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Diário de Bordo 53 – Áustria, República Checa e Alemanha

(23/04/2017 a 10/05/2017)

 

A Áustria não fazia parte de nossos planos para esta viagem. Nossa ideia era rodarmos somente no Leste Europeu, pois já havíamos conhecido um pouco da Europa Ocidental em outras oportunidades. Mas um bom motivo nos levou para este país, mais precisamente a Viena: visitarmos um casal de amigos que conhecemos em nossa primeira volta ao mundo de carro e que não víamos há dez anos.

Werner e Delphine, hoje com duas filhas, moram em Hagenbrunn, que fica nas imediações da capital austríaca. Trocamos alguns e-mails para combinar o encontro e o último que recebemos de Werner, que sempre nos dava um motivo a mais para nos convencer a visita-los, fora ainda mais provocativo. Nele havia um convite para participarmos juntos de uma peregrinação muito tradicional que acontece no sul do país – uma caminhada de 52 quilômetros. Nós adoramos caminhar, mas todos esses quilômetros a pé, tendo que subir e descer em torno de dois mil metros em altitude não é para qualquer joelho. E os nossos não estavam tão preparados assim depois do inverno. Mas no final, topamos o desafio e essa decisão passou a nos afligir um pouco até o dia da caminhada. Será que aguentaríamos?

Vindos da Eslováquia, entramos na Áustria e fomos pelas estradinhas de interior até Hagenbrunn. Fomos pelas estradas vicinais para não precisarmos pagar pedágios, que neste país são caros. Além de que dirigir em uma autoestrada, em nossa opinião, é como ver o mundo pela televisão, quando as cenas externas apenas passam diante de nossos olhos. Nelas temos que dirigir em velocidade alta e é proibido parar, impossibilitando qualquer contemplação ou fotografia da paisagem ao redor. Além de que mesmo em movimento, nossa visibilidade do entorno é reduzida devido aos trilhos de guarda ou aos muros antirruídos nos arredores das cidades.

Passamos 10 dias na companhia de Werner, Delphine, Louise e Paula. O casal foi muito prestativo e as crianças, assim que adquiriram confiança com nossa presença, se divertiram a beça. Durante o dia, como eles estavam ocupados com seus trabalhos e afazeres domésticos, alternamos entre resolver nossas pendencias de dia-a-dia e carro e conhecer Viena. Toda vez que fomos a cidade, caminhamos muito. Deixávamos nos levar pelo alto fluxo de turistas e assim íamos passando pelos seus principais atrativos. Viena, diga-se de passagem, é lindíssima. Visitamos a Catedral Saint Stephen, o Palácio Hofburg e o Jardim Burg, onde encontra-se a estátua de Mozart; passamos pela Praça Michael, o ponto de partida de carruagens que levam visitantes ao redor da cidade; almoçamos comida típica no Naschmarkt; andamos pelo Parlamento, pela Prefeitura e pela Biblioteca Nacional; tomamos um delicioso café da tarde no Café Central de Viena, que segundo nossos amigos, sem essa oportunidade, nossa visita a cidade não teria sido completa; e assim fomos treinando nossas pernas para a longa caminhada que teríamos pela frente. Entre tantos pontos turísticos, parávamos uma vez ou outra para descansar e apreciar o movimento. Essas paradas aconteciam, geralmente, quando encontrávamos músicos de rua, como na Praça Maria Teresa, onde ficamos ouvindo um ótimo violinista. O mais interessante foi escutar no Naschmarkt uma bandinha que tocava e cantava músicas típicas austríacas, mas de músicos indianos. Pode? Esse é o resultado da globalização que é mais do que evidente em Viena, uma cidade que abriga, hoje, pessoas do mundo inteiro.

Hundertwasser é um arquiteto local conhecido como o Gaudi de Viena. A Casa Hundertwasser é um prédio de poucos andares que conhecemos dele e que possui uma fachada muito exótica. Ela parece ter vida, pelas suas linhas tortas e assimétricas. Muito interessante. Num final de tarde, para vermos o pôr do sol de um lugar diferenciado, subimos na Wiener Riesenrad, ou a Roda Gigante de Viena em português, que é um dos principais símbolos da cidade. Construída em 1897 foi uma das primeiras rodas gigantes do mundo que com uma altura de 64,75m foi uma das mais altas de 1920 até 1985. Ao invés de cadeiras, há cabines fechadas onde cabem mais de dez pessoas em cada. Para nossa surpresa, uma das cabines dessa roda gigante era destinada para jantares românticos a dois. A cada volta que a roda dava, ela parava para que os garçons entrassem naquela cabine para servir um novo prato ou bebida. Era bem diferente e romântico, mas nada privativo para o casal que junto com a linda vista da cidade virou uma atração turística.

