(24/02/2017 a 02/03/2017)
No Noroeste da Grécia situava-se um país que não fazíamos a mínima ideia de como ele era — a Albânia. E foi para lá que nos dirigimos.
A Albânia é um país que, assim como grande parte dos países do leste europeu, por situar-se praticamente na divisa entre o Ocidente e o Oriente, sofreu sucessivas invasões de diversos povos. Os otomanos, porem, dominaram a região por mais de 400 anos (até o começo do século 20) e foram os que mais influenciaram a cultura do país. Deixaram como legado a religião muçulmana e a arquitetura otomana.
Após a Segunda Guerra Mundial o país viveu a chamada “Era Comunista” sobre o comando do ditador Enver Hoxha, que depois de romper relações com a Iugoslávia, URSS e China, deixou o país isolado internacionalmente por dezenas de anos. Só recentemente que a Albânia está sendo redescoberta e já se tornou uma das grandes promessas de turismo no leste europeu.
Nós entramos pelo Vale Drina, um vale grande e fértil situado entre os Alpes Dináricos. Parecia que dirigíamos no passado, pois a vida ali havia dado uma parada no tempo. Cruzamos por diversas vilas de pedra que se assentaram nas encostas das montanhas, deixando assim a planície para a atividade agrícola. Os pastores de ovelhas com suas bengalas de madeira tradicionais viravam pequenos pontinhos no meio daquela imensidão.
Nosso primeiro destino foi Gjirokaster e as impressões no caminho até lá foram ótimas. Os albaneses nos pareceram muito simpáticos e prestativos. Em nenhum momento tentaram tirar vantagem por sermos turistas. Recebíamos sempre uma atenção especial. De acordo com nossa experiência, essa é uma das principais qualidades dos países como esse, que ainda não foram invadidos pelo turismo em massa. Enquanto que em países mais turísticos as pessoas acabam priorizando o dim-dim dos turistas, nos menos turísticos elas querem apenas deixar uma boa impressão.
Gjirokaster é um exemplo de cidade com arquitetura otomana, mas possui estilo único. As casas antigas dos fazendeiros ricos que ali moravam são muito grandes e se exibem em toda a encosta da montanha. Por serem tão diferentes, são a atração da cidade. Mas claro, muitas já estão em ruínas e somente algumas foram restauradas. Foram construídas basicamente com pedras e possuem até cinco andares. O térreo era geralmente destinado para cisterna e estábulos, enquanto que os andares superiores continham os quartos de hóspedes e da família. Visitamos a casa Zekate que foi restaurada pelos seus proprietários e hoje é um museu. Nós ficamos impressionados com a riqueza de seu interior, que possuía muitos detalhes em madeira, pinturas, nichos e cortinas rendadas.
Outro exemplo de arquitetura otomana que vimos foi em Berat, que também é conhecida como a “cidade das mil janelas”, devido a coleção de casas em estilo otomano, cheias de janelas, aglomeradas na encosta da montanha. A parte antiga dessa cidade é composta de três partes: Kalaja, um castelo no topo da montanha, que já foi ocupado por bizantinos, búlgaros, sérvios e otomanos; Mangalem na base da montanha; e Gorica, quarteirão localizado no outro lado do rio Osum. Os dois bairros residenciais possuem ruelas entre as casas e o divertido era andar pelo meio delas, para ver tudo em diferentes perspectivas. No castelo a principal atração foi a vista da cidade com seu belo entorno e com o Monte Tomorri ao fundo.
Fora do centro histórico o que nos chamou a atenção foram os bares (como chamam seus cafés) movimentados, um do lado do outro na extensão do calçadão. Nos pareceu que os albaneses frequentam muito esses locais, para socializarem-se ou simplesmente para esperar a vida passar. Sentar num desses bares era uma ótima forma para nós também relaxarmos e sentirmos a atmosfera local.
Além da arquitetura, a natureza da Albânia também é surpreendente, a exemplo do Olho Azul, que é uma nascente de água no meio da mata. A água cristalina surge de um buraco de profundidade desconhecida e se transforma instantaneamente num rio. Devido ao terreno cárstico, a água surge em uma coloração azul hipnotizante, que contrasta com o verde vivo da vegetação ao redor. Realmente um lugar único.
As praias não são tão bonitas como as da Grécia, mas não ficam muito para trás. O que denigre um pouco em certos lugares é a interferência humana, que desenvolveu-se sem planejamento e infraestrutura. Um dos pontos mais bonitos que estivemos foi quando dirigimos pelo Passe Llogora. Nos distanciamos apenas 3,3km da beira mar e nessa curta distancia alcançamos 1.030m de altitude, de onde a vista era linda. Dava para imaginar a Itália, que estava a apenas 85km ao Oeste, do outro lado do Mar Adriático.
Um de nossos objetivos na Albânia era de visitarmos a vila Theth nas montanhas do norte. Estava na hora de esticarmos as pernas e fazermos uma caminhada depois do longo inverno que passamos e essa região oferecia ótimas oportunidades para isso. Mas quem disse que conseguimos? A 19km de Theth, numa altitude de 1.428m, tivemos que fazer a volta e voltar, pois a neve profunda na estrada nos impediu de seguirmos adiante. Era apenas final de março, ainda muito cedo para explorarmos as montanhas.
Shkodra foi nosso último destino no país. Essa é uma cidade interessante, que está nas margens de um grande lago chamado Shkoder e este já faz divisa com o país vizinho Montenegro. Aproveitamos a infraestrutura da cidade para resolvermos algumas pendências, mas o lago deixamos para conhecer no lado montenegrino e será relatado no próximo diário.
PS 1 – O ditador Enver Hoxha, durante os seus mais de quarenta anos de liderança na República Popular Socialista da Albânia (1945-1990), temendo uma invasão externa, realizou o programa de “bunkerização”. Centenas de milhares de casamatas (bunker, em inglês) foram construídas no país, em todos os lugares possíveis, desde praias, montanhas, plantações, vilas, cidades, parquinhos, hotéis, cemitérios e etc. Elas são um pequeno domo pré-fabricado de concreto assentado sobre um cilindro de tamanho suficiente para uma ou duas pessoas ficarem em seu interior. Essas instalações, que mais parecem cogumelos, são fortificadas e à prova de projéteis, ou seja, são proteções para o povo numa possível guerra. Apesar do grande investimento militar nesse programa, que usou quase todos os recursos do país, as casamatas nunca foram utilizadas para o seu fim e hoje viraram um problema, pois sua destruição ou remoção é muito cara. Nós não sabemos o porque, mas não tiramos nenhuma foto das casamatas que vimos.
PS 2 – Numa parada para encher nossa caixa d’água numa bica natural, não percebemos que sobre ela havia uma espécie de telhado de concreto e quando demos a ré para aproximamos o carro da fonte, um dos ferros aparentes enroscou na lateral do Lobo. A estrutura de composite do motorhome que é forte a beça não sofreu avaria, apenas a tinta arranhou, mas a janela traseira quebrou.
Itinerário percorrido
Fotos
ola, gostaria de saber se final de marco as estradas ainda tem muita neve na albanis. Quero ir de Pristina(kosovo) para Tirana. Obrigada
Raquel Teixeira
Impressionante como ainda temos cidades redutos, com um ritmo diário diferente, guardando segredos de outras épocas. Esse post passa uma tranquilidade... Viajei no tempo. Parabéns e boa viagem!
Patrícia de Oliveira