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Diário de bordo 21 – Guatemala

(31/03/2015 a 13/04/2015)

Guatemala e sua rica cultura.

Entramos na Guatemala e traçamos um caminho direto para Antígua, passando apenas na periferia da capital Cidade da Guatemala. Antígua também já foi capital, mas fora destruída por um terremoto em 1773, o que obrigou o país a construir uma nova capital. O nome Antígua é uma abreviação de Antígua Guatemala, em português, Guatemala Antiga.

Nós já suspeitávamos que estaríamos na cidade em uma boa época, pois era Semana Santa e o guatemalteco é muito religioso, mas não fazíamos ideia que esta cidade estaria tão linda e vibrante. E assim como nós, muitos outros turistas e povos da vizinhança chegavam de todos os lados e a cidade ficou lotada! Talvez influenciados por aquele clima intenso, arriscamos aqui até um palpite: achamos que Antígua é uma das cidades coloniais mais encantadoras da América Central e do Sul. Ela tem algo que nem todas tem – a vida normal do povo local não foi afetada pelo turismo. Há uma mescla muito interessante de brancos descendentes dos colonizadores espanhóis com o povo indígena que colore a cidade com seu lindo traje típico.

A Semana Santa em Antígua é comemorada através de longas procissões que transportam nos ombros de homens, mulheres e crianças, altares gigantescos e muito pesados, todos em madeira esculpida. O maior altar que vimos e que os homens transportavam, contamos 90 indivíduos de cada lado. Se cada um estivesse a meio metro de distância do outro, este altar teria 45 metros de comprimento por +/- 3 metros de largura e levava sobre ele uma estátua de Jesus carregando sua Cruz.

Para a passagem das procissões, moradores da cidade fazem belos tapetes decorados com serragem, mas estes são pisoteados e destruídos em segundos quando a multidão passa junto a procissão. O intuito na verdade é esse, tanto do tapete como o de carregar os altares, o de fazer um pouco de sacrifício para retribuir o que Jesus fez por nós. Aconteciam muitas procissões ao mesmo tempo e algumas varavam a noite. Imaginem que podem durar até 18h! O altar não pára, então, para que os carregadores pudessem se revezar, era preciso muita organização por parte das comunidades católicas da cidade. Um espetáculo ímpar que tivemos a oportunidade de vivenciar.

Partimos de Antígua e fomos conhecer o Lago Atitlán. O caminho foi tortuoso e demorado, mas quando avistamos o lago pela primeira vez, do alto de uma montanha, piramos!!! Foi isso que escrevemos em nosso caderno, onde fazemos nossas anotações diárias. Piramos de tão lindo! Este lago enorme de coloração azul está rodeado de três vulcões piramidais (Tolimán, Atitlán e San Pedro) e em suas margens, diversos povos maias tradicionais fizeram suas moradas. Não é pra menos que este lago é considerado um dos mais belos do mundo. De origem vulcânica, o Lago Atitlán tem 340m de profundidade e 126 km2 de área. Para dar uma noção mais real das dimensões daquele lugar, para chegarmos em um povoado chamado San Marcos, em 10km, descemos 1.000 metros em uma estrada muito íngreme. Lá de cima, ainda antes de descer, avistamos o lindo lago de mais um belo mirante!

O nosso plano era passar o domingo de Páscoa em Panajachel, a cidade mais desenvolvida do lago, mas devido ao tumulto de feriadão, nem encontramos estacionamento, então seguimos para Sololá, uma cidade mais tradicional. Em Sololá, no domingo de Páscoa, nós quase choramos ao descobrirmos passando pelos intermináveis tapetes de serragem pisoteados que havíamos chego tarde. A procissão já havia acabado! Imaginamos que devia ter sido muito lindo, pois todas as pessoas, também descendentes dos maias, usavam seus trajes típicos.

É interessante ver povos indígenas como os de Sololá celebrando passagens cristãs, como a Páscoa. Pelo visto os jesuítas fizeram um bom trabalho de catequização. Mas existem particularidades. Mesmo que o cristianismo foi a única religião reconhecida no país na época da colônia, a cultura religiosa indígena não se perdeu por completo. O que existe hoje é uma mescla do catolicismo com diversas crenças maias.  Um exemplo que nós pudemos observar foi em Chichicastenango. Uma igreja foi construída a 400 anos atrás sobre um templo maia. Então, hoje, pastores maias usam a igreja para seus rituais, que envolvem a queima de incensos e velas. Em ocasiões especiais, queimam animais em oferenda aos deuses. Um outro exemplo está em Santiago Atitlán, a maior comunidade do Lago Atitlán, mas que não chegamos a visitar. O povo dessa vila cultua Moximón, que é um ídolo formado pela fusão de deidades maias, santos católicos e lendas de conquistadores.