Final da tarde voltávamos para Hagenbrunn e nossas noites terminavam com saborosas jantas, regadas a bons vinhos e de sobremesa muito chocolate austríaco. Porém numa das noites, assim como o casal da roda gigante, também tivemos um jantar de gala. Já pensou em jantar no Museu de História Natural de Viena rodeado por salas com animais empalhados do mundo inteiro? Parece cena do filme Uma Noite no Museu, mas é uma experiência possível em Viena e nos foi presenteada pelos nossos amigos. O jantar (Festival de Aspargos) nos foi servido debaixo do domo principal daquele elegante prédio. Nessa noite tivemos uma verdadeira aula. Ainda antes do jantar percorremos o museu e apreciamos os animais empalhados que foram trazidos dos quatro cantos do mundo por expedições patrocinadas pelo império, que tinha o intuito de criar uma extensa coleção de amostras vegetais e animais. Haviam animais ali que hoje já estão extintos. E para se ter uma ideia do tamanho do acervo do museu, fora o que está exposto, há mais de três milhões de itens guardados em seu armazém privado. Foi nesse dia que aprendemos como diferenciar uma caveira de um homem da de uma mulher. Os homens, seja dos dias atuais ou de até dez mil anos atrás, possuem uma sobre saliência no supercilio. Um detalhe que o crânio das mulheres não possui. Do telhado do museu pudemos apreciar a vista da cidade a noite, de frente para a praça onde antes da Segunda Guerra Mundial Hitler fez um discurso público que reuniu milhares de pessoas. Ali, nosso guia nos contou diversas histórias da cidade e as duas que lembramos, os protagonistas se suicidaram. O primeiro foi um escultor contratado pelo rei para fazer uma estatua com dois cavalos. Ao termino da obra o rei falou que estava bom, apenas bom, o que entristeceu o escultor a ponto dele tirar sua própria vida. O segundo fato ocorreu com um arquiteto, que projetou um alojamento para um exercito, no qual, esqueceu os banheiros. Já pensou um exercito inteiro sem um banheiro sequer? A história virou piada e o arquiteto também se suicidou.

Chegou o dia tão esperado, ou não, no qual viajamos 350 quilômetros até Klagenfurt no sul do país para fazermos parte do “Vierbergelauf”, “a corrida das quatro montanhas”, na qual caminhamos por 17 horas numa extensão de mais de 56 quilômetros, subindo e descendo quatro morros. Para ler e ver as fotos desta aventura que ocorreu debaixo de muita chuva e frio, CLIQUE AQUI.

Para descansar da epopeia no sul da Áustria, fomos para Lackenhof passar o fim de semana, onde a família do Werner possui uma casa de campo. A região localiza-se no centro norte do país. É montanhosa e de fazendas, com paisagens típicas dos Alpes austríacos, mas ao mesmo tempo que choveu muito lá no sul, quando caminhávamos, ali nevou. Tanto que o nosso divertimento naqueles dias foi descer as montanhas nevadas com “BOB’s”, uns carrinhos de plástico com volante, especiais para crianças brincarem na neve. Adrenalina pura, pois não é que esse trem embala? Também experimentamos os “snowshoes”, ou sapatos para neve, que mais se parecem com raquetes adaptadas aos pés para que não nos enterremos na neve profunda ao caminhar.

Em nosso retorno a Viena acompanhamos o Rio Danúbio ao passar na região de Wachau, uma das partes mais bonitas do rio na Áustria. Castelos, cidades medievais, plantações de frutas e vinhedos foram algumas das suas atrações. Em Viena, Werner, Delphine, as meninas e nós fomos jantar na casa de mais um casal de amigos austríacos que havíamos conhecido na primeira viagem de volta ao mundo, Martin e Angelika que também já possuíam duas filhas, chamadas Catherine e Elizabeth. Esse encontro foi uma espécie de despedida da Áustria, já que no outro dia iríamos partir rumo a República Checa.

Os passeios que fizemos na Republica Checa foram lindos, mas a cerveja foi o que mais nos realizou, afinal de contas, a cerveja checa é uma das melhores do mundo. Estivemos no país por 10 dias. Primeiro fomos a Cesky Krumlov, uma cidade que é um charme a parte. Um diferencial na arquitetura desta cidade, bem como de outras desse país é que ao invés das construções possuírem tantos detalhes, estes são pintados, inclusive as pedras. A cidade se formou onde o Rio Vltava faz uma curva bem fechada e isso nos dava a impressão dela ficar numa ilha, tendo apenas uma pequena passagem sem ponte.

Mas se estávamos esperando encontrar o povo checo na Republica Checa, fomos para o lugar errado. Essa foi uma percepção que tivemos em grande parte do país, que investiu fortemente em turismo nos últimos anos. Os orientais estão lá em massa, tanto que em Cesky Krumlov algumas propagandas de restaurantes estavam escritas em chinês, japonês ou coreano.

Ainda bem que para tomar cerveja o turismo intenso não atrapalhava. Nós experimentamos Gambrinus, Budweiser Budvar, Urquell, Kozel dentre muitas outras e nossa opinião é que sendo cerveja checa, é difícil errar. Em Cesky Budejovice visitamos a fábrica da Budweiser Budvar, uma cerveja checa produzida desde 1265. No Brasil há Budweiser nas prateleiras dos supermercados, mas essa, curiosamente, não é a Budweiser checa, e sim a americana, do atual grupo AMBEV. O nome Budweiser deriva do nome da própria cidade checa onde é produzida, Cesky Budejovice e as duas empresas de mesmo nome o disputam judicialmente há muitos anos. E quanto a cerveja? Nós ficamos com a checa, sem sombra de dúvidas. No percurso que fizemos dentro da fabrica da Budweiser Budvar, vimos rapidamente seu processo de produção, etapa por etapa, até a mais importante, a degustação.

Praga é uma das capitais mais bonitas da Europa em nossa opinião. Suas ruas, pontes, passarelas são bastante concorridas pelos turistas, mas isso tem um porque: sua situação geográfica e a sua arquitetura de castelos, igrejas e cúpulas espalhadas por todos os lados mostram que essa cidade foi muito rica no passado e claro que hoje, todos querem conhece-la. Caminhamos por mais de 15 quilômetros, quebrando o pescoço para apreciar as pinturas das casas e prédios. Vimos muitos artistas de rua e encontramos muitos brasileiros. A Ponte de Charles é um dos marcos da cidade por suas belas esculturas, mas é irônico que tanta gente caminha nela para vê-la, que ela mal aparecia. O entardecer nós vimos de um dos lugares mais bonitos da cidade, de onde entendíamos o porque de ser conhecida como a cidade das cem cúpulas. Víamos também dali, cinco pontes que cruzavam o Rio Vltava. E como não podia deixar de ser, terminamos o dia num Bier Garten, com uma cerveja (de cada vez!) na mão e um pão com salsicha e mostarda.

Desde que começamos esta viagem, tivemos o apoio da empresa Pneus Atturo quanto a pneus para o Lobo. Esta é uma marca americana focada em alta performance e fora de estrada. O pneu que nós usamos na maior parte do tempo foi o Trail Blade M/T e este teve um ótimo desempenho, principalmente em estradas ruins que passamos com frequência. Mas mesmo que eles sejam distribuídos em 24 países, a logística para recebermos um novo jogo na Europa ficou impossibilitada, então tivemos que comprar outros. E para isso, nada melhor que a Alemanha, pela grande variedade de ofertas e bons preços.

De Praga foram apenas 150 km para Dresden, Alemanha, que na Segunda Guerra Mundial fora intensamente bombardeada no ano de 1945. Talvez uma das cidades mais destruídas na guerra. Hoje, foi reconstruída e está lindíssima, tendo o Rio Elba cruzando seu centro. Tornou-se um importante centro cultural, político e econômico do país.

Com pneus novos em folha, seguimos viagem rumo a Polônia, um país que estávamos muito ansiosos por conhecer.

 

Veja mais sobre esse trajeto nos POST a seguir:

 

Itinerário percorrido

Itinerário Áustria, Rep. Checa e Alemanha

Fotos

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