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Diário de Bordo 22 – Belize

(13/04/2015 a 17/04/2015)

Depois da Guatemala… veio Belize.

Geralmente antes de entrarmos em um país buscamos informações sobre ele, mas temos que confessar que, antes de entrar em Belize, não havíamos pesquisado quase nada sobre esse pequeno país do nordeste da América Central. Única coisa que sabíamos era que ele possui a segunda maior barreira de corais do mundo e foi isso que nos atraiu para lá.

No dia 13 de abril de 2015 chegamos na fronteira entre Guatemala e Belize e estranhamos que quando falávamos com os oficiais de imigração e aduana em espanhol, nos respondiam em inglês. Continuávamos falando em espanhol e eles continuavam nos respondendo em inglês. Até que em um momento perguntamos a um deles: “Qual língua vocês falam aqui em Belize?”, e o oficial respondeu: “Inglês!”. Para nós isso foi uma surpresa. Mudar de língua depois de sete meses falando espanhol deu um nó em nossa cabeça.

E de onde vem a língua inglesa? Na época dos descobrimentos, conquistadores espanhóis exploraram essas terras e as declararam parte da colônia espanhola, mas não tiveram interesse em coloniza-las já que não havia muitos recursos naturais e os indígenas maias apresentavam uma forte resistência. Então no século 17, ingleses e escoceses, além de piratas, entraram nessas terras e criaram assentamentos com o propósito do comércio de madeira (mogno) e escravos. Os anos se passaram e em 1836, após a independência dos países da América Central da Espanha, os britânicos ganharam os direitos de administrar a região e em 1862 a coroa britânica declarou formalmente essas terras como parte de sua colônia, subordinadas a Jamaica, e as chamou de Honduras Britânica. Em 1973, de Honduras Britânica o país passou a se chamar Belize e tornou-se independente em 1981, mas permaneceu parte dos países do commonwhealth, ou seja, manteve a Rainha Elizabeth II como monarca. Esse ano da mudança de nome explica o porque de muitas pessoas que estiveram nos bancos de escola antes de 1973 não saberem da existência desse país. Como saber se naquela época ele tinha outro nome?

Antes de sairmos da Guatemala aproveitamos os preços baratos e estocamos nossa despensa de comida e cerveja (uma latinha de Brahva custava aproximadamente 0,35 dólares. Oferta irresistível!). Mas demos com os burros n’água, pois ao chegarmos na fronteira com Belize, uma placa dizia: “PROIBIDA A ENTRADA DE COMIDAS FRESCAS E BEBIDAS ALCOOLICAS”. Cruzar fronteiras com comida fresca quase nunca é permitido, mas como ninguém checa, nunca tivemos problemas, com exceção do Chile, que é um país que leva a questão fitossanitária extremamente a sério. Ali em Belize o fiscal até veio checar, mas foi um cara legal e nos levou apenas o salsão murcho. Ele aceitou nossa promessa de que todo o resto de comida fresca iríamos cozinhar naquela noite. Já as 24 latinhas de cerveja foram cuidadosamente escondidas dentro da maleta de ferramentas.

Também tivemos sorte ao perguntar para o mesmo fiscal se estávamos livres para partir, mesmo que não tivéssemos recebido nenhum papel da aduana, somente um carimbo no passaporte do Roy. “Sim, para um visto de trânsito está tudo certo”, respondeu o oficial. Visto de trânsito, como assim? Houve, na verdade, um mal entendido por parte da aduana, pois pensaram que nós queríamos apenas cruzar o país e ir ao México. Mas com a boa vontade dos oficiais, regularizarmos essa situação e pudermos seguir adiante com visto de turismo em Belize. Ufa!

A região central deste pequeno país está cheia de cavernas, cachoeiras, rios azuis para se fazer rafting ou andar de caiaque, reservas naturais para ver animais ou caminhar e muitas ruínas maias, mas como o nosso tempo era curto, decidimos seguir direto para o litoral. Queríamos usufruir novamente das praias, já que as últimas que visitamos foram no sul da Nicarágua. Em se falando de mar do Caribe (Atlântico), não víamos desde a Costa Rica, com sol, mar, sombra e água fresca. Mas que decepção foi chegar em Placencia e Hopkins. Os lugares são lindos, mas não havia praia! Havia pouca areia e o mar estava tomado por algas marinhas que não eram convidativas para um banho. Sem contar que achar uma pedacinho da beira mar que fosse público, era uma raridade. O jeito foi seguir para o norte.

