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Diário de Bordo 61 – Alemanha 2 e Países Baixos

(24/09/2017 a 16/10/2017)

A última pernada na Europa foi de preparativos para deixarmos o velho continente. Também foi uma espécie de férias e momento de encontros e reencontros.

Faziam três anos que não víamos a Arlette, mãe da Michelle. Na época ela estava para fazer uma viagem com suas amigas pela Europa. Quando nos falou dos seus planos, cogitamos de nos encontrar, mas desistimos quando vimos que os itinerários não se cruzariam. Mas posteriormente os nossos planos acabaram mudando, então percebemos que poderíamos fazer uma surpresa em Dortmund, norte da Alemanha e organizamos tudo as escondidas com sua guia Mirian.

A Arlette viu de longe o Lobo estacionado na frente do hotel em que iria se hospedar e que emoção tivemos ao encontra-la. Para festejar o reencontro, a Michelle se juntou ao grupo e foi ao show de Helene Fischer, cantora do momento na Alemanha. O encontro acabou sendo breve, pois no outro dia elas já retornariam ao Brasil.

Seguimos para os Países Baixos e no dia 03/10 a eficiência do primeiro mundo se comprovou quando carregamos, em apenas uma hora e meia, nosso carro num container que seguiria para Montevideo, Uruguai. Como ficamos sem o nosso abrigo, por alguns dias alugamos uma casa em Egmond aan den Hoef (uma vila ao norte de Amsterdã) para conhecer a região na companhia da Leones e Natascha, mãe e irmã do Roy que foram nos visitar. Ficar numa casa, ao invés de um hotel, nos permitiu um dia a dia mais familiar. Podíamos preparar as refeições juntos, assistir a um bom filme ou apenas sentar na sala e conversar. Nesse tempo alugamos um carro que nos deu liberdade de ir e vir quando quiséssemos, mesmo que tivemos que enfrentar alguns congestionamentos.

Conhecemos Alkmaar, a cidade dos queijos; Delft, a cidade das porcelanas azuis; Leiden, a cidade do pintor Rembrandt; Volendam, uma vila pesqueira com casas de madeira; Utrecht, onde foi assinado o Tratado de Utrecht, o primeiro tratado de paz na Europa; Bergen, cidade nobre com casarões antigos e outros modernos; e Amsterdã, a capital do país. As cidades holandesas são simpáticas e no geral possuem características similares: as casas são coladas umas nas outras, com fachadas de tijolinho; são cortadas por diversos canais navegáveis com pontes que se elevam para os barcos passarem.

Leiden, que já havíamos conhecido em nossa primeira volta ao mundo, se confirmou como uma das cidades mais bonitas dos Países Baixos quando a avistamos do Forte De Burcht, construído na época em que a cidade prosperou e chegou a ser a segunda maior do país. Além de bonita, ela possui uma atmosfera agradável e é cheia de vida. Possui a universidade mais antiga do país (fundada em 1575), com uma excelente reputação. De lá saíram dezesseis Prêmios Nobel, de acadêmicos que realizaram descobertas na física quântica, onde foi inventado o eletrocardiograma e onde produziram condições para gerar a menor temperatura atingida na história (-273 °C). Não é de se surpreender que Albert Einstein lecionou ali.

Outro lugar que achamos interessante foi o Distrito de Zaan, que é considerado a primeira região industrial do mundo. Só ali, até o final do século 18, cerca de 600 moinhos de vento ainda estavam em operação. Os moinhos eram usados para tudo, desde moer grãos, fazer óleos, cortar madeira, até produzir tintas para os pintores famosos da época (os pigmentos vinham de todas as partes do mundo, inclusive extraído do pau-brasil). Para posicionar as hélices no sentido do vento, alguns moinhos (os mais antigos) tinham que girar em sua totalidade. Já nos mais novos, somente o topo girava com a hélice e assim era necessária apenas uma pessoa para fazer esse ajuste. Havia um sistema de engrenagens de madeira dentro dos moinhos que transmitiam aos moedores a força gerada pelo vento. Na Revolução Industrial, porem, o vento perdeu sua importância para outros tipos de energia primaria, como o vapor e outras maquinas movidas a combustão interna. Hoje, os poucos moinhos que sobrevivem ao tempo (1.000 dos 10.000 que existiram nos Países Baixos), viraram museus.

