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Diário de Bordo 49 – Albânia

(24/02/2017 a 02/03/2017)

No Noroeste da Grécia situava-se um país que não fazíamos a mínima ideia de como ele era — a Albânia. E foi para lá que nos dirigimos.

A Albânia é um país que, assim como grande parte dos países do leste europeu, por situar-se praticamente na divisa entre o Ocidente e o Oriente, sofreu sucessivas invasões de diversos povos. Os otomanos, porem, dominaram a região por mais de 400 anos (até o começo do século 20) e foram os que mais influenciaram a cultura do país. Deixaram como legado a religião muçulmana e a arquitetura otomana.

Após a Segunda Guerra Mundial o país viveu a chamada “Era Comunista” sobre o comando do ditador Enver Hoxha, que depois de romper relações com a Iugoslávia, URSS e China, deixou o país isolado internacionalmente por dezenas de anos. Só recentemente que a Albânia está sendo redescoberta e já se tornou uma das grandes promessas de turismo no leste europeu.

Nós entramos pelo Vale Drina, um vale grande e fértil situado entre os Alpes Dináricos. Parecia que dirigíamos no passado, pois a vida ali havia dado uma parada no tempo. Cruzamos por diversas vilas de pedra que se assentaram nas encostas das montanhas, deixando assim a planície para a atividade agrícola. Os pastores de ovelhas com suas bengalas de madeira tradicionais viravam pequenos pontinhos no meio daquela imensidão.

Nosso primeiro destino foi Gjirokaster e as impressões no caminho até lá foram ótimas. Os albaneses nos pareceram muito simpáticos e prestativos. Em nenhum momento tentaram tirar vantagem por sermos turistas. Recebíamos sempre uma atenção especial. De acordo com nossa experiência, essa é uma das principais qualidades dos países como esse, que ainda não foram invadidos pelo turismo em massa. Enquanto que em países mais turísticos as pessoas acabam priorizando o dim-dim dos turistas, nos menos turísticos elas querem apenas deixar uma boa impressão.

Gjirokaster é um exemplo de cidade com arquitetura otomana, mas possui estilo único. As casas antigas dos fazendeiros ricos que ali moravam são muito grandes e se exibem em toda a encosta da montanha. Por serem tão diferentes, são a atração da cidade. Mas claro, muitas já estão em ruínas e somente algumas foram restauradas. Foram construídas basicamente com pedras e possuem até cinco andares. O térreo era geralmente destinado para cisterna e estábulos, enquanto que os andares superiores continham os quartos de hóspedes e da família. Visitamos a casa Zekate que foi restaurada pelos seus proprietários e hoje é um museu. Nós ficamos impressionados com a riqueza de seu interior, que possuía muitos detalhes em madeira, pinturas, nichos e cortinas rendadas.

Outro exemplo de arquitetura otomana que vimos foi em Berat, que também é conhecida como a “cidade das mil janelas”, devido a coleção de casas em estilo otomano, cheias de janelas, aglomeradas na encosta da montanha. A parte antiga dessa cidade é composta de três partes: Kalaja, um castelo no topo da montanha, que já foi ocupado por bizantinos, búlgaros, sérvios e otomanos; Mangalem na base da montanha; e Gorica, quarteirão localizado no outro lado do rio Osum. Os dois bairros residenciais possuem ruelas entre as casas e o divertido era andar pelo meio delas, para ver tudo em diferentes perspectivas. No castelo a principal atração foi a vista da cidade com seu belo entorno e com o Monte Tomorri ao fundo.

Fora do centro histórico o que nos chamou a atenção foram os bares (como chamam seus cafés) movimentados, um do lado do outro na extensão do calçadão. Nos pareceu que os albaneses frequentam muito esses locais, para socializarem-se ou simplesmente para esperar a vida passar. Sentar num desses bares era uma ótima forma para nós também relaxarmos e sentirmos a atmosfera local.

Além da arquitetura, a natureza da Albânia também é surpreendente, a exemplo do Olho Azul, que é uma nascente de água no meio da mata. A água cristalina surge de um buraco de profundidade desconhecida e se transforma instantaneamente num rio. Devido ao terreno cárstico, a água surge em uma coloração azul hipnotizante, que contrasta com o verde vivo da vegetação ao redor. Realmente um lugar único.

As praias não são tão bonitas como as da Grécia, mas não ficam muito para trás. O que denigre um pouco em certos lugares é a interferência humana, que desenvolveu-se sem planejamento e infraestrutura. Um dos pontos mais bonitos que estivemos foi quando dirigimos pelo Passe Llogora. Nos distanciamos apenas 3,3km da beira mar e nessa curta distancia alcançamos 1.030m de altitude, de onde a vista era linda. Dava para imaginar a Itália, que estava a apenas 85km ao Oeste, do outro lado do Mar Adriático.

Um de nossos objetivos na Albânia era de visitarmos a vila Theth nas montanhas do norte. Estava na hora de esticarmos as pernas e fazermos uma caminhada depois do longo inverno que passamos e essa região oferecia ótimas oportunidades para isso. Mas quem disse que conseguimos? A 19km de Theth, numa altitude de 1.428m, tivemos que fazer a volta e voltar, pois a neve profunda na estrada nos impediu de seguirmos adiante. Era apenas final de março, ainda muito cedo para explorarmos as montanhas.

Shkodra foi nosso último destino no país. Essa é uma cidade interessante, que está nas margens de um grande lago chamado Shkoder e este já faz divisa com o país vizinho Montenegro. Aproveitamos a infraestrutura da cidade para resolvermos algumas pendências, mas o lago deixamos para conhecer no lado montenegrino e será relatado no próximo diário.

 

PS 1 – O ditador Enver Hoxha, durante os seus mais de quarenta anos de liderança na República Popular Socialista da Albânia (1945-1990), temendo uma invasão externa, realizou o programa de “bunkerização”. Centenas de milhares de casamatas (bunker, em inglês) foram construídas no país, em todos os lugares possíveis, desde praias, montanhas, plantações, vilas, cidades, parquinhos, hotéis, cemitérios e etc. Elas são um pequeno domo pré-fabricado de concreto assentado sobre um cilindro de tamanho suficiente para uma ou duas pessoas ficarem em seu interior. Essas instalações, que mais parecem cogumelos, são fortificadas e à prova de projéteis, ou seja, são proteções para o povo numa possível guerra. Apesar do grande investimento militar nesse programa, que usou quase todos os recursos do país, as casamatas nunca foram utilizadas para o seu fim e hoje viraram um problema, pois sua destruição ou remoção é muito cara. Nós não sabemos o porque, mas não tiramos nenhuma foto das casamatas que vimos.

PS 2 – Numa parada para encher nossa caixa d’água numa bica natural, não percebemos que sobre ela havia uma espécie de telhado de concreto e quando demos a ré para aproximamos o carro da fonte, um dos ferros aparentes enroscou na lateral do Lobo. A estrutura de composite do motorhome que é forte a beça não sofreu avaria, apenas a tinta arranhou, mas a janela traseira quebrou.

 

Itinerário percorrido

Itinerário Albânia

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