Belize estava sendo completamente diferente do que tínhamos em nossa mente. Primeiro pela língua, depois pelas pessoas. Aqui sim encontramos a América Central que imaginávamos, com um povo em sua maioria negro, descolado, tranquilo, que escuta música alta, reggae… Percebemos que essa América Central que imaginávamos só é encontrada no Caribe mesmo (costa do Atlântico e ilhas). O interior e costa do Pacífico é mais habitado por povos indígenas que muitas vezes se parecem com a parte andina da América do Sul.

Fomos até a Cidade de Belize, antiga capital, para tentarmos de lá conhecer um pouco do que Belize tem de mais belo a oferecer – sua barreira de corais. Depois da Grande Barreira de Corais da Austrália, a Barreira de Corais de Belize é a maior massa de corais vivos, então é a segunda maior do mundo. Possui 300km de extensão e está afastada do continente cerca de 300m no norte e 40km no sul. E dizem que apenas 10% desta beleza natural foi explorada!

Pegamos um speedboat na Cidade de Belize e depois de 1h chegamos na pequena ilha Caye Caulker, há aproximadamente 32km de distância do continente. A ilha, que antes era uma só, se tornou duas quando um canal chamado “The Split”, separou a ilha. Há quem diga que esse canal surgiu depois da passagem do furacão Hattie em 1961 (furacão que devastou a Cidade de Belize e fez com que uma nova capital fosse estabelecida em Belmopan), mas outros dizem que isso é um mito e que o canal foi escavado a mão pelos moradores depois que o furacão abriu apenas uma fissura na ilha. A maré cuidou de abrir ainda mais essa passagem e hoje ela é transponível até por barcos grandes. É um lugar incrível e de um azul de doer os olhos.

Caye Caulker é pequena e para se deslocar a pé não é nenhum problema, mas o interessante é que muitos moradores usam carros de golfe para se locomover por lá. Assim que desembarcamos, fomos dar uma olhada nos tours oferecidos pelas agencias para conhecer os corais. Todas ofereciam opções similares e pelos mesmos preços. Decidimos por fazer o Hol Chan Snorkel, que seriam cerca de cinco horas de passeio com três paradas para snorkel. Fomos nós dois, um israelense e o piloteiro/guia. A primeira parada foi no Shark Ray Alley, onde mergulhamos na companhia de tubarões-lixa (também chamados de tubarão enfermeira ou tubarão preguiçoso) e de arraias (sting rays). Que experiência incrível!!! Haviam muitos tubarões e arraias e podíamos mergulhar muito próximo a eles. Podíamos até toca-los! Mas é claro que esses tubarões não ofereciam perigo nenhum para nós, apesar de serem muito grandes. A segunda parada foi na Reserva Marinha de Hol Chan, uma área de oito quilômetros quadrados de águas rasas que tem uma fenda, ou canal, que é por onde a lagoa protegida pelos corais se conecta com o mar aberto. Hol Chan significa pequeno canal. O lugar é lindíssimo e profundo, habitado por uma infinidade de peixes, muitos deles grandes, que se escondem nas cavernas mais profundas. Ali o destaque foi para uma garoupa grande e algumas barracudas, além de outros tubarões e arraias. A terceira e última parada  foi no Coral Garden (Jardim de Corais), mais próximo a Caye Caulker. Como o nome diz, a atração nessa parte foram os corais e suas diversas formas e cores. Um verdadeiro jardim embaixo d’água.

Conhecer a Barreira de Corais de Belize foi algo que realmente valeu a pena. Terminamos esse dia realizados e encantados com a beleza daquele lugar. Mas também terminamos o dia TORRADOS! Passamos o dia inteiro expostos ao sol sem nenhuma sombra e, com tamanha empolgação de nadar com tubarões e arraias, malmente passamos protetor solar. Foram pelos menos 3 dias sem poder se mexer direito e era aquela gemedeira para sentarmos no Lobo… E depois viramos dois lagartos, descascamos por completo!

Pegamos o último speedboat de volta ao continente e ainda, para voltar a Marina, tivemos que pegar um busão. Uma atmosfera incrível. Ônibus lotado e o ritmo do reggae no máximo. Nesse ônibus realmente nos sentimos no subcontinente centro-americano.

A Cidade de Corozal com suas águas azul-leitosas foi a última cidade antes de cruzarmos para o México e terminarmos nosso trajeto pela América Central. Exatos 8 meses depois de partirmos, estávamos entrando na América do Norte e ainda levando comidas frescas da Guatemala, hehe. Ah se aquele fiscal soubesse…

Itinerário percorrido

Itinerário Belize

Fotos

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