E por falar em religião, nós dirigimos até San Andrés de Xecul só para ver uma igreja um tanto quanto bizarra. É coloridíssima!!! Em sua fachada amarela há várias estátuas de santos, bem como anjos, bonecos, onças em alto relevo e tudo muito chamativo. A cúpula também é de diversas cores.

Do sul começamos a nos dirigir ao norte do país. Quando passávamos pela região central da Guatemala, demos um tempo a cultura e religião e fomos contemplar a natureza. Na Reserva Biotopo del Quetzal fomos mais uma vez em busca desta linda ave, o Quetzal, que inclusive dá o nome a moeda local e é a ave símbolo do país, mas não a vimos novamente. E logo mais ao norte, fomos ver qual era desse tal de Semuc Champey, que nosso livro falava tão bem. O caminho para se chegar é literalmente uma ribanceira, e nós o fizemos com chuva e lama. Mas mesmo que tivéssemos que tê-lo feito a pé, teria valido a pena.

Vai ser um pouco difícil de explicar em palavras… Semuc Champey está situado num vale entre duas montanhas próximo a cidade Lanquín. Ali corre um rio grande, chamado Cahabón e por incrível que é essa natureza, por cerca de 300 metros ela o escondeu numa espécie de túnel. E nesses 300 metros onde o rio Cahabón some, diversas piscinas de pedra caliça cor verde turquesa se formaram e elas são alimentadas por afluentes do Rio Cahabón, procedentes de um lado da montanha. Essas águas vindas da montanha irão encontrar o rio principal somente após uma queda d’água 300 metros rio ou piscinas abaixo. Indescritível, espetacular!!! Nós subimos a montanha de onde nascem os afluentes para ter uma vista panorâmica do lugar e depois fomos banhar-nos nas piscinas, que possuem uma água altamente cristalina. Onde o rio Cahabón adentra no túnel está delimitado por segurança, pois cair ali, já era.

E a formação disso? Quimicamente falando é fácil explicar: as águas de Semuc Champey são ricas em bicarbonato de cálcio e quando esquentam produzem carbonato de cálcio cujos cristais se aderem aos microrganismos da água e se precipitam e assim vão consolidando os terraços onde estão as piscinas. OK, mas e fisicamente falando. Quem explica?

Nos acontecimentos desse diário parece que só tivemos experiências maravilhosas. Em parte está correto. Os lugares mencionados são mesmo espetaculares, mesmo que os caminhos entre eles nem sempre são tão bons. Nós pegamos estradas que dava vontade de chorar e tivemos duas crises sérias de dor de barriga, devido a má escolha de onde comer. Restaurante de estrada é igual posto de combustível, os bons são aqueles que tem movimento, só assim vai haver giro nos produtos e a comida vai ser sempre fresca! Nossos lugares preferidos de almoçar são os mercados municipais. Ali aprende-se sobre a cultura e a comida é boa e barata.

E na Guatemala ainda nos faltava um lugar para visitar. É um Parque Nacional com uma floresta tropical muito bem preservada e que quando se caminha por suas ruelas, encontra-se algumas ruínas maias. Mas que ruínas!!! São as ruínas maias de Tikal, que por sua beleza e magnitude, nós as comparadas com as Pirâmides do Egito e Machu Picchu, no Peru.

Tikal foi um importante centro político, econômico e militar pré-colombiano e hoje é um dos maiores complexos arqueológicos deixados pela civilização maia. As primeiras construções na região iniciaram-se ainda no século 6 a.C., mas o que ainda se vê foi construído no período clássico, entre o século 3 e 9 d.C. Estudiosos acreditam que Tikal, que na língua maia significa “lugar de vozes” ou “lugar de línguas”, teria alcançado uma população de 200.000 habitantes. O parque possui centenas de ruínas, porém apenas um pequeno percentual disso foi escavado e estudado, mesmo que por décadas de trabalho.

Nós caminhamos quase um dia e meio e não conseguimos ver tudo e a cada ruína que conhecíamos, ficávamos mais impressionados. Visitamos as seis grandes pirâmides, tendo a maior quase 70 metros de altura, palácios, cidadelas, pirâmides menores, estelas, campos para jogo de pelota e tudo com muita riqueza de detalhes. Alguns lugares, claro, foram restaurados, mas dá para dar uma chance, pois já se passaram mais de um milênio de sua construção.

Fechamos com chave de ouro nossa passagem pela Guatemala subindo na maior pirâmide do complexo arqueológico Tikal. Víamos dali somente o topo das grandes pirâmides, que são maiores que a floresta e que ficaram iluminadas pela melhor luz do dia, a do pôr-do-sol.

Itinerário percorrido

Itinerário Guatemala

Fotos

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