As redondezas da casa que alugamos era rural, com plantações de flores e criação de vacas leiteiras. Lá fizemos uma caminhada até a Praia Egmond aan Zee. Desde 977, quando essa vila se formou sobre as dunas costeiras, seus moradores lutam contra a força do mar. Em 1570 aconteceu um desastre na costa holandesa, conhecido como “Enchente de Todos os Santos”. Um longo período de tempestade rompeu os diques, o que resultou numa grande inundação e na morte de milhares de pessoas pelo país. Em Egmond aan Zee cerca de 50 casas desapareceram. Nesta vila, em 1741, o mar também engoliu 36 casas, a igreja e sua torre. A praia estava lotada de pessoas encasacadas caminhando pela longa faixa de areia acompanhadas de seus cachorros. No meio do mar, quase como uma miragem, podíamos identificar uma grande quantidade de geradores eólicos.

O ponto alto desse passeio foi o nosso almoço. Comemos arenque cru, um prato tradicional holandês de centenas de anos. Arenque é um peixe pequeno, comum nos mares do Norte e Leste. Após capturado é congelado e depois depositado no sal por alguns dias. Dessa forma pode ser conservado por meses. No prato que experimentamos, o peixe foi servido de três diferentes formas e acompanhado de pão, salada e pepino em conserva.

A capital Amsterdã demandou varias visitas. Da estação central, que é um dos principais marcos da cidade e onde chegávamos de trem, nos deixávamos levar a pé por entre os canais e marcos históricos e arquitetônicos. Há uma grande concentração de museus na cidade e não há programa melhor para um dia de chuva do que visitar um museu. A prova disso é que nesses dias eles ficavam lotados.

O museu que escolhemos foi o de Van Gogh, o qual recomendamos. Ficamos lá mais de três horas e ainda nos faltou tempo. Guiados por um áudio-guia, andamos por suas galerias aprendendo sobre a curta trajetória do pintor e apreciando obras de amigos pintores que o inspiraram. Ele gostava de pintar a vida rural; de expressar a essência dessa vida e das pessoas. Pintou auto-retratos, pois não tinha dinheiro para pagar por modelos. Seu irmão, que era vendedor de obras de arte o financiava. Foram apenas 10 anos como pintor, mas nesse tempo Van Gogh chegou a produzir mais de um quadro por dia. Ele ficou louco aos 37 anos e se matou com um tiro no peito. Quem ajudou a divulgar seu trabalho foi a cunhada Jo e depois seu sobrinho Vincent, que foi o fundador do museu que visitamos.

No dia 13/10 a Natascha retornou ao Brasil e a Leones seguiu de trem para outros países da Europa e nós recebemos a visita dos amigos holandeses Thijs e Rieneke, os quais havíamos conhecido nos Estados Unidos. Eles nos levaram para passear em Madurodam, um parque de miniaturas. Foi muito legal ver os lugares que havíamos visto na realidade, em forma de miniatura, 25 vezes menores. O mais interessante foi ver em pequena escala os diques e canais de drenagem, que ilustraram como funciona esse país que fica abaixo do nível do mar.

O último dia em Amsterdã, caminhamos pelo agradável distrito da Luz Vermelha, cujas ruas, bares e restaurantes estavam lotados de turistas. Um ótimo lugar para celebrar com uma boa cerveja holandesa o término dos nossos nove meses na Europa.

Dia 16/10, as dezoito horas e vinte minutos, embarcamos num avião da Tap Portugal rumo ao Brasil. Lá embaixo, como se fosse uma miniatura de Madurodam, vimos os Países Baixos ficarem para trás. Os geradores eólicos no meio do mar não foram o maior destaque, mas sim milhares de estufas iluminadas. Como nos contou Thijs, há quase duas décadas o país assumiu um compromisso de agricultura sustentável, com o objetivo de produzir o dobro de comida usando metade dos recursos e essas estufas foram a solução. A Holanda é um país pequeno e populoso e não conta com os recursos naturais necessários para a agricultura em larga escala, mas mesmo assim conseguiu se tornar o segundo maior exportador de alimentos – atrás apenas dos Estados Unidos, que tem 270 vezes o tamanho do seu território. Eles reduziram em 90% o desperdício de água, eliminaram grande parte dos pesticidas químicos e cortaram em 60% o uso de antibióticos na criação de frango e gado. As “fazendas climatizadas” também permitem a produção de alimentos de regiões de clima quente, a exemplo do tomate.

Segundo Ernst van den Ende, diretor do Grupo de Ciências das Plantas da WUR (reconhecida como a principal instituição de pesquisa agrícola do mundo), o planeta precisará produzir “mais comida nas próximas quatro décadas do que todos os agricultores colheram nos últimos 8 mil anos”. Estima-se que em 2050 a Terra terá 10 bilhões de habitantes e, segundo ele, “se não conseguirmos um aumento significativo na produtividade das lavouras, com a redução massiva do uso de água e combustíveis fósseis, um bilhão de pessoas podem passar fome”.

Veja mais desse trajeto:

Itinerário percorrido

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