hungria, pois esquecemos a tampa do tanque de combustível no posto onde abastecemos. Já era a terceira vez que isso acontecia na Europa (a primeira vez foi na Bulgária e a segunda na Romênia). Nas outras vezes, devido a distância, não voltamos para busca-la e compramos tampas novas, alias, uma vez ganhamos uma em um ferro velho. Neste posto da Hungria, onde aconteceu o episódio da tampa, haviam cinco outras tampas, o que nos deixou aliviados por saber que não éramos os únicos avoados. É fácil cruzar fronteiras quando se está na Zona Schengen, onde 26 países europeus desfrutam de uma política de fronteiras abertas e de livre circulação de pessoas. Ou seja, não tivemos que enfrentar burocracia de fronteira. Por fim acabamos cruzando a ponte entre a Hungria e a Eslováquia cinco vezes, na última delas para fazer uma filmagem da sua bela estrutura de ferro.
Na Eslováquia os jardins estavam floridos, especialmente com tulipas, que eram as flores que mais chamavam a atenção por sua beleza. Além disso, percebemos que as vilas por onde passávamos possuíam postes com alto-falantes, em distintos locais das vilas, que nos intrigaram de sua serventia. Mais tarde, em conversa com um local, descobrimos que são uma espécie de rádio da prefeitura para dar avisos, notícias, comunicar falecimentos, etc. Um hábito antigo que as pequenas comunidades ainda preservam em meio ao mundo digital.
E que riqueza arquitetônica possui a Eslováquia, com detalhes diferentes do que estávamos acostumados a ver na Europa Ocidental. A cidade de Banska Stiavnica é lindíssima. Foi muito próspera do século 16 por ser uma cidade mineira. Nessa época ela era tão rica, que chegou a ser conhecida na Europa como “A cidade da prata” e desenvolveu-se como um centro de progresso técnico e educacional. Depois visitamos as vilas tradicionais de Vlkolínec e Cicmany, com suas casas de madeira pintadas. Ambas as vilas nos deram uma aula de arquitetura em madeira e carpintaria.
No norte do país pretendíamos explorar as montanhas Tatras (parte mais alta da cordilheira dos Cárpatos), mas estavam inacessíveis devido a uma forte nevasca. Mudamos de planos então e ao invés de caminharmos nas montanhas, fomos para um restaurante comer. Que contraste, mas não há coisa melhor para se fazer do que comer num dia de frio e neve. Fomos no restaurante Salas Krojinka em Ruzomberok, onde nos deliciamos com um refogado de carneiro acompanhado de pirogue de batata, bacon e queijo brindza (um queijo de carneiro com cheiro e gosto forte, típico dessa região europeia). De sobremesa comemos um strudel de maçã que acabara de sair do forno. Tudo bem caseiro. Hum, dá água na boca só de lembrar.
Depois da nevasca fomos presenteados com um dia lindo e o aproveitamos para conhecer a região de Terchová, que é a cidade natal de Juraj Janosik (1688-1713). Este foi um grande nome do romance, poesia e filme da Eslováquia e Polônia. De acordo com a lenda, Janosik roubava dos ricos para dar aos pobres e se tornou o Robin Hood local e um orgulho nacional. Em geral percebemos que os eslovacos são bem nacionalistas e orgulhosos de seu país, cultura e tradição.
A pequena vila de Terchová também é o ponto de entrada do Vale Vratna e do Parque Nacional Mala Fátra. Dirigimos até o final do vale e de lá partimos a pé, caminhando sobre a neve fresca até um local chamado Chata na Gruni, de onde tem-se uma das melhores vistas da montanha Velky Rozsutec (1610m), considerada uma das mais bonitas da Eslováquia. Suas rochas se destacam no meio das demais montanhas cobertas por florestas verdes.
E por fim chegamos em Bratislava, onde encontramos um ótimo lugar para acampar: de frente para o rio Danúbio e do outro lado do centro histórico da capital. Passamos apenas um dia por ali, pois no outro dia (23 de abril de 2017) tínhamos um encontro marcado em Viena, na Áustria. Reencontraríamos nossos amigos Werner e Delphine, que conhecemos há dez anos atrás na Austrália em nossa primeira volta ao mundo e que desde então não os víamos. Para esse momento tão importante fomos a um shopping em Bratislava dar um trato em nossa aparência, hehe. Compramos calças novas, já que as nossas, de tão usadas e surradas, estavam em trapos. Saímos dos trocadores outras pessoas e as calças velhas ficaram num lixeiro do shopping. Estávamos prontos para seguirmos ao próximo país.
Veja mais sobre esse trajeto:
Itinerário percorrido
Fotos