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O inferno de Auschwitz

Educacional

Os campos de concentração de Auschwitz são a prova real do nível de brutalidade que o ser humano é capaz de tratar seu semelhante. Hoje, esse complexo de matança industrializada tornou-se um patrimônio da UNESCO, o que demoramos para aceitar, pois o local não se trata de uma beleza natural ou arquitetônica. Mas ao longo de nossa visita a estrutura criada pelos alemães para matar judeus, poloneses, soviéticos e ciganos, entendemos o propósito da UNESCO: alertar, ensinar e difundir ao mundo essa horripilante história, afim de que nós, seres humanos, não venhamos a cometer esse erro novamente.

Os campos de concentração de Auschwitz (Auschwitz era o nome alemão dado a Oświęcim) situam-se na atual Polônia, mas antes faziam parte do território conquistado pela Alemanha Nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Tratam-se de construções muito bem feitas e planejadas, que serviram, entre 1941 e 1945, para aprisionar, torturar e matar principalmente judeus, povo o qual nem era inimigo de guerra da Alemanha. A alta cúpula nazista tinha o propósito de dar a “solução final para o problema judeu”, ou melhor, extermina-los como um povo.

Como o número desses prisioneiros era muito grande, Auschwitz I não foi suficiente para acolhe-los, sendo necessária a construção do Campo II – Birkenau, do Campo III – Monowitz e mais 45 campos menores nas imediações. Os prisioneiros chegavam de trem de toda a Europa conquistada e como os campos possuíam até estação ferroviária, essa logística era altamente eficiente, mas desumana para os passageiros que viajavam amontoados e trancafiados por dias dentro de vagões de carga, praticamente sem água e comida.

Em Auschwitz II, os recém chegados eram selecionados por médicos da SS (Schutzstaffel, organização de proteção nazista) e separados em segundos entre os aptos para o trabalho, os quais eram escravizados no campo e os não aptos, que eram levados diretamente para as câmaras de gás. Faziam parte desse segundo grupo, que representava em torno de ¾ do total, mulheres, crianças e idosos, além dos que não estavam aptos para o trabalho pesado.

De parte dos alemães da SS, a mentira rolava solta. Os que caminhavam direto para a morte, recebiam as boas vindas dos oficiais e eram ditos que estavam indo para um chuveiro comunitário para que pudessem se banhar depois da exaustiva viagem. Ao tirarem suas roupas, os alemães tinham a audácia de lhes alertar para não esquecerem os números de seus cabides, para que pudessem encontra-los após o banho, quando ganhariam também um prato de sopa e chá. As câmaras possuíam chuveiros sim, mas eram só de aparência, pois quando suas portas se fechavam, pastilhas a base de cianureto (Zyklon-B) eram despejadas por pequenas aberturas no teto e a morte daquelas pessoas dava-se em questão de 15 a 20 minutos. Simples assim e com a eficiência de uma indústria, os corpos seguiam para os crematórios, mas não antes de terem suas bocas inspecionadas para ver se tinham dentes de ouro. Se tivessem, eram retirados e derretidos e o ouro enviado aos bancos alemães. Dos outros pertences pessoais dos prisioneiros, o que era valioso era classificado e estocado em uma área chamada Canadá (este país representava riqueza para os oficiais da SS). Os cabelos dos mortos também eram cortados e utilizados na fabricação de tapetes e uniformes. Nós vimos pilhas enormes de roupas, sapatos, óculos e utensílios de cozinha, coisas de pequeno valor que não interessavam aos oficiais e que hoje fazem parte do acervo do museu.

Imagine que nos campos de Auschwitz, durante esses anos, 1,1 milhão de pessoas morreram e a maioria nas câmaras de gás. Os que não morreram gaseificados, morreram do trabalho forçado, de doenças ou até de homicídios pontuais por desobediência. Suicídios também era muito comuns. Especialmente entre os meses de abril e julho de 1944, 475 mil judeus húngaros foram deportados para Auschwitz a uma taxa de 12 mil por dia. Como o montante de gente excedeu a capacidade de cremação nos fornos, a SS teve que recorrer a queima de corpos ao ar livre.

Os presos que haviam sido selecionados para trabalhar, não tinham uma realidade menos brutal. Para dormir, amontoavam-se em pequenas camas nos alojamentos dos campos. Não havia higiene alguma. O dia começava de madrugada, quando eles tinham que se apresentar aos oficiais. Comiam muito pouco e se deslocavam a pé para fábricas que se instalaram nas redondezas para explorar o trabalho escravo e após exaustivas horas de labor, voltavam ao campo para se apresentarem novamente. Todos tinham que se enfileirar, inclusive os que eventualmente haviam morrido no trabalho (algo que acontecia todos os dias) e os colegas dos mortos eram obrigados a carrega-los e mantê-los em pé durante as inspeções. Os mal tratos eram tamanhos, que a forma de identificação teve que ser alterada de foto para números tatuados nos antebraços, pois os prisioneiros mudavam de aparência em questão de dias, ficando irreconhecíveis.

O bloco 11 do Auschwitz I era considerado a prisão dentro da prisão. Ali encontravam-se as salas de tortura para punir os que quebrassem as regras, tentassem fugir ou eram suspeitos de alguma conspiração. A fuga de algum preso acarretaria na execução pública de 10 familiares ou companheiros de alojamento do fugitivo, uma estratégia que a SS usava para colocar pavor em todos. Haviam celas chamadas verticais, de 1,5 m2, onde quatro pessoas eram trancadas. Devido ao minúsculo espaço, não havia outra solução para eles, a não ser de passarem a noite em pé, para noutro dia cedo, seguirem direto para o trabalho. Haviam as celas da fome, onde prisioneiros não recebiam água ou comida e ficavam trancados até morrerem. E as celas escuras, onde sufocavam pela falta de oxigênio, dentre tantas outras formas cruéis que até então, para nós, eram inimagináveis.

Foi em Auschwitz que se sucederam as famosas pesquisas médicas, utilizando cobaias humanas. Josef Mengele, médico conhecido como o “anjo da morte” trabalhou ali, juntamente com outros médicos alemães como Carl Clauberg e Kurt Heissmeier. Eles faziam as mais diversas experiências médicas e as testavam nos prisioneiros.

Em 27 de janeiro de 1945, enfim, Auschwitz foi libertado pelo Exército de Frente Ucraniana do Exército Vermelho. Apenas 7.500 prisioneiros foram encontrados vivos, pois os alemães previram a chegada dos aliados. Anteciparam-se e, como uma forma de queimar arquivos que pudessem ser usados contra eles próprios, procuraram matar o maior número de prisioneiros possível, além de destruírem as câmaras de gás. Como não conseguiram matar todos, 60 mil presos ainda tiveram que marchar até outros campos, para que de lá fossem transportados em trens para a Alemanha. Nesse processo morreu muita gente de exaustão.

A tentativa de queima de arquivo não foi suficiente, pois evidências do genocídio ficaram por todos os lados. Depois da guerra, muitos oficiais da SS que atuaram nos campos foram sentenciados a morte por crimes contra a humanidade. Quanto aos 7.500 prisioneiros encontrados vivos pelos soviéticos, estavam tão debilitados, só em pele e osso, que poucos sobreviveram para testemunhar.

Nós ouvimos histórias de nosso guia que realmente mexeram conosco. Ele nos contou que diversos visitantes que vem a Auschwitz possuíam um parente que fora aprisionado e que além disso, as vezes, conduz grupos de judeus, os quais não conseguem conter suas lágrimas quando veem o cenário do holocausto. É uma história realmente triste, mas que, segundo ele, deve ser difundida, pois só assim será possível evitar outra tragédia dessa magnitude. Na visita lemos essa frase de George Santayana: “Aqueles que não lembram do passado estão condenados a repeti-lo.”

Um filme que retrata o que os judeus sofreram na segunda guerra mundial é “A Lista de Schindler”, cuja história é baseada em fatos reais sucedidos a 70 quilômetros ao leste de Auschwitz, na cidade de Cracóvia, na Polônia